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O ministro dos Negócios Estrangeiros lançou formalmente em Nova Iorque, na quinta-feira, a campanha de Portugal para um lugar não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sob o lema “Prevenção, Parceria, Proteção”.
Num hotel em Nova Iorque, perante uma sala repleta de diplomatas das mais diversas geografias, Paulo Rangel destacou as vantagens da candidatura portuguesa e pediu apoio na votação que decorrerá em 2026 e na qual Portugal enfrentará a Alemanha e a Áustria.
De acordo com o ministro, Portugal apresentará uma “diplomacia preventiva”, “fará pontes” e apostará na “proteção”.
“Temos três principais lemas para esta campanha: Por um lado, a ideia de prevenir e evitar conflitos. Portanto, estar no Conselho de Segurança com aquilo que chamamos de diplomacia preventiva. Em segundo lugar, fazer pontes, sermos parceiros. Nós julgamos que, no plano internacional, e diria mesmo no plano mundial, o Estado português é conhecido por essa capacidade de fazer pontes em todos os continentes — da Oceânia à Ásia, da África às Américas ou na Europa”, defendeu Rangel em declarações aos jornalistas antes do evento.
“Portugal tem aquilo a que se chama de ‘soft power’, tem uma grande capacidade de poder suave, portanto de fazer pontes. Isso é muito relevante não apenas nas questões de segurança, mas também em agendas como, por exemplo, a reforma das finanças internacionais, de forma a que a dívida dos países mais pobres, como no caso de África, possa ser reestruturada. E depois também teremos a ideia da proteção”, argumentou.
A eleição em causa para o Conselho de Segurança — um dos órgãos mais importantes das Nações Unidas, cujo mandato é zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional — acontece em 2026, para o biénio 2027/2028.
Portugal tem como adversários diretos a Alemanha e a Áustria, numa disputa pelos dois lugares de membros não permanentes atribuídos ao grupo da Europa Ocidental e Outros Estados.
A candidatura foi formalizada em janeiro de 2013 e as eleições para o referido mandato realizam-se durante a 81.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2026, ano em que António Guterres termina o segundo mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU.
Na segunda-feira, o Governo anunciou que destinou 1,7 milhões de euros a esta candidatura.
Paulo Rangel está confiante de que Portugal se conseguirá diferenciar da Alemanha e da Áustria, dois países que “representam a mesma língua, o mesmo espaço” e têm “culturas muito similares”.
Já Portugal, observou o ministro, tem como fatores de vantagem e diferenciação a “vocação mais atlântica, a vocação mais marítima, a vocação mais universalista”, além de “uma presença importante nas Américas e em África, e de uma tradição grande na Ásia”, que são “ativos muito relevantes”.
“Estou absolutamente convicto que (…) se nós fizermos uma campanha em linha com aquilo que é a tradição portuguesa nas Nações Unidas, nós teremos assegurada a nossa eleição como membro não permanente para o biénio de 2027/2028. Isto não é excesso de confiança. Como eu digo, vamos ter que trabalhar até ao fim. Porque desde logo o voto é secreto. (…) Eu acho que nós temos muitos apoios em quantidade e em qualidade”, advogou.
“Acho que Portugal tem muitas hipóteses. E, aliás, já provou no passado ter adversários bem difíceis e ter conseguido vencer. Eu acho que o trunfo é, em primeiro lugar, a vocação global e universalista portuguesa. Esta capacidade de diálogo com o mundo inteiro”, frisou ainda Paulo Rangel, em Nova Iorque.
Rangel admite adaptações face à eleição de Trump, mas nega pessimismo
Questionado sobre o futuro das relações entre as Nações Unidas e a nova administração norte-americana de Donald Trump — que no primeiro mandato presidencial cortou o financiamento a várias agências da ONU e retirou-se da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) –, Paulo Rangel disse acreditar que a organização multilateral estará preparada para eventuais “constrangimentos”.
