O candidato republicano à Casa Branca reagiu esta quarta-feira à escolha de Kamala Harris para o seu parceiro de corrida. Numa entrevista à Fox News, Donald Trump considerou que Tim Walz é “uma escolha chocante”, mas que o deixa “entusiasmado”. “Não posso acreditar que ele foi a escolha. Ele é muito liberal e é uma escolha chocante. Não podia estar mais entusiasmado”, afirmou Trump numa entrevista por telefone ao programa Fox&Friends.

O ex-Presidente declarou que apenas falou uma vez com o Governado do Minnesota e considerou-o simpático. Mas as críticas que deixou às suas políticas foram tudo menos simpáticas. “Ele é ainda pior do que eles [Biden e Harris]. É uma versão moderada dela [Harris]. Ele é [radical] como o Bernie Sanders, talvez mais. Esta é uma candidatura que nos conduziria ao comunismo”, considerou.

Sobre as políticas de Walz no seu tempo como congressista e depois como governador, Trump destacou a sua falta de preocupação com o controlo da imigração e com as questões da segurança — “sem fronteiras, sem segurança” — e as suas políticas de afirmação de género para os jovens do Minnesota — “ele adora tudo o que é transgénero”.

O candidato republicano considerou ainda que havia outras escolhas muito melhores dentro do partido democrata. “É muito insultuoso para os judeus. Qualquer judeu que vote nestas pessoas tem de verificar a sua cabeça”, argumentou.

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Questionado sobre se Josh Shapiro, governador da Pensilvânia e um homem judeu, seria uma escolha melhor, Trump admitiu que seria má na mesma, mas não tão má com Walz. Como notaram os apresentadores, os republicanos já tinham orientado a sua campanha para contrariar a popularidade de Shapiro e apontar os seus erros. Ao New York Times, conselheiros próximos de Trump admitiram estar aliviados pelo facto de Shapiro não ter sido o escolhido de Harris.

Alinhado com o partido e encarando Tim Walz como um alvo mais fácil, Trump declarou-se “entusiasmado” e prometeu debates para um futuro próximo. Argumentou que os media eram os únicos que estavam do lado do par democrata. “Mas vocês não”, notou, dirigindo-se aos apresentadores da Fox. Por esse motivo, voltou a expressar o desejo de debater Harris na FoxNews, depois de ter recusado um encontro na ABC.

Trump aceita debate com Kamala Harris a 4 de setembro na Fox News

Abril de 2020: a única conversa entre Trump e Walz

Na entrevista, Trump partilhou que a única vez que falou com Walz foi depois deste lhe ter telefonado durante os protestos anti-quarentena durante o início da pandemia. “Apoiei-o um bocadinho durante os motins”, relatou.

Segundo Trump, Walz ligou-lhe, uma vez que era Presidente, a pedir para dispersar as pessoas, com bandeiras norte-americanas e cartazes MAGA, que se reuniam junto à “sua mansão, sem segurança”. O ex-Presidente pediu, então, um acalmar dos ânimos e as pessoas, regressaram calmamente a casa — “Não podiam ser muito más pessoas”, considerou Trump. Walz procedeu a ligar-lhe novamente para agradecer a sua intervenção.

A versão de Walz deste curto telefonema é bem diferente. Walz relata que os manifestantes se reuniram aos milhares à porta de sua casa, incentivados por uma publicação nas redes sociais do então Presidente, em que exigia a “libertação do Minnesota”. O apelo de Trump era uma referência às duras restrições para combater a Covid-19, aprovadas pela admistração estatal de Walz, sob críticas da oposição.

“Enviou pessoas armadas à minha casa”, um grupo que incluía membros do grupo neo-nazi Proud Boys, acusou Tim Walz, numa entrevista em setembro de 2021. A entrevista ao jornal Politico não foi publicada na íntegra à data e foi tornada pública no mês passado, por ocasião da ascensão como figura pública nacional.

Walz criticou o estilo de comunicação de Donald Trump, afirmando que não se sentia ouvido pelo então Presidente. “Eu estava a tentar humanizar aquilo, mostrar que estavámos a trabalhar juntos”, argumentou, dizendo que chegou a pôr a filha adolescente ao telefone para contar a Trump como estava assustada com as manifestações à porta de sua casa, numa zona residencial tranquila.

O problema de segurança repetiu-se durante o verão, durante o período mais crítico da governação de Walz. Depois da morte de George Floyd às mãos da polícia, Minneapolis, o Estado do Minnesota e, eventualmente, o país e o mundo inteiro foram inundados por protestos do movimento Black Lives Matter. Em Minneapolis, os protestos transformaram-se em motins violentos.

Apesar de ter classificado a violência dos manifestantes como inaceitável, Walz liderou uma proposta para reajustar o financiamento da polícia e o seu treino, que provocou a morte de Floyd, numa demonstração de excesso de força. Trump — e o seu vice JD Vance — também já criticaram esta medida, acusando Walz de ser responsável por “tirar fundos à polícia”. Mais um exemplo da sua falta de preocupação com a segurança, argumentam.

Depois da quarentena e do Black Lives Matter, a casa de Walz no Minnesota acabou mesmo por ser evacuada no dia 6 de janeiro de 2020, relatou Walz. Desta vez, a ameaça eram os apoiantes de Donald Trump, que questionavam o resultado das eleições presidenciais que deram a vitória a Joe Biden.