Fazer esquecer Iker Casillas. Era esta a missão de Unai Simón, que não prometia ser fácil. Com maior ou menor brilhantismo, a verdade é que o guarda-redes do Athl. Bilbao cumpriu o encargo com distinção. Apresentado pelos jornalistas espanhóis como um jogador educado e gentil, também é imprevisível. Possui duas “caras”: uma de sorridente e amigável, outra quase em contraste de sério e distante. Outrora, as duas façanhas escondiam a grande insegurança do jogador: a sua altura (1,90m) e o corpo atlético. É deste modo que a importância de Simón se estende para fora das quatro linhas.

Foi em 2016 que a instabilidade na baliza tomou conta da Roja. Vicente del Bosque era o timoneiro da então bicampeã europeia e, no Europeu de França, tirou a titularidade ao guarda-redes do FC Porto, apostando em David de Gea, do Manchester United. Seguiu-se o também basco Kepa Arrizabalaga, mas as trocas com De Gea foram constantes e nenhum conseguiu afirmar-se com Julen Lopetegui e Fernando Hierro.

Contudo, em novembro de 2020, apareceu Unai Simón, que nunca mais saiu da baliza. A aposta de Luis Enrique revelara-se certeira. “Até conhecê-lo [Luis Enrique], não entendia o papel do guarda-redes na saída de bola. Ensinou-me a procurar o jogador livre e, em grande medida, o que consigo fazer hoje é graças a ele”, explicou o guarda-redes basco, quando questionado por um erro cometido frente à Croácia, ao efetuar um passe contra Majer. Desde 2020, Simón falhou apenas uma partida oficial, frente ao Chipre, já com Luis De La Fuente (e por estar lesionado).

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Na altura, na Cidade do Futebol espanhola, em Las Rozas, o novo selecionador e Miguel Ángel España, treinador de guarda-redes, sentaram-se com Unai Simón e, durante meia hora, explicaram-lhe o que pretendiam. A partir daí, tudo ficou claro e o guarda-redes manteve o estatuto de número um. Para trás ficou uma experiência pouco animadora com De La Fuente, que remonta ao Europeu de Sub-21 de 2019. No primeiro jogo, Espanha vencia Itália por 1-0 com golo de Ceballos, mas Chiesa empatou o jogo com um erro gritante de Simón. O guarda-redes acabou por perder a titularidade para Antonio Sivera, atual guarda-redes do Alavés, nas restantes partidas.

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“Unai é muito sério e muito educado. Mas ele mudou, porque antes era muito oscilante, muito brincalhão, e agora está mais cauteloso. Claro que ele dá-se muito bem com os restantes guarda-redes. O mais importante é saber que estamos todos a remar na mesma direção. Os títulos virão graças aos três [guarda-redes]. Alex [Remiro] e David [Raya] não tiveram a oportunidade de jogar o primeiro jogo, mas talvez joguem contra a Itália. O importante é apoiarmos o nosso parceiro”, explicou uma fonte da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), ao El Mundo.