“É evidente que nós sabemos que a doutrina do presidente Trump no seu primeiro mandato foi sempre de menor investimento nas relações multilaterais e maior investimento nas relações bilaterais. Portanto, isso teve algumas consequências no financiamento da ONU. Mas, ao que julgo saber, a ONU também está preparada para poder ter alguns constrangimentos a esse nível, portanto, sinceramente, também não dramatizaria essa questão”, avaliou o ministro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros assumiu, em Nova Iorque, que um novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos (EUA) levará a que Portugal e a União Europeia façam adaptações, mas nega pessimismo.
“Para Portugal, os EUA são um parceiro estratégico fundamental. São um parceiro no âmbito da segurança, da defesa, hoje com relações económicas e culturais ao nível, por exemplo, da investigação e da ciência, fundamentais e com grandes benefícios para ambos os países. E por isso nós trabalhamos com qualquer administração americana. Sempre que há uma mudança de administração americana, e neste caso, até há uma mudança de partido (…),evidentemente, tem que haver ajustamentos, tem que haver adaptações”e, defendeu na quinta-feira Paulo Rangel.
Em declarações aos jornalistas em Nova Iorque, o ministro indicou que Portugal já está a preparar a agenda da relação com o governo de Donald Trump, admitindo a necessidade de se “fazer o trabalho de casa”.
“Nós trabalhamos com todas as administrações e já estamos a fazê-lo. (…) Fiz múltiplos contactos ao longo do dia com vários responsáveis americanos e com muitos representantes de vários países. (…) Portugal já está a preparar aquilo que será a agenda da próxima relação com a administração americana. Sinceramente, sobre esse ponto de vista, eu não estou verdadeiramente preocupado. Penso que nós temos que fazer o trabalho de casa e haverá com certeza ajustamentos”, advogou.
Questionado sobre o impacto que um corte no apoio norte-americano à Ucrânia teria na Europa, Paulo Rangel considerou prematuro abordar os planos do novo executivo republicano, quer para esse conflito, quer para outros ao redor do mundo.
Contudo, recordou as pressões que vêm sendo feitas por “várias administrações americanas” para um maior investimento em matéria militar e para que haja uma distribuição equitativa dos custos de defesa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
Ao longo do último ano, Donald Trump declarou que não pretende manter o apoio à Ucrânia e, há alguns meses, afirmou que encorajaria a Rússia a “fazer o que raio quisesse” com os países da NATO que não cumprissem as diretrizes de gastos com defesa.
“Sabemos que essa pressão, que já era grande e que não era apenas da administração Trump — a administração de Joe Biden foi a que levou isso mais longe em tempos práticos, foi a conseguiu mais resultados — vai aumentar”, disse Rangel.
“No caso português, as nossas relações são excelentes e nós vamos investir duplamente: vamos investir na relação bilateral e vamos investir naturalmente na relação que é feita em termos multilaterais, seja através da NATO, com defesa e segurança, seja através da União Europeia”, reforçou o ministro.
Para Paulo Rangel, uma mudança de política da administração norte-americana poderá dar à União Europeia “o incentivo a que alguns passos” sejam dados.
“Portanto, sinceramente, eu não tenho uma visão, digamos… eu não estou pessimista”, garantiu o líder da diplomacia portuguesa.
Em relação à agenda económica de Donald Trump, que defende a aplicação de tarifas e um maior protecionismo económico, Paulo Rangel recordou ainda que durante a administração de Joe Biden “a Lei da Redução da Inflação obrigou a negociações muito difíceis entre a União Europeia e os EUA, com impactos económicos importantes na Europa”.
“Portanto, haverá com certeza mudanças de alcance geopolítico e geoeconómico”, sublinhou. O republicano Donald Trump foi eleito o 47.º Presidente dos Estados Unidos, tendo superado os 270 votos necessários no colégio eleitoral, quando ainda decorre o apuramento dos resultados.