Um projeto de valorização dos subprodutos oriundos da canábis medicinal como biopesticida, para eliminar doenças nos olivais, está a ser desenvolvido por um consórcio liderado pelo InnovPlantProtect (InPP) de Elvas, no distrito de Portalegre, foi divulgado esta quinta-feira.
Em comunicado enviado à agência Lusa, o Laboratório Colaborativo InPP explica que o projeto “ValorCannBio” vai receber um financiamento da “La Caixa/BPI” no valor de 150 mil euros.
Este projeto, segundo os responsáveis, vai permitir explorar os subprodutos da produção de canábis medicinal como biopesticidas “sustentáveis e eficazes” para controlar as principais doenças do olival, nomeadamente a gafa e a tuberculose.
“A gafa é considerada prioritária, por causar perdas de produção que podem atingir os 100% a que correspondem mais de 50 milhões de euros, a redução da qualidade do azeite e estar a levar ao desaparecimento do património genético das variedades de olival tradicional como a galega, altamente suscetível à doença”, lê-se no comunicado.
De acordo com o InPP, a tuberculose é uma doença do olival que se espalha pela “quase totalidade” dos olivais e que reduz a qualidade do azeite.
“Para contribuir para o controlo das duas doenças que afetam o olival, a equipa de investigadores envolvida no projeto desenvolverá um biopesticida a partir de folhas da planta de canábis, consideradas excedentes do processo de produção de canábis medicinal em Portugal, que legalmente têm de ser destruídas”, lê-se no documento.
Citada no comunicado, a investigadora Ana Rita Duarte, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, outro dos parceiros do projeto, explica que as soluções existentes no mercado para combater a gafa e a tuberculose “não são eficazes” e recaem em grupos dos pesticidas de síntese química, com “impactos negativos” no meio ambiente, e que estão a ser “descontinuados” no mercado.
Por outro lado, segundo a investigadora, as empresas de canábis podem vir a escoar os excedentes da biomassa para uma futura indústria produtora de biopesticidas, “evitando os altos custos” de destruição e apostando numa economia circular.
“Este projeto visa a integração dos conceitos de agricultura sustentável, aliados à química verde, para obtenção de produtos mais amigos do ambiente”, explica Ana Rita Duarte.
Também citada no comunicado, a diretora do departamento de novos biopesticidas do laboratório colaborativo InPP, Cristina Azevedo, o “ValorCannBio” vai contribuir para as metas estabelecidas pela Comissão Europeia na Estratégia do Prado ao Prato e da Biodiversidade, na redução de 50% do uso de pesticidas de síntese química até 2050.
“Todos os impactos do ´ValorCannBio` serão inicialmente sentidos no concelho de Elvas onde o projeto se vai desenvolver. No entanto, é expectável que estes se alarguem a toda a região de produção do olival, de Trás-os-Montes ao Algarve, onde as quebras de produção devido à gafa e à tuberculose estão em crescendo”, sublinha.
Este projeto liderado pelo InPP conta com a parceria do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, GreenBePharma (GBP) — produção de canábis medicinal e da AGR Global — cultivo e produção de olival.
O projeto, segundo os responsáveis, foi um dos vencedores da 6.ª edição do Programa Promove da Fundação “la Caixa”, em colaboração com o BPI e Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), na categoria de projetos-piloto inovadores.