A Igreja Católica francesa admitiu esta segunda-feira que alguns bispos tiveram conhecimento, entre 1955 e 1957, dos abusos sexuais cometidos pelo abade Abbé Pierre, uma das personalidades mais estimadas em França quando morreu, em 2007.

A admissão foi feita pelo presidente da Conferência Episcopal Francesa, Eric Moulins-Beaufort, num artigo publicado esta segunda-feira pelo diário Le Monde, três dias depois de comentários do Papa Francisco sobre o caso de Pierre, fundador da instituição de caridade Emmaus.

Moulins-Beaufort disse que, desde 1955-1957, os bispos que sabiam que Abbé Pierre tinha “um comportamento grave com as mulheres” tomaram medidas, como “uma cura psiquiátrica” ou a imposição de um adjunto a cuja vigilância conseguiu escapar.

O arcebispo de Reims admitiu que as medidas impostas a Abbé Pierre podem ser consideradas insuficientes e criticadas por terem sido mantidas confidenciais.

“Representam, em todo o caso, uma forte reação tendo em conta os modos de agir da época, certamente na Igreja, mas também na sociedade em geral”, afirmou no artigo citado pela agência espanhola EFE.

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Moulins-Beaufort disse também que durante a vida do padre, “pelo menos em certos círculos de Emmaus”, se sabia que o famoso sacerdote “tinha de ser vigiado porque era perigoso para as mulheres que se aproximavam dele”.

Referiu que, ao mesmo tempo, nenhuma das biografias escritas sobre Abbé Pierre, nem os filmes que lhe foram dedicados, sugeriam que tivesse cometido agressões sexuais, uma questão que, na sua opinião, merece reflexão.

O Papa Francisco disse na sexta-feira, no voo de regresso de uma viagem à Ásia e Oceânia, que se congratulava com a vinda a público casos de abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica, como o do abade Pierre.

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Francisco disse também que estes casos devem ser denunciados em todos os âmbitos, porque são “algo demoníaco que destrói a dignidade das pessoas”.

O presidente da Conferência Episcopal Francesa tinha anunciado um dia antes que o sigilo relativo aos arquivos sobre a figura controversa do abade Pierre tinha sido levantado.

No artigo, o arcebispo francês insistiu que, agora, as vítimas “podem finalmente falar com a certeza de que serão ouvidas e acompanhadas”.

“Isto é um imenso progresso social“, afirmou.