O Pato Donald, o personagem mais rabugento da Disney que faz 90 anos a 9 de junho, continua a atrair gerações de fãs porque as pessoas se identificam com ele, disse à Lusa o ator que lhe dá voz desde 1985, Tony Anselmo.

“As pessoas perguntam porque é que ele é tão popular. E eu acho que é porque toda a gente tem um pouco de Pato Donald dentro de si”, afirmou. “Vamos fazer algo e queremos divertir-nos e quando alguma coisa nos atrapalha, zangamo-nos”.

O ator revê-se no personagem, que contrasta com a afabilidade de Mickey, Minnie, Margarida ou Pateta: “Sou um bocadinho malandro”, gracejou. “Gosto de me divertir mas sou impaciente”.

Anselmo, que foi aprendiz do ator da voz original do Pato Donald, Clarence Nash, considera que é a integridade da personalidade que mantém o pato relevante. “É um personagem com aspeto apelativo e o que ele faz é divertido e entretém”.

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Para assinalar o 90.º aniversário do desenho animado, que apareceu pela primeira vez a 9 de junho de 1934 em “A Galinha Espertalhona”, a Disney vai exibir três curtas-metragens de uma só vez, no Disney+, no domingo: as históricas “Crazy Over Daisy” e “Out on a Limb”, e “Faça Você Mesmo, Pato Donald” (“D.I.Y. Duck”) que é apresentada em estreia.

Também há novo merchandising e estão a ser preparadas novidades para a convenção de fãs da Disney D23, que vai decorrer em Anaheim, Califórnia, entre 9 e 11 de agosto.

“Provavelmente trabalho mais agora do que quando tinha 30 [anos], porque há tanto conteúdo no Disney Channel e no Disney+”, salientou Tony Anselmo. “A empresa tornou-se muito maior, agora fazemos programas para os cruzeiros e para todos os parques“, indicou. “Antes era só Disneyland e brinquedos”.

[Já saiu o quarto episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio e aqui o terceiro episódio]

Para atingir o timbre característico do Pato Donald, Tony Anselmo tem de fazer um grande esforço físico, porque não usa as cordas vocais. “É mais como um truque de magia. Requer muito controlo muscular e muita pressão, e só consigo fazer a voz durante duas horas de cada vez”.

Não há muito diálogo com Donald, é quase como gravar birras, descreveu Tony Anselmo. O ritmo de gravações é uma vez por dia, porque a boca começa a inchar e a voz desaparece. “Sim, é difícil”, reconheceu.

Mas é um trabalho que o ator adora e que espera continuar a fazer, lembrando que Clarence Nash, o seu predecessor, foi a voz do pato durante 50 anos. “Adoraria levar o Donald até aos seus 100 anos”, partilhou.

Embora seja um trabalho relativamente solitário, porque as vozes dos vários personagens já não são gravadas ao mesmo tempo, Anselmo tem uma grande ligação com os fãs, que lhe enviam cartas e objetos regularmente pedindo que os autografe. “É importante continuar isso”, referiu. “Dou autógrafos e envio de volta pelo correio”.

O ator acredita que há uma certa nostalgia que carrega o legado do Pato Donald pelas gerações, em especial numa altura em que tanta coisa está a mudar.

“Os pais partilham-no com os filhos porque lhes trouxe muita alegria e querem que eles sintam essa felicidade geração após geração”, disse Anselmo.

É por isso que é importante não mudar estes personagens, mantê-los iguais.

O ator teve sempre o objetivo de ser fiel ao que Clarence Nash criou e apaixonou as audiências. “Porque é algo com que podemos contar, algo com que crescemos e ainda está lá. Não mudou, ao contrário de tantas outras coisas que mudaram e parecem estar de pernas para o ar”, continuou. “O Donald, o Mickey e o grupo continuam os mesmos”.