O grupo neo-nazi The Base está a recrutar líderes para formar novas células nos Estados Unidos da América. A informação foi transmitida pelo líder do grupo, Rinaldo Nazzaro, através de mensagens no seu canal privado do Telegram, citadas pelo jornal britânico The Guardian.

O recrutamento para estas células terroristas inclui uma longa lista de requisitos. Os candidatos devem ter “conhecimento e experiência em trabalho de campo, sobrevivência e táticas de pequenas unidades. Experiência militar não é um requisito, mas é altamente desejável“. Para além disso, devem ter mais de 21 anos, carta de condução válida e não ter registo criminal, escreve Nazzaro.

Tal como numa candidatura a um emprego, a mensagem continua descrevendo as competências necessárias para os líderes destas células, as A-Team: “recrutamento e manutenção de equipas de seis (ou possivelmente doze) homens, organizar, conduzir e documentar as sessões de treino pelo menos uma vez por mês”.

The Base exige todas as estas competências para fazer parte de uma das suas células. Mas afinal o que é este grupo e que tipo de atividades leva a cabo?

A organização surgiu nos radares das organizações anti-terroristas em 2018, classificado como um grupo aceleracionista. Isto quer dizer que se aproveita de momentos de turbulência política para, através de uma retórica violenta e de atos de terrorismo, acelerar o colapso da sociedade atual.

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Em 2020, o FBI colocou o grupo na lista de ameaças de terrorismo doméstico, devido à campanha presidencial que decorria nos Estados Unidos à data. Na sua investigação, o FBI especifica que The Base se trata de um grupo extremista com “motivações raciais, que procura incitar uma guerra de raça e estabelecer um etno-estado branco no país”, citou na altura a BBC.

Na mesma investigação, o canal revelou a identidade do líder, até então desconhecido. Rinaldo Nazzaro era um antigo operacional do Pentágono, que se supõe que opere a partir de São Petersburgo, para onde se mudou depois de ter casado com uma mulher russa.

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Agora, quatro anos depois, o grupo volta a entrar no radar das unidades de contra-terrorismo norte-americanas. O recrutamento de Nazzaro coincide com um novo período de campanha eleitoral, que está a revelar agitado no que toca a ameaças à segurança nacional. Para além da tentativa de assassinato de Donald Trump no dia 13 de julho, o FBI anunciou na passada segunda-feira a detenção de um homem que ameaçou matar Kamala Harris.

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O financiamento do The Base é semelhante ao de outros grupos neo-nazi, que se multiplicaram um pouco por todo o mundo. Através de doações em criptomoeda, principalmente Bitcoin, Nazzaro terá acumulado milhares de dólares, que permitem um salário de 1200 dólares (cerca de 1098 euros) mensais aos líderes de cada célula. Estes deverão, depois, gerir o seu orçamento para pagar um pequeno valor aos seis (ou doze) membros que conseguirem recrutar, explica o líder do grupo na sua publicação.

Contudo, apesar das semelhanças com outros grupos neo-nazis — como os internacionais Proud Boys ou os portugueses 1143 –, os grupos aceleracionistas tendem a manter um perfil mais discreto, em vez de promoverem manifestações públicas, explicou Joshua Fisher-Birch ao jornal britânico.

O analista, que trabalha no Counter Extremism Project, argumentou que “o seu foco em promover o caos levanta a possibilidade de que possam encorajar violência ou cometer atos de intimidação antes das eleições“.

Apesar do foco do The Base no processo eleitoral norte-americano, as suas ações não passaram despercebidas no velho continente. Na semana passada, a União Europeia atualizou a sua lista de terroristas, adicionando pela primeira vez o grupo norte-americano. As sanções, que entraram imediatamente em vigor, incluem o congelamento de todos os fundos no espaço comunitário e o fim de qualquer transação com Estados membros.

A reemergência do The Base surge na mesma altura em que os motins anti-imigração se multiplicam no Reino Unido, promovidos por Tommy Robinson, com ligações à extrema-direita. Coincide ainda com os relatos de interferência russa na política europeia e da promoção da extrema-direita, num aumento generalizado do extremismo nas duas margens do Atlêntico.

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*Texto editado por Cátia Andrea Costa