Mais polícia, mais segurança, menos adeptos. E um poder político atento. Com os confrontos violentos que estão a marcar a semana em Amesterdão, após um jogo de futebol que acabou com adeptos israelitas agredidos, todo o cuidado é pouco em Paris, que receberá um encontro entre a seleção francesa e a israelita esta quinta-feira. Por isso, o plano passa por aplicar uma segurança “ultrarreforçada” — e garantir que a política dá um sinal de solidariedade para com Israel.

As contas estão feitas e, no caso dos adeptos que irão marcar presença no encontro, são conservadoras. Desde logo, o prefeito da polícia de Paris, Laurent Nuñez, veio explicar esta semana que a polícia não determinou que houvesse um número limite de fãs dentro do estádio, mas a federação francesa de futebol comunicou que foram vendidos, até agora, 20 mil bilhetes — um quarto da capacidade do Stade de France.

“Antecipa-se um ambiente glaciar”, resume um texto do Le Figaro, que confirma que o público esperado será de 15 mil a 20 mil pessoas e relembra que na última vez que a equipa francesa jogou no seu “estádio habitual”, em junho de 2023, num jogo contra a Grécia, havia 58 mil pessoas a assistir nas bancadas.

Mas nem por isso o dispositivo de segurança é menor. Muito pelo contrário. Num jogo que o responsável pela polícia parisiense já classificou como sendo “de alto risco”, a imprensa francesa recorda que há motivos para preocupação por se tratar de um jogo contra Israel, pela violência que se arrasta em Amesterdão desde a semana passada e até porque, tratando-se da semana em que passam nove anos dos atentados do 13 de novembro em Paris, a segurança teria sempre de ser reforçada.

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Assim, como conta o The Guardian, mesmo com menos público serão convocados entre quatro a cinco mil polícias — o que compara com o máximo habitual de 1300 agentes que costumam acompanhar a seleção francesa num jogo que esteja esgotado — e que estarão colocados dentro e fora do estádio parisiense, assim como nos transportes públicos. A somar a estes elementos, haverá 1600 seguranças a trabalhar nessa noite, e uma unidade policial “de elite” a proteger a equipa israelita.

Nuñez já veio dizer que o ministro do Interior disponibilizou “os recursos das forças internas de segurança”, que permitirão que as forças francesas “sejam extremamente reativas e previnam quaisquer excessos, distúrbios da ordem pública, durante ou depois do jogo, ou a caminho do jogo”.

Ainda assim, as autoridades israelitas estão a aconselhar os adeptos da seleção a não marcarem presença no jogo e a evitarem utilizar “símbolos judaicos ou israelitas visíveis”. O Conselho Nacional de Segurança Israelita disse no domingo, citado pelo Guardian, que há “grupos que querem atacar israelitas” que estão a ser identificados em “várias cidades europeias”, incluindo Paris.

Macron e Barnier no estádio, França Insubmissa pede cancelamento

Entretanto, o poder político tenta dar provas de que todos os cenários estão acautelados — e que os israelitas não têm de temer a deslocação a Paris. “Os futebolistas e adeptos israelitas são bem-vindos a Paris”, veio esta terça-feira garantir o ministro francês para os Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, numa entrevista ao canal CNews.

“O desporto deve ser um momento de amizade entre os povos, de festa e de encontro”, disse o ministro, recusando “politizar” o futebol — por contraponto com a França Insubmissa, coligação que já conta com vários responsáveis a pedirem o cancelamento do jogo. Mas o governo discorda, e para provar isso mesmo contará com a presença do Presidente, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro, Michel Barnier, nas bancadas.

Para o ministro, a presença do poder político passa uma mensagem de “amizade e fraternidade”, que vem contrariar “a explosão de violência e de ódio antissemita em todo o lado na Europa”. Já Macron classificou a sua aparição como um gesto de “fraternidade e solidariedade” para com os adeptos judeus atacados em Amesterdão, na sequência de “atos intoleráveis de antissemitismo”, além de querer “mostrar o seu apoio total pela equipa francesa, como sempre”.

A atitude preventiva da política francesa surge depois de o primeiro-ministro holandês, Dick Schoof, ter condenado a “violência antissemita contra israelitas”, tendo planos para se encontrar com grupos de representantes da comunidade judaica esta terça-feira. Já o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, comparou o acontecimento ao massacre da Noite de Cristal, quando 91 judeus foram assassinados. Israel tem feito pressão para que os Países Baixos sejam duros a lidar com a situação e com os provocadores dos confrontos — registando que o número de detenções é “muito baixo” –, tendo-se oferecido também para ajudar nas investigações.

A prevenção torna-se ainda mais necessária depois de terem surgido notícias do israelita Channel 12 que davam nota de que o perigo de violência organizada de grupos pró-Palestina no jogo entre o Maccabi Telavive e o Ajax teria sido previamente identificado pelas autoridades israelitas, mas sem ser comunicado nem ao clube nem aos fãs. O ministério da Diáspora israelita chegou mesmo a elaborar um documento na quarta-feira em que sublinhava o “risco muito elevado” de ataques a israelitas. O perigo identificado baseava-se em “indicações” monitorizadas pelo ministério nas redes sociais.

Agressões terão sido combinadas no Telegram

Em Amesterdão, continuaram a registar-se desacatos durante a noite desta segunda-feira, numa espiral de violência que se tem prolongado desde a semana passada. O chefe da polícia da cidade, Peter Holla, falou em “incidentes dos dois lados”. Os membros da grande comunidade muçulmana que existe na cidade holandesa queixam-se de adeptos do Maccabi Telavive, que estava a jogar contra o Ajax, por terem queimado e destruído bandeiras palestinianas e entoado cânticos como “olé, olé, deixem o exército israelita ganhar, vamos destruir os árabes”.

Já o autarca de Amesterdão, Femke Halseman, falou em grupos “antissemitas” que atacaram os adeptos do Maccabi Telavive, existindo vídeos em que são visíveis as agressões a pessoas vestidas com as cores da equipa. Os adeptos foram agredidos e perseguidos por grupos violentos, existindo indicações de que essas agressões estariam a ser preparadas em grupos de Telegram dias antes.

Na sequência destes confrontos, cinco pessoas receberam tratamento hospitalar e 30 ficaram feridas. Segundo o The Guardian, há quatro suspeitos que continuam detidos e que serão ouvidos em tribunal esta semana, sendo que Amesterdão continua em estado de emergência.

França com dispositivo de 4 mil polícias para jogo de alto risco com Israel