Enquanto decorrem as buscas pelas seis pessoas desaparecidas após o iate de luxo em que seguiam ter naufragado na madrugada de segunda-feira em Palermo, Itália, são reveladas as primeiras imagens do momento em que a embarcação que estava ancorada afundou. As câmaras de dois sistemas de videovigilância distintos registaram o momento do naufrágio do veleiro.

Um vídeo, divulgado pelo Giornale di Sicília, mostra o barco durante a tempestade. Pouco depois de ser atingido por uma tromba de água, desaparece no mar no espaço de dois minutos.

De acordo com os socorristas no local, citados pelo The Guardian, uma grande quantidade de água terá entrado no iate durante a tempestade pela popa ou pela proa num espaço de tempo muito curto, fazendo com que o casco se inclinasse e a embarcação se afundasse em poucos minutos. “Não previmos que ia acontecer”, afirmou o comandante do barco, James Catfield, numa curta declaração citada pelo jornal italiano La Repubblica.

Os passageiros faziam parte de um grupo internacional que embarcou no Bayesian para um cruzeiro no Mediterrâneo: vinham de Milazzo e Cefalù e rumavam a Palermo, quando foram surpreendidos por uma violenta tempestade. Ao todo, entre tripulantes e passageiros, estavam 22 pessoas a bordo, 15 delas, incluindo um bebé de um ano, foram resgatadas nos momentos após o naufrágio depois de terem conseguido entrar num bote salva vidas.

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Naufrágio na Sicília. Guarda costeira italiana assume que os seis desaparecidos devem estar mortos

O que é uma tromba de água?

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), uma tromba de água é um fenómeno meteorológico que consiste num “turbilhão de vento, muitas vezes violento, cuja presença se manifesta por uma coluna nebulosa ou cone nebuloso invertido em forma de funil que emerge da base de um cumulonimbo [uma nuvem densa, de grande extensão vertical] e por um tufo constituído por gotículas de água levantadas da superfície do mar”.

O instituto ressalva que, em linguagem popular, é frequente usar-se o termo de forma errada, em particular, para definir um episódio de precipitação forte. Tratam-se, assim, de dois fenómenos distintos que não devem ser confundidos.

Fotografia tirada por um barco de pesca mostra um suposto tornado (ou tromba de água) ao largo da ilha de Borkum, no Mar do Norte

De acordo com o Serviço Nacional dos Oceanos dos EUA, citado pelo The Guardian, estas colunas rodopiantes de ar e névoa de água dividem-se em duas categorias: as marés vivas e as que se formam durante os tornados oceânicos que se formam durante as tempestades. As trombas de água tornádicas, que se desenvolvem por baixo de uma tempestade, podem formar-se sobre a água ou deslocar-se da terra para a água e têm as mesmas caraterísticas que um tornado terrestre.

Segundo o jornal britânico, a tromba de água que atingiu o iate de Lynch parece ter sido tornádica, causada por uma das muitas tempestades que varreram Itália nos últimos dias, com inundações e deslizamentos de terras a causarem graves danos no norte do país, após semanas de altas temperaturas.

Aquecimento global promove “fenómenos extremos como este”

“É exigido à atmosfera que reative mecanismos que reponham o equilíbrio. Temos excesso de energia na troposfera e isso vai provocar uma alteração do sistema hidrológico que leva à ocorrência de fenómenos extremos como este”, considera Fernanda Carvalho, meteorologista e investigadora do IPMA, sobre a tromba de água que terá estado na origem do naufrágio na Sicília.

Em declarações ao Observador, a especialista considera ser clara a influência do aumento da temperatura de forma global para a ocorrência de fenómenos extremos como o do “tornado formado sobre água” que fez com que o Bayesian se afundasse.

Segundo Fernanda Carvalho, uma das consequências da mudança climática que decorre do aumento do CO2 emitido é o aumento da temperatura global que tem outra consequência: “a capacidade da atmosfera reter água”. Assim, quando cai, “cai numa grande quantidade” e provoca fenómenos extremos.

“Neste momento estamos com uma mudança no clima provocada pela atividade do homem”, recorda. Ou seja, segunda ela, “estamos a adicionar gases com efeitos de estufa — principalmente dióxido de carbono — que se vão se concentrar na troposfera e na camada onde nós vivemos e onde decorrem todos os fenómenos meteorológicos”.