O Papa Francisco rejeitou recentemente as chamadas “terapias de conversão” de pessoas homossexuais, defendidas e praticadas no contexto de alguns setores ultraconservadores dentro da Igreja Católica.

A notícia é avançada pela revista Vida Nueva, que diz ter confirmado que o Papa recusou “absolutamente e sem qualquer margem de dúvidas” o recurso a terapias de conversão.

Francisco falou do assunto durante um encontro à porta fechada com um grupo de bispos espanhóis que decorreu há algumas semanas. De acordo com a revista espanhola especializada em assuntos religiosos, Francisco aproveitou o encontro para reiterar de forma explícita uma condenação absoluta da prática das terapias de conversão.

O tema já tinha causado polémica em Espanha, devido à atuação do grupo “Verdad y Libertad”, um grupo católico especialmente ativo na promoção das chamadas “terapias de conversão” — práticas condenadas pela comunidade científica que visam, supostamente, “curar” a homossexualidade.

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Em julho de 2021, o Vaticano tinha, através da Congregação para o Clero, desautorizado a atuação do “Verdad y Libertad”. Foi a primeira vez que a Santa Sé se pronunciou formalmente sobre a polémica das “terapias de conversão”, com o Vaticano a determinar que a Conferência Episcopal Espanhola não poderia secundar, apoiar, recomendar nem participar nos supostos tratamentos levados a cabo por aquele grupo, fundado por um pediatra católico que propunha um “itinerário de esperança para restaurar as feridas” causadas pela “atração pelo mesmo sexo”, como descreveu na altura a Vida Nueva.

Agora, foi o próprio Papa Francisco a dizer aos bispos espanhóis que a Igreja Católica deve estar frontalmente contra estas terapias.

A declaração surge numa altura em que o tema voltou a causar polémica em Espanha, depois de cinco alunos de um colégio católico na arquidiocese de Valencia terem denunciado um professor do colégio por lhes tentar impor terapias de conversão para “curar” a homossexualidade quando tinham 11 e 12 anos.

Sem a aprovação dos pais dos menores, o professor, que de acordo com a denúncia suspeitava das tendências homossexuais dos alunos pelos comportamentos, tinha conversas semanais com os menores e terá mesmo chegado a oferecer comprimidos a um aluno para lhe curar a “doença”. A arquidiocese está a investigar o caso.

Em Portugal, as práticas de conversão forçada da orientação sexual ou da identidade de género são proibidas e punidas com uma pena de prisão até três anos por uma lei aprovada em dezembro do ano passado.

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Em 2019, vieram a público em Portugal denúncias da existência de terapias de conversão ou reorientação sexual. A principal visada nessas denúncias, que tiveram origem numa reportagem da TVI e que motivaram também uma carta aberta assinada por mais de 250 psicólogos, foi a psicóloga Maria José Vilaça, então líder da Associação dos Psicólogos Católicos, que surgiu na reportagem a orientar grupos que seriam dedicados à terapia de conversão de pessoas homossexuais. Vilaça já tinha causado polémica três anos antes, quando disse que ter um filho homossexual era “como ter um filho toxicodependente”.

Ordem dos Psicólogos vai analisar denúncia de terapias de conversão sexual

Já depois dessas polémicas, a Ordem dos Psicólogos Portugueses divulgou um parecer sobre as terapias de conversão, no qual considerou que essas terapias não só violam os princípios éticos e deontológicos como tem efeitos potencialmente negativos nas pessoas que sejam submetidos a eles.

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Já este ano, o tema voltou a motivar controvérsia em Portugal depois de terem vindo a público notícias sobre a realização de um congresso em Fátima organizado pelos “Jovens da Família do Coração Imaculado de Maria”, que versava sobre a “beleza de ser homem e mulher” e sobre as “mentiras de uma ideologia de género que destrói a riqueza da identidade masculina e feminina”.

O congresso, de que a diocese de Leiria-Fátima acabaria por se demarcar, teve como oradores, entre outros, a psicóloga Maria José Vilaça e Luca di Tolve, que foi dar o seu testemunho como alegado “ex-homossexual”. O italiano Luca di Tolve chegou a vencer o programa “Mister Gay” em Itália nos anos 90, mas terá passado por uma experiência religiosa e hoje é casado, tem uma filha e tem uma associação com o objetivo de “ajudar os jovens” a encontrar a “verdadeira identidade”.

Depois da polémica, o congresso decorreu à porta fechada sem que fossem prestados quaisquer esclarecimentos.