O líder parlamentar do Chega disse na quarta-feira à noite na RTP que “se a polícia atirasse mais a matar, o país estava em ordem”. O assunto chegou esta quinta-feira ao Parlamento, com várias bancadas a condenarem a declaração, mas André Ventura saiu em defesa do seu presidente da bancada e disse, em entrevista ao Now, que “se a polícia tiver de entrar a matar, também tem de entrar a matar“.

André Ventura considera que a polícia “tem de usar mais as armas em Portugal e tem medo de as usar.” E acrescenta: “Tenho a certeza que 90% [dos portugueses] concordava comigo”. O líder do Chega tentou justificar as palavras do assessor parlamentar que disse, sobre Odair Moniz, “menos um criminoso, menos um votante do Bloco de Esquerda”. E, para isso citou Winston Churchill: “Quando estamos debaixo de fogo, todos temos reações tempestuosas”. Acabou, no entanto, por admitir — referindo-se ao caso do assessor e não de Pedro Pinto — que “aqui e ali podem ter existido excessos”.

O caso de Pedro Pinto acabou por ser levado ao hemiciclo. O tema foi discutido entre os deputados do PS nas reuniões da manhã da direção do grupo parlamentar e da bancada. Na sequência da posição tomada, no arranque do plenário desta quinta-feira e ainda antes da ordem de trabalhos, Pedro Delgado Alves pediu a palavra para dar condenar as palavras de Pedro Pinto no debate da RTP frente a Fabian Figueiredo, do Bloco de Esquerda.

O vice-presidente da bancada socialista disse que Pedro Pinto proferiu expressões “atentatórias do Estado de Direito e especialmente graves no momento que o país atravessa”, remetendo um debate sobre a aplicação do código de conduta dos deputados para outro momento — eventualmente para a Conferência de Líderes ou na Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados. Ainda assim, quis utilizar o plenário para deixar a nota, o que motivou uma sucessão de reações.

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Apesar de repreendido pela presidente em exercício, Teresa Morais, por utilizar a interpelação à mesa para deixar criticas a Pedro Pinto, a discussão continuou. Depois de Pedro Delgado Alves, Pedro Pinto pediu a palavra para contrapor. O líder parlamentar do Chega começou por atirar que “um assunto que ocorreu fora do Parlamento não deve ser discutido no plenário“, acusando o deputado do PS de “má fé”, mas logo adiantou que o que disse no debate televisivo foi uma “simples suposição com algum tipo de ironia” e que “quem não perceber isso não está aqui [no Parlamento] a fazer nada”.

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A defesa de Pedro Pinto ficou a meio, porque o deputado do Chega ficou sem tempo e o microfone foi cortado, mas ainda se manteve a falar, já sem registo sonoro, durante mais alguns segundos, sendo interrompido por aplausos da bancada.

Depois da troca de acusações, as restantes bancadas pediram também a palavra. Fabian Figueiredo, que partilhou o debate televisivo com Pedro Pinto, disse que esta matéria deve ser discutida no âmbito da Conferência de Líderes parlamentares, uma posição apoiada pelo Livre — que sublinhou ainda que Pedro Pinto “tendo tido oportunidade de corrigir a declaração, não o fez”.

Já António Filipe, do PCP, um dos mais experientes parlamentares, quis dar conta de que para os comunistas “a atividade de um deputado não se pode restringir ao que se diz em plenário mas também à intervenção pública”. Esta posição dos comunistas foi apoiada por Inês Sousa Real, do PAN, que lembrou que teve a imunidade parlamentar levantada por causa de uma intervenção num debate na televisão. Também Hugo Soares, o líder parlamentar do PSD, apoiou a leitura do PCP e tentou pôr água na fervura ao dizer que “o que acontece na vida real deve poder ser objeto de debate no Parlamento“, mas que “não se deve sublinhar o disparate, o que não diz nada à vida das pessoas” e pediu para não se “fomentar o ódio e o populismo numa questão que deve ser tratada com seriedade”.

A fechar o incidente, a Iniciativa Liberal, através da líder da bancada Mariana Leitão, colocou-se ao lado do PS na condenação às palavras de Pedro Pinto e referiu que o Chega “anda há vários dias a alimentar o ódio”.