À saída do avião em Filadélfia, na terça-feira, e no evento de homenagem às vítimas do 11 de setembro, na quarta-feira, o círculo próximo de Donald Trump tem uma cara nova: Laura Loomer. A influencer, comentadora, ativista e auto-intitulada jornalista de investigação não foi contratada de forma oficial, mas ofereceu o seu apoio e o candidato republicano aceitou, contrariando o conselho dos seus apoiantes mais próximos, relatam os media norte-americanos.

Loomer tem 31 anos e nasceu no Arizona. É conhecida na política norte-americana pelas suas posições controversas e provocadoras e as suas teorias da conspiração. Uma das teorias em que mais insiste é que o 11 de setembro foi uma maquinação dos Estados Unidos, ao que se soma a caracterização do Islão como “um cancro” e o facto de se ter declarado “uma islamofóbica orgulhosa”. Dado o seu histórico com o atentado de 2001 e os seus sentimentos islamofóbicos, a sua presença na homenagem às vítimas dos 23 dos ataques foi mal recebida. Contudo, Loomer marcou presença a convite do próprio Donald Trump, relata a Associated Press.

“Não percebo o problema de ter ido ao memorial do 9/11. Eu nunca neguei que terroristas islâmicos levaram a cabo os ataques terroristas do 9/11. Na verdade, os media chamam-me anti-muçulmanos precisamente porque eu passei tanto tempo focada em falar sobre as ameaças do terrorismo islâmico na América”, justificou na quinta-feira, em entrevista à CNN.

As teorias da conspiração não se esgotam com os atentados terroristas. Insiste que Joe Biden esteve envolvido na tentativa de assassinato de Donald Trump, em julho e foi ela que viralizou nas redes sociais o discurso anti-imigração de um habitante de Springfield, Ohio esta semana: o mesmo discurso que gerou o momento mais mediático do debate Trump-Harris em que o candidato republicano acusou imigrantes de comerem animais de estimação.

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O momento terá apanhado de surpresa os conselheiros de Trump, que relatam à CNN que não foi a sua equipa que escreveu aquele ponto do seu discurso e apontam o dedo a Loomer. O mesmo aconteceu quando o ex-presidente questionou a etnia de Kamala Harris durante uma entrevista no final de julho. As mudanças improvisadas no discurso de Trump incomodam os republicanos — até às franjas mais conservadoras do partido –, que encontram nestas alterações a assinatura problemática de Loomer.

Dois dias antes do debate, a comentadora voltou a apontar armas à etnia da vice-presidente, desta vez à sua ascendência indiana. “Se Kamala Harris ganhar, a Casa Branca vai cheirar a caril e os discursos vão ser feitos através de call centers“, escreveu no X. A declaração profundamente racista foi classificada como tal por uma das apoiantes mais vocais de Trump, a congressista Marjorie Taylor Greene. “Isto é chocante e extremamente racista. Não representa quem somos enquanto republicanos ou MAGA. Isto não representa o Presidente Trump. Este tipo de comportamento não devia ser tolerado nunca”, respondeu Greene.

Apesar da congressista escrever que Loomer não representa Trump, o próprio não parece muito incomodado. “A Laura tem sido uma apoiante minha. Ela fala de forma muito positiva da minha campanha. Eu não controlo a Laura. Ela diz o que quer. Ela é um espírito livre“, declarou durante uma conferência de imprensa na Califórnia esta sexta-feira.

Laura Loomer confirma que é independente e que apoia Trump porque o vê “como a última esperança da nação”, cita a BBC. Trata-se ainda de uma forma de devolver o apoio que o ex-presidente lhe entregou durante as suas tentativas de entrar na vida política, quando se candidatou ao Congresso, pelo Estado da Flórida. Em 2020, perdeu para o representante democrata, em 2022, num distrito diferente foi derrotada nas primárias do partido republicano. Em ambas as ocasiões, Trump, que vota na Flórida, afirmou ter votado em Loomer.

Fora do Capitólio, a carreira de Loomer é mais bem sucedida nas redes sociais. Segundo a própria, foi banida do Facebook, do Instagram, da Uber e da Lyft, estas duas últimas por comentários contra motoristas muçulmanos. Em 2018, foi banida do, à data, Twitter, por conduta de ódio, e foi algemar-se à porta da sede da plataforma, com uma estrela de David na roupa. Afirmava estar a ser discriminada como os seus antepassados judeus no Holocausto, relata o New York Times.

Quando Elon Musk comprou o Twitter e o renomeou X, devolveu a conta a Loomer, onde a comentadora política reúne agora mais de 1,2 milhões de seguidores. A sua herança define o seu extremismo político, defendeu o ano passado. “Alguém me perguntou: ‘É a favor do nacionalismo branco?’ Sim. Sou a favor do nacionalismo branco. Mas há uma diferença entre nacionalismo branco e supremacia branca. Não é verdade? E muitos liberais e judeus marxistas globalistas de esquerda não entendem isso. Portanto, este país foi realmente construído como o etnoestado branco judaico-cristão, essencialmente. Com o tempo, a imigração e todos estes apelos à diversidade estão a começar a destruir este país”, afirmou, citada pelo jornal norte-americano.

Na altura, foi notícia porque Donald Trump afirmou que a queria convidar para fazer parte da sua campanha de forma oficial. O convite acabou por não ser feito, por insistência dos conselheiros mais próximos do ex-presidente. Mas, um ano depois Loomer aparece em público como parte deste grupo. Na reta final das campanhas, os candidatos costumam apelar aos moderados e indecisos, enquanto Trump prefere privar com a extrema-direita, nota o New York Times.