Luís Montenegro nega ter recebido, até ao momento, qualquer carta de André Ventura a dar como terminadas as negociações para o Orçamento do Estado. Recorde-se que o líder do Chega fez saber, na segunda-feira, que tinha enviado um missiva ao primeiro-ministro onde dizia estar fora dessas negociações e em que acusava o social-democrata de ter traído o eleitorado de direita. No entanto, segundo fonte do próprio gabinete de Montenegro, apesar de terem passado quase 48 horas, não chegou qualquer carta à residência oficial do primeiro-ministro.

A informação sobre a carta de Ventura a Montenegro foi avançada pela SIC Notícias e RTP na segunda-feira. Posteriormente, a existência da carta foi confirmada pelo Observador, ainda que não tenha sido possível ter acesso ao documento na íntegra, conhecendo-se apenas algumas passagens do texto. Nelas, o líder do Chega diz ao primeiro-ministro que já não há “caminho para a viabilização” do Orçamento do Estado para 2025 e culpa Montenegro pelo desfecho.

Nessa carta, Ventura fala ainda de “negociações secretas” entre o PS e o PSD para aprovação do Orçamento e classifica essa estratégia de Montenegro como uma “traição ao eleitorado de direita”. “Como o senhor primeiro-ministro bem sabe, tínhamos o compromisso de uma negociação séria e bilateral, construtiva à direita, que o seu Governo colocou irrevogavelmente em causa ao preferir a negociação secreta com os socialistas”, escreveu o líder do Chega, citado pela RTP.

Ora, apesar de tudo, e segundo apurou o Observador junto de fonte do gabinete do primeiro-ministro, não chegou qualquer carta de Ventura a São Bento. Mais a mais, a mesma fonte oficial nega categoricamente terem existido “negociações secretas” entre Montenegro e Pedro Nuno Santos. “Não houve qualquer troca de correspondência ou negociação entre o senhor primeiro-ministro e o secretário-geral do PS durante o mês de agosto”, sublinha fonte oficial.

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Nas entrelinhas, o que o Governo sugere é que André Ventura está a pôr-se fora das negociações orçamentais com base num pretexto falso (o das tais “negociações secretas” entre o Governo e o PS) e através de uma carta que, apesar de ser (em parte) pública, não chegou sequer ao gabinete do primeiro-ministro.

Em julho, Pedro Nuno Santos enviou uma carta a Luís Montenegro em que exigia a prestação de informação sobre as contas públicas. O primeiro-ministro não acedeu ao pedido do socialista. Mais recentemente, já no final de agosto, o Governo fez chegar à sede nacional do PS documentos que incluíam a despesa estimada para as medidas já aprovadas este ano e a despesa prevista para as novas medidas a inscrever no Orçamento do Estado de 2025 — informação que faria chegar mais tarde a todos os partidos com assento parlamentar.

De resto, Montenegro já tinha publicamente desmentido a existência de qualquer negociação secreta com Pedro Nuno Santos durante o mês de agosto. No discurso de encerramento da Universidade de Verão do PSD, no domingo, o social-democrata disse que essa troca de correspondência não era “verdade” e lamentou a “imaturidade” de André Ventura.

“O líder do Chega sente-se despeitado porque viu uma notícia, que por acaso não é verdade, e concluiu que durante o mês de agosto tinha havido negociações entre o PS e o PSD. E vai daí, e de uma forma imatura e precipitada, diz que não quer ter nada a ver com o Orçamento do Estado. Do outro lado, o líder do Partido Socialista confirma que não houve negociações durante o mês de agosto. Não confirma, mas confirmo eu, que aquilo que ficou combinado nas reuniões de julho é que nos voltaríamos a reunir em setembro. E agora sente-se despeitado porque durante o mês de agosto ninguém disse nada. Pois não“, afirmou Montenegro.