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Alemanha vai atingir nos próximos três anos a meta de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) dedicado à defesa, pela primeira vez em duas décadas, mas denota dificuldades para continuar a garantir este objetivo depois de 2028.

Pouco tempo depois da invasão russa da Ucrânia, em 2022, o chanceler Olaf Scholz surpreendeu os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ao anunciar um “Zeitenwende”, um “ponto de viragem histórico” que envolveu um fundo especial de 100 mil milhões de euros (107 mil milhões de dólares) para revitalizar as Forças Armadas.

O fundo garante que o objetivo de 2% nos próximos três anos seja cumprido pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, em 1990. Depois de gasto o valor, “existe ainda um enorme défice de financiamento de mais de 30 mil milhões de euros a partir de 2027”, calcula o economista Klaus-Heiner Röhl do Instituto de Economia alemã (IW) num artigo de opinião.

Além disso, as altas patentes militares alemãs já avisam que as Bundeswehr precisam de fundos adicionais para estar prontas para o combate dentro de cinco anos, altura em que acreditam que a Rússia será capaz de atacar o território dos Estados-membros da NATO.

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“Não podemos esquecer que, durante a Guerra Fria, com os chanceleres Adenauer, Brandt e muitos outros, a Alemanha gastou mais de 3% do PIB com a defesa”, referiu o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, à emissora pública alemã NDR.

Se por um lado, os alemães parecem apoiar cada vez mais a NATO e a União Europeia, por outro lado, o governo parece multiplicar acrobacias para manter um orçamento equilibrado.

De acordo com uma sondagem levada a cabo pela televisão pública ARD, sete em cada dez alemães consideram que a ameaça à paz que o país e a Europa atravessam é séria ou muito séria. O estudo, divulgado em maio, mostrou ainda que o político mais popular é, com uma grande margem, o ministro da Defesa Boris Pistorius.

Mas a coligação, formada pelo Partido Social Democrata (SPD) do chanceler Olaf Scholz, os Verdes, e os Liberais, parece ter cada vez mais dificuldade em encontrar dinheiro para cumprir o objetivo da NATO, dadas as regras impostas que limitam o montante de empréstimos estatais que podem ser contraídos.

“Posso dizer, em nome da Alemanha, que estamos a fazer o nosso trabalho de casa, todos sabem que vamos atingir o objetivo de 2% este ano, pela primeira vez em mais de duas décadas. A maioria dos outros aliados europeus da NATO, cerca de 20, também atingirão o objetivo de 2%”, revelou Pistorius aos jornalistas depois de uma reunião ministerial na sede da NATO, no mês de junho.

“O nosso objetivo comum continua a ser o de garantir que a NATO esteja em condições de defender cada centímetro quadrado do seu território, sempre que tal seja necessário. Temos de ter um forte poder de dissuasão e, para isso, todos os membros da aliança dão o seu contributo”, acrescentou.

Para já, Scholz está do lado do ministro das Finanças liberal, Christian Lindner, ao rejeitar os apelos do ministro da Defesa, também ele do SPD, para aumentar as despesas anuais com a defesa no próximo ano em 6,7 mil milhões de euros, a fim de iniciar mais investimentos.

Para além da incerteza política que isso cria, cada ano que a atualização anual das despesas é adiada, mais acentuado terá de ser o aumento para atingir o objetivo de 2%. As projeções indicam que o défice atingirá 40 mil milhões de euros em 2028.

Parte do valor do fundo extraordinário anunciado em 2022 já foi alocado em projetos que incluem, por exemplo o Puma, um veículo de combate de infantaria, os helicópteros de transporte pesado ou o sistema de defesa aéreo Arrow.

Alemanha quer incentivar ao serviço militar sem torná-lo obrigatório

Pistorius apresentou, depois de estudar várias hipóteses, uma proposta de serviço militar seletivo centrado em voluntários para reforçar as Forças Armadas, depois da oposição generalizada a um regresso ao serviço militar obrigatório, suspenso há quase 13 anos.

Este novo modelo tem como objetivo aumentar para 15 mil o número de jovens que cumprem o serviço militar voluntário, um aumento de 5 mil no primeiro ano.

O objetivo é chegar a mais 200 mil reservistas, o que permitiria à Alemanha aumentar rapidamente as suas tropas para cerca de 460 mil em caso de guerra, quase o dobro do que pode reunir atualmente. A Alemanha conta nesta altura 180 mil soldados, que pretende aumentar para 203 mil e 60 mil reservistas.