Aos 37 anos, Novak Djokovic é uma autêntica força da natureza. Chegou aos 24 Grand Slams em 2023, tendo “falhado” apenas Wimbledon numa final memorável frente a Carlos Alcaraz. Tem uma forma física invejável, mostrando uma longevidade ao alcance de poucos desportistas. Prova disso foi o que fez em Roland Garros nos últimos dias, já depois da maratona com Lorenzo Musetti. Frente a Francisco Cerundolo, o sérvio lesionou-se, conseguiu gerir a quebra física e venceu o argentino ao cabo de quatro horas e meia.

Ele só é humano para mostrar o que é um extraterrestre: Djokovic aguenta (lesionado) novo jogo de 4h30 e está nos quartos de Roland Garros

Porém, a pior das notícias chegou no decorrer do dia de terça-feira: Djokovic lesionou-se no joelho direito e foi obrigado a desistir de Roland Garros antes de jogar a partida dos quartos de final, frente a Casper Ruud. E, na origem desta lesão, poderá estar… o piso em terra batida de Roland Garros, que foi bastante criticado pelo sérvio nos últimos dias.

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“Discuti com a árbitra de cadeira [Aurélie Tourte]. Disse-lhe: ‘É possível varrer a quadra duas ou três vezes durante o jogo?’. Ela disse que iria verificar, falou com o supervisor do staff que trata do terreno. A resposta foi ‘não’. O clima dos últimos dias afetou o campo e as camadas superiores da terra batida”, começou por afirmar Djokovic aos jornalistas, citado pelo Le Parisien.

“Não sei o que eles fizeram exatamente. Acho que removeram um pouco da argila. Havia muito pouca ou quase nenhuma argila na superfície. Devido às condições mais secas e quentes, o terreno tornou-se muito escorregadio. Lesionei o joelho por causa disso, porque escorreguei, escorreguei muito“, confidenciou o sérvio sobre a origem da lesão, explicando que “há zonas do campo onde não existe superfície” e o “terreno é duro”.

2024, o ano para esquecer. Djokovic ainda pode “voltar”?

Este está longe de ser o ano e a temporada de Djokovic. 2024 podia ser o ano em que o tenista de 37 anos iria quebrar os poucos recordes que ainda não tem. Mas, ao que tudo indica, não será bem assim. A desistência de Roland Garros acabou por ser o culminar de um ano que está a ser terrível para Djokovic, sem qualquer título conquistado, e com várias eliminações ante jogadores abaixo do seu nível. A juntar a isso, perdeu o posto de número 1 do mundo para Jannik Sinner.

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No primeiro torneio do ano, a Austrália acabou por eliminar a Sérvia nos quartos de final da United Cup, que serviu de preparação para o Open da Austrália, o primeiro Grand Slam da temporada. Em busca do inédito 25.º Grand Slam, Nole foi eliminado nas meias-finais, ante o agora líder do ranking ATP. Depois de algumas semanas longe dos courts, o sérvio regressou em Indian Wells, mas perdeu logo na segunda ronda, frente a Luca Nardi, número 123 do mundo. Esta foi apenas a segunda vez na carreira que Djokovic foi eliminado por um adversário oriundo da qualificação, depois de Lorenzo Sonego ter feito o mesmo em Viena, em 2020.

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Depois de mais um mês sem competição, no qual pediu para não ir a Miami, Novak Djokovic chegou ao torneios de terra batida, começando por Monte Carlo. No Masters monegasco, o sérvio chegou pela 77.ª vez a uma meia-final de um torneio daquela categoria, mas caiu diante de Casper Ruud, que conquistou pela primeira vez um set frente a Nole. Seguiu-se Roma e novo torneio para esquecer: eliminação na segunda ronda, diante de Alejando Tabilo, 32.º melhor tenista do mundo.

No final de maio, Djokovic aterrou na Suíça para disputar o ATP 250 de Genebra, torneio ao qual chegava como favorito número 1. Porém, nas meias-finais, o sérvio foi afetado por um vírus que teve um claro impacto na partida frente ao checo Tomas Machac, perdendo por 2-1, com um 6-1 no último set. Seguiu-se Paris e o segundo Grand Slam da temporada.

Em Roland Garros, começou por ultrapassar Pierre-Hugues Herbert e Roberto Carballés sem dificuldades de maior, vencendo em três jogos. Todavia, na terceira ronda, as dificuldades apareceram. Frente a Lorenzo Musetti, o jogo começou apenas depois das 22h30 locais, e o italiano chegou a estar a vencer por 2-1. Com o cansaço a apoderar-se do seu corpo, o sérvio conseguiu voltar a partida e chegou à reviravolta, vencendo ao cabo de 4h30.

Depois de um dia de descanso, voltou à ação frente a Cerundolo, mas o corpo voltou a quebrar, lesionando-se no joelho no segundo set. Após tomar analgésicos e conseguir gerir os índices físicos da melhor forma, Djokovic venceu o argentino, mas a pior das notícias chegou logo a seguir. Depois de ser submetido a exames, confirmou-se uma rutura no menisco e o abandono de Roland Garros. Em sentido inverso, esse jogo acabou por determinar o grande feito do ano: 370.ª vitória em Grand Slams, quebrando o recorde que pertencia a Roger Federer.