Estava “muito entusiasmado” por ir à Normandia assistir ao 80º. aniversário do desembarque das tropas aliadas no Dia-D, que virou o curso da Segunda Guerra Mundial. Com 102 anos, muito ativo, apesar de algum historial de doenças cardíacas, seguiu o conselho do médico e aceitou o convite para viajar até França, recorda o presidente de uma organização de veteranos a que pertencia. Mas contra todas as expectativas, Robert Persichitti, que assistiu ao erguer da bandeira norte-americana na mítica batalha de Iwo Jima, não chegou a pisar a Normandia.
O veterano da Marinha dos EUA que seguia de navio para França morreu antes de lá chegar, confirmou a Honor Flight Rochester, associação dos antigos soldados da Segunda Guerra Mundial de que fazia parte.
Robert Persichitti adoeceu na semana passada durante uma paragem que fez na Alemanha, enquanto se dirigia para a Normandia. Foi transportado para o hospital de avião, em 30 de maio, e morreu um dia depois.
“A médica estava com ele… ele estava em paz e confortável”, disse à WHAM TV, Al DeCarlo, um amigo que acompanhava o ex-combatente na viagem. “Ela pôs o cantor preferido [de Persichitti], Frank Sinatra, a tocar no telemóvel e ele deixou-nos em paz”, acrescentou.
Numa entrevista ao jornal local Rochester First, antes de partir para a Europa, Persichitti mostrou-se entusiasmado e disse que estava no consultório do seu cardiologista quando soube que tinha sido selecionado pelo Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial em Nova Orleães para a viagem. O médico não hesitou em encorajá-lo, recordava o ex-militar na entrevista.
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Apesar de ter alguns problemas cardíacos, nada fazia prever qualquer emergência médica como que a sucedeu. “Ele estava em boa forma, movia-se bem e tinha as faculdades completas de alguém décadas mais jovem”, disse Richard Stewart, presidente da Honor Flight. “Ele era realmente alguém especial”, recordou.
Ao confirmar a sua morte nas redes sociais, a organização referiu que o veterano norte-americano “serviu o seu país com bravura e sem hesitação”.
O pastor William Leone, que conhecia Persichitti há 46 anos, disse que o amigo “tinha um verdadeiro gosto pela vida” e ia às escolas locais para falar das suas experiências, pois entendia que era necessário não esquecer o que tinha acontecido. “Foi um privilégio conhecê-lo e vou sentir a sua falta” referiu, lembrando que o veterano assistia ao culto da igreja todas as semanas, por telefone.
“Ele esteve presente na maior parte das cerimónias que assinalavam Segunda Guerra Mundial em Washington e no Luisiana, e também queria ir à do Dia D na Normandia”, referiu ainda à revista Time.
Depois de se alistar na Marinha dos EUA em 1942, Persichitti foi destacado como técnico da rádio para o USS Eldorado e, em 1944, navegou para o Pacífico, onde participou nas invasões de Iwo Jima e Okinawa. Esteve no porto de Iwo Jima, em 1945, para testemunhar o hastear da bandeira dos EUA no topo do Monte Suribachi e regressou ao local em 2019, pouco antes do seu 97.º aniversário.
“Servi no Pacífico durante 15 meses a bordo de um navio”, contou Persichitti numa entrevista em 2022 à WDSU, em Nova Orleães, acrescentando que ajudou em “todas as comunicações para as duas operações: Iwo Jima e Okinawa”.
Mas não foi a rádio que o ocupou depois da guerra. Tornou-se professor de carpintaria da escola pública de Rochester, e nunca deixou de falar da Segunda Grande Guerra sobretudo aos jovens: “É preciso não esquecer”, sublinhava. Em 2020 foi nomeado membro honorário do “Veteran Hall of Fame” do Senado do Estado de Nova Iorque pelo então senador Rich Funke.
Persichitti fazia parte de um grupo cada vez mais restrito: o dos sobreviventes que combateram na II Guerra Mundial. Segundo a CNN, apenas 1% dos 16,4 milhões que aí serviram, ainda estão vivos.