O Ministério Público sueco anunciou esta segunda-feira que fechou a investigação “às ameaças ilegais” que foram relatadas no dia 9 de maio no Festival Eurovisão da Canção, em Malmö. O suposto atacante, o concorrente dos Países Baixos, Joost Klein, acabou expulso do certame mas não vai enfrentar repercussões legais.

A queixa foi apresentada por uma fotógrafa que fazia parte da organização do evento — e não de outras delegações, como foi inicialmente conjeturado. A funcionária acusou Klein de a ter agredido e partido a sua câmara à saída do palco, depois dos ensaios que decorriam antes da final da competição.

“A investigação concluiu que o homem fez um movimento que atingiu a câmara da mulher. Os eventos aconteceram rapidamente e foram percecionados de forma diferente pelas testemunhas do incidente”, declarou o procurador responsável pelo caso, em comunicado. “Hoje encerrei a investigação, porque não consigo provar que a ação tenha provocado medo grave ou que o homem tivesse essa intenção“, acrescentou Fredrik Jönsson.

Em reação à decisão sueca, a emissora pública neerlandesa anunciou que vai convocar uma reunião com a União Europeia de Radiodifusão (EBU), responsável pela Eurovisão, para debater a “desqualificação injusta”. À data, a AVOTROS defendeu Klein, afirmando que o cantor pediu repetidamente para não ser filmado à saída do palco, pedido que foi desrespeitado pela funcionária, o que levou Klein a agir de forma inconsciente, mas sem nunca a ter agredido.

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“Desde o princípio que dissemos que a desqualificação foi exagerada e desproporcional e parece que assim foi. Ainda estamos profundamente desapontados”, pode ler-se no comunicado, publicado pelo canal. Os neerlandeses notam ainda que a carta de objeção que enviaram à EBU em maio nunca recebeu uma resposta, o que também querem ver discutido na reunião.

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O alívio da AVOTROS é partilhado pelo agente de Klein. “Os últimos meses têm sido terrivelmente duros. Como equipa, estamos incrivelmente felizes e aliviados que este período de incerteza tenha chegado ao fim. Finalmente podemos dizê-lo em voz alta: nunca houve motivos para o caso”, declarou Rick Bakker, citado pelos media dos Países Baixos.

A reação do próprio Joost Klein foi bem menos elucidativa. Nas suas redes sociais, o cantor publicou apenas um vídeo com a música Who Let the Dogs Out, algo que já tinha feito no dia em que foi anunciada a sua expulsão.

A EBU foi a última parte a reagir ao comunicado do Ministério Público sueco. “Não tem nenhum impacto na nossa decisão, que reafirmamos totalmente”, garantiu. Em comunicado, a organização declarou que a expulsão de Klein foi feita de acordo com as suas regras e que, “como empregadores responsáveis, não toleram comportamentos inapropriados”.

Esta decisão acabou por marcar a edição mais politizada de sempre da Eurovisão e foi criticada pelos fãs. Alguns questionaram o facto de a EBU ter retirado imediatamente Klein depois da queixa, mas ter mantido a delegação israelita na competição, depois dos relatos de assédio por parte de várias delegações — incluindo a portuguesa — que obrigaram a uma reunião de emergência a poucas horas da final.

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Apesar do silêncio de Klein sobre a sua própria expulsão, os outros concorrentes acusaram igualmente a EBU de ter deixado que se criasse um ambiente de perseguição aos concorrentes — perseguição como a que a AVOTROS relatou à saída do ensaio de Klein, que levou ao incidente.

“Tem sido tão horrível e tem sido tão difícil para nós [os concorrentes]. Nós é que somos a Eurovisão, não a EBU. Que se lixe a EBU”, criticou a representação irlandesa, Bambie Thug, no final da competição, em que a Suíça saiu vitoriosa com The Code de Nemo.