A situação no bairro do Zambujal, na Amadora, em Lisboa, está esta quarta-feira calma, sem policiamento visível, embora permaneçam sinais dos desacatos de terça-feira, como o autocarro queimado ainda no local.

O autocarro destruído pelas chamas encontra-se na esquina entre a Rua do Cerrado da Zambujeira e a Rua da Galega no Bairro do Zambujal, Lisboa, onde vivia Odair Moniz, de 43 anos, que foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira na Cova da Moura.

“Isto é apenas um grupo que anda aí a divertir-se mas acho que já chega. Eu estou aqui numa zona segura mas com crianças em casa, ficamos sempre com receio. É complicado“, disse à Lusa Cátia F, 38 anos, moradora no centro do bairro do Zambujal.

Carros incendiados e paragens de autocarro vandalizadas. Amadora acordou com rasto de destruição após protestos pela morte de Odair

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta quarta-feira de manhã, Cátia decidiu acompanhar as filhas, mas na terça-feira foi buscá-las ao fim da manhã “por uma questão de segurança” lamentando a ausência das forças policiais no bairro.

“A polícia devia cá estar. A polícia só aparece aqui à última hora”, afirmou.

A Lusa constatou esta quarta-feira de manhã que a situação é de calma: as crianças estão na escola, muitas pessoas foram trabalhar e alguns idosos dirigem-se para os cafés da zona.

“Eu creio que isto do autocarro foi apenas uma chamada de atenção para ver se alguém nos ouve. Hoje de manhã não está aqui nenhum polícia, mas também é precisa alguma segurança. Alguém do Governo devia justificar-se sobre o que se está a passar porque até agora não vimos nada”, disse à Lusa, Luís P, 45 anos, morador no centro do bairro.

O problema aqui e nestes bairros problemáticos são os polícias jovens que mandam para aqui. Não sabem lidar com o povo. Um jovem [polícia] de 19 ou 20 anos quando tem uma arma na mão sente-se superior”, disse Luís P, sublinhando que os agentes deveriam ter mais experiência.

Luís P. diz ainda que conhecia Odair Moniz, que se tratou “de uma injustiça”, acrescentando que as pessoas do bairro estão unidas.

“Não há problema entre nós. Como vê estamos aqui no café. Somos unidos, mas isto começa a ser um flagelo: polícias sem experiência a virem para bairros. Tudo isto foi uma grande injustiça”, realçou.

Os desacatos têm sucedido desde segunda-feira após a morte de um homem baleado pela PSP na Cova da Moura. Começaram no Bairro do Zambujal e espalharam-se a várias zonas de Lisboa, nomeadamente Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra) e Damaia (Amadora).

Dois autocarros e um carro incendiados, tiros e desacatos na Grande Lisboa após vigília por homem morto pela PSP

Na sequência dos desacatos, três pessoas foram detidas na terça-feira no concelho da Amadora, duas das quais por incêndio e agressões a agentes policiais e outro por incêndio e posse de material combustível, um agente foi apedrejado e duas viaturas policiais ficaram danificadas e vários caixotes do lixo foram incendiados. Um grupo tentou, sem sucesso, incendiar uma bomba de gasolina.

No bairro da Portela, Carnaxide, Oeiras, foi incendiado na terça-feira à noite um autocarro, além de vários caixotes do lixo e uma viatura ligeira.

A mesma fonte policial adiantou que antes do incêndio no autocarro, dois passageiros foram feridos sem gravidade e assaltados.

Já foi aberto inquérito para apurar as circunstâncias da ocorrência e o polícia que baleou o homem foi constituído arguido.