Num discurso de menos de cinco minutos, no dia de reflexão, o Presidente da República salientou que as eleições europeias deste domingo são muito diferentes das de 2019 e que a Europa vive a “situação mais grave” dos últimos 30 anos. Marcelo Rebelo de Sousa fez um apelo ao voto: “Não votar é metermos a cabeça na areia, é perdermos por falta de comparência”, afirmou, defendendo que desperdiçar o voto é “desperdiçar uma oportunidade ainda mais única de construirmos o nosso futuro”.

Para o Chefe de Estado, as eleições de domingo são diferentes das de 2019 devido à pandemia e à crise económica e social que provocou, à guerra na Ucrânia, e à “outra crise que ainda não acabou, como ainda não acabou a guerra”.

Em 2024, “vivemos e sabemos aquilo que não vivíamos nem sabíamos em 2019”. “Vivemos o que sabemos ser a situação mais grave na Europa nos últimos 30 anos“, disse, acrescentando que “o que está em causa” é a guerra, os seus efeitos. “Agora já não podemos fazer de conta que não há guerra, que nos é indiferente que dure pouco ou muito, ou o modo como acaba, que ela não nos toca a todos nos preços, nos salários, no emprego, na incerteza sobre o nosso futuro”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, que apelou ao voto.

Agora, não votar é metermos a cabeça na areia. É perdermos por falta de comparência, em vez de dizermos o que queremos, de darmos mais força à Europa no mundo”, acrescentou. “Portugueses, vale a pena desta vez, ainda mais do que nunca, mostrar que o voto é uma arma de liberdade, de democracia, de paz, arma que não existia até 1974”, disse ainda, recordando que Portugal tende a ter uma baixa participação em eleições europeias (em 2019, a taxa de abstenção chegou quase aos 70%).

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O Presidente lembrou que é possível votar em mobilidade, em qualquer mesa de voto.

Marcelo Rebelo de Sousa falou ao país este sábado às 20h00, a partir do Castelo de Leiria, e fez um apelo ao voto nas eleições europeias de domingo, 9 de junho. O chefe de Estado tem feito declarações ao país na véspera de outras eleições, no dia de reflexão. A exceção a esta intervenção são as eleições regionais, uma vez que nesses casos são os respetivos representantes da República a fazê-lo, e as últimas presidenciais, dado que foi candidato.

A mensagem foi transmitida em direto a partir do Castelo de Leiria. O Presidente vai, este sábado e nos próximos dias, comemorar o 10 de junho nos concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, que foram fustigados pelos incêndios em 2017.

Segundo a agenda que consta no site da Presidência, este sábado, pelas 22h00, Marcelo vai participar num concerto comemorativo do dia de Portugal, pela banda da Armada, em Pedrógão Grande.

Já no domingo, pelas 10h00, estará numa cerimónia militar no monumento de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017 e, pelas 11h00, numa missa concelebrada pelo Bispo da Diocese de Coimbra, o Patriarca de Lisboa e o Núncio Apostólico. A agenda vai prolongar-se pela tarde desse dia e por segunda-feira.

Na véspera das legislativas de 10 março, Marcelo Rebelo de Sousa também tinha falado ao país, dizendo que “ninguém pode substituir ou condicionar o sentido final da vontade popular”.

Marcelo Rebelo de Sousa apela ao voto: “ninguém pode substituir ou condicionar o sentido final da vontade popular”

Oiça aqui e leia em baixo o discurso completo do Presidente da República:

O discurso do PR na véspera das eleições europeias

“Portugueses, amanhã vamos poder votar na Europa que queremos para os próximos cinco anos. Este voto é muito diferente do voto de 2019. Em 2019, não tínhamos vivido a pandemia nem a crise económica e social que provocou. Em 2019, não tínhamos vivido a guerra na Europa envolvendo grandes potências do mundo, além da própria Europa, nem mais outra crise que ainda não acabou, como não acabou a guerra.

Em 2019, acreditava-se que tudo podia ser mais rápido no crescimento contínuo das economias e na muito maior justiça social, corrigindo as desigualdades em que perdem as pessoas no seu dia-a-dia. E perdem sempre os mais pobres, dependentes e frágeis. 

Em 2024, vivemos e sabemos aquilo que não vivíamos nem sabíamos em 2019. Vivemos o que sabemos ser a situação mais grave na Europa nos últimos 30 anos. No passado, temos ligado de menos a estas eleições que, no entanto, sendo sobre a Europa, são também sobre Portugal, sobre nós próprios, a nossa democracia, as nossas condições de vida, a nossa circulação, as nossas comunidades na Europa.

Agora, o que está em causa é uma guerra, os seus efeitos e a urgência de garantir o mais rapidamente possível que seja ultrapassado o que vivemos. Agora, já não podemos fazer de conta que não há guerra, que nos é indiferente que dure pouco ou muito, ou o modo como acaba, que ela não nos toca a todos nos preços, nos salários, no emprego, na incerta sobre o nosso futuro.

Agora, não votar é metermos a cabeça na areia, é perdermos por falta de comparência, em vez de dizermos o que queremos, de darmos mais força aos nosso representantes na Europa, de darmos mais força à Europa no mundo. 

Já votaram antecipadamente mais de 225 mil portugueses. É possível votar amanhã em mobilidade, isto é, onde quer que nos encontremos e haja uma secção de voto. Portugueses, vale a pena desta vez ainda mais do que nunca mostrar que o voto é uma arma, uma arma de liberdade, uma arma de democracia , uma arma de paz, arma que não existia até 1974.

Desperdiçá-la é desperdiçar uma oportunidade ainda mais única de construirmos o nosso futuro. Usá-la neste momento, nos 50 anos do 25 de abril, e sobretudo num momento crítico para a Europa, para Portugal e para todos nós, é mais importante, é mais necessário, é mais urgente que nunca. Usá-la e ir amanhã votar é sermos também nós a decidir esse futuro. Muito boa noite.”

Artigo atualizado com o discurso do Presidente da República