Foi detido nas Filipinas o homem que se autoproclamou “filho de Deus” e é líder da Igreja Reino de Jesus Cristo, onde afirma reunir milhões de seguidores. Apollo Quiboloy, que tem pelo menos 74 anos, é acusado nas Filipinas de crimes de abuso sexual de menores e tráfico humano.

Em 2021, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos condenou o filipino por tráfico de mulheres e jovens raparigas entre 12 a 15 anos. Segundo a página do FBI, as vítimas tinham sido contratadas para trabalhar como assistentes pessoais ou “pastorais” e eram forçadas a ter relações sexuais com Quiboloy, que o descrevia como “serviço noturno”.

O Departamento de Investigação americano fala também em contrabando de grandes quantias de dinheiro e de tráfico humano, num alegado esquema que levava membros da igreja para os Estados Unidos da América. Através de casamentos forçados ou vistos de estudantes falsos, os membros entravam no país e solicitavam doações para uma instituição de caridade falsa, que servia para financiar os líderes do “Reino de Jesus Cristo”.

Após estas acusações em 2021, Quiboloy chegou a afirmar que as variantes Ómicron e Delta da Covid-19, que alastravam o mundo naquela altura, eram um “castigo por magoarem, perseguirem e prejudicarem o ‘Filho de Deus'”. O líder espiritual negou também todas acusações, afirmando que ex-membros da igreja estariam a ser pagos para fabricar histórias que o incriminassem.

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O fundador da igreja foi agora detido após uma caça ao homem que durou 16 dias, assim como um longo período de conflitos entre os seus apoiantes e as forças policiais. Segundo a Philippine News Agency, o pastor foi forçado a render-se após ser “encurralado” pela polícia dentro do complexo de 30 hectares da sua igreja, em Davau. A operação para a detenção de Quiboloy mobilizou cerca de 2.400 operacionais, que tiveram de escavar um túnel dentro da propriedade “Kingdom of Jesus Christ”, para o conseguirem deter.

Quiboloy acabou por se render porque “não queria dar mais lugar a violência sem lei” e “não conseguia presenciar nem mais um segundo do sofrimento que o seu “rebanho” vivia há vários dias”, pode ler-se num comunicado do seu advogado divulgado nas redes sociais.

Na manhã desta segunda-feira, o Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr, afirmou que ainda não tinha recebido qualquer pedido por parte dos EUA para a extradição de Quiboloy, mas que não pretendia fazê-lo antes deste ser julgado pelos seus crimes no seu país. A detenção foi ordenada pelo senado filipino, devido à recusa do líder espiritual em apresentar-se nas audiências para investigar os alegados abusos.

Apesar da proximidade com o ex-Presidente, Rodrigo Duterte, de quem foi conselheiro espiritual, o atual líder do país garantiu que “não há tratamento especial” para Quiboloy. “É um cidadão como todos os outros e vamos respeitar os seus direitos” afirmou Marcos Jr, que se demonstrou aliviado da fase de captura ter chegado ao fim. “Vamos deixar Quiboloy entregue à parte judicial agora”. 

O suspeito foi detido juntamente com outros cinco co-acusados e foram todos transportados para a capital, Manila, onde aguardarão julgamento.