As Forças de Defesa de Israel (IDF) garantem que não sabiam, quando identificaram um grupo de homens a fugir de um túnel para um prédio de apartamentos, que um daqueles homens era Yahya Sinwar, o líder do Hamas que se acredita ter sido o “arquiteto” dos ataques de 7 de outubro. Depois da rápida sucessão de eventos que levou à morte de Sinwar, no seu corpo, mutilado, foi encontrado dinheiro, um corta-unhas, um pacote de Mentos e, também, um misterioso passaporte que pertence a um professor ao serviço da UNRWA (agência da ONU) que está há meses no Egito.

De acordo com o relato feito pelo exército israelita, Yahya Sinwar foi morto depois de cometer um “erro grave” na altura em que foram reforçadas as operações israelitas naquela zona Tel Sultan (Rafah). Esse “erro grave” foi ter saído de um túnel onde estava escondido e ter sido visto a “mover-se como um fugitivo”, à medida que as forças israelitas estavam a cortar estradas e fazer explodir túneis.

Não foi apenas um homem a sair do túnel, foram três. Mas nessa altura, porém, as forças israelitas garantem que não tinham razão para achar que um deles podia ser o líder do Hamas. O major Doron Spielman, que fez uma descrição de como tudo aconteceu, disse que a fuga de Yahya Sinwar – do túnel para o apartamento – tinha acontecido na véspera: “Ele saiu do túnel, entrou num prédio de apartamentos e, a partir daí, [o Hamas] abriu fogo sobre as tropas israelitas que ali estavam”.

Um ano depois, Israel cortou “a cabeça da serpente”. A morte de Sinwar pode libertar os reféns e pôr fim à guerra em Gaza?

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Dois dos três homens foram vistos a sair do prédio, como que a abrir caminho para o terceiro, que viria a revelar-se ser Sinwar. Mas foi quando se identificou a origem das balas que “um tanque [israelita] ripostou”. O primeiro disparo feito pelo tanque atingiu a casa onde Sinwar estava, ferindo-o gravemente e deixando-o com um braço mutilado – embora também se admita que o braço de Sinwar tenha sido atingido na troca de tiros com a brigada Bislamach de Israel.

Depois desse primeiro disparo, em que foi usado o tanque, as forças israelitas quiseram perceber quem ali estava. Mas quando foram enviados soldados para entrar no edifício, Sinwar terá lançado duas granadas na sua direção.

Foi por isso que, receosos de que o local poderia estar armadilhado com bombas, a brigada israelita usou um drone para inspecionar o local, entrando por uma janela destruída, no segundo andar do prédio. E foi esse drone que captou as imagens que Israel decidiu divulgar: imagens que mostram um misterioso operacional do Hamas sentado num cadeirão, empoeirado, incapaz de se mover.

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Vendo o drone aproximar-se de si, Sinwar ainda teve força para lançar um bastão contra o aparelho, num aparente último ato de desafio.

Depois da altura em que as imagens foram recolhidas, “ele ainda tentou fugir mas as nossas forças eliminaram-no”, explicou Daniel Hagari, principal porta-voz das IDF, sem dar mais pormenores. De acordo com a imprensa israelita, momentos depois de as imagens terem sido recolhidas pelo drone, um tanque Merkeva fez mais um disparo contra o apartamento, matando o homem que só mais tarde se percebeu que poderia ser Yahya Sinwar.

Foram divulgadas, através das redes sociais, imagens que mostram o cadáver de Sinwar, preso debaixo dos escombros, em consequência desse último disparo feito pelo tanque. Ao lado do cadáver foi encontrado dinheiro, armas, um corta-unhas e um pacote de Mentos.

Havia, também, um misterioso passaporte que pertence a um professor ao serviço da agência da ONU que trabalha na Faixa de Gaza e em outras partes do Médio Oriente, a UNRWA.

Mais tarde, a imprensa israelita revelou que o dono daquele passaporte é, de facto, um professor da UNRWA mas que abandonou Gaza há vários meses, estando a viver no Egito desde então. Não foi dada qualquer explicação para o facto, alegado pelas forças israelitas, de aquele passaporte ter sido encontrado junto ao cadáver de Sinwar, com os seus outros pertences.