O antigo empresário da comunicação social Jimmy Lai Chee-ying disse esta quarta-feira, em tribunal, que pediu em 2019 ao então vice-presidente dos EUA, Mike Pence, que apoiasse o movimento pró-democracia em Hong Kong.
“Pedi (a Mike Pence) que se manifestasse a favor de Hong Kong, para nos apoiar”, disse Jimmy Lai, referindo que estava fora do seu alcance apelar ao dirigente norte-americano para tomar qualquer ação concreta.
Antes do primeiro depoimento desde que foi detido, há quase quatro anos, Lai acenou à audiência do julgamento, rodeado por quatro agentes da polícia.
O empresário é acusado de “conluio com forças estrangeiras” e sedição, à luz da lei de segurança nacional, imposta a Hong Kong por Pequim em 2020, enfrentando uma pena de prisão perpétua.
No início do julgamento, Lai defendeu que o jornal Apple Daily, que dirigia e que foi entretanto encerrado, encarnava os “valores fundamentais do povo de Hong Kong” e queria promover a liberdade.
O jornal refletiu os “valores fundamentais do povo de Hong Kong (…), o Estado de Direito, a liberdade, a defesa da democracia”, sublinhou.
“Quanto mais sabemos, mais livres somos”, acrescentou o empresário, afirmando que se opõe à violência e é contra a independência de Hong Kong, algo “demasiado louco para se pensar”.
Lai está atualmente a cumprir uma pena de cinco anos e nove meses de prisão por duas acusações de fraude e também foi condenado a 20 meses de prisão por participar em protestos pró-democracia “não autorizados” em 2019 e 2020 em Hong Kong, região vizinha de Macau.
Em outubro, o filho, Sebastian Lai, disse em Londres que o pai, que sofre de diabetes, está há mais de 1.300 dias em regime de isolamento, pelo que “a situação em termos de saúde deteriorou-se bastante”.
O julgamento de Jimmy Lai, nascido na China mas detentor de nacionalidade britânica, é o mais mediático de vários casos de jornalistas e ativistas pró-democracia a decorrer na justiça em Hong Kong.
Na terça-feira, a justiça da região condenou 45 ativistas a penas de prisão de até dez anos por terem realizado primárias não oficiais em 2020 para selecionar os candidatos da oposição para o parlamento.
O jurista Benny Tai Yiu-ting e outros 30 arguidos, incluindo o antigo líder estudantil Joshua Wong Chi-fung e a antiga deputada Claudia Mo Man-ching, tinham-se declarado culpados em maio.
Outros 14 arguidos tinham-se declarado inocentes, entre os quais o ex-deputado Leung Kwok-hung (um antigo marxista conhecido como ‘Cabelo Longo’) e a jornalista Gwyneth Ho Kwai-lam.
O Ministério Público acusou-os de tentarem garantir uma maioria legislativa para vetar indiscriminadamente os orçamentos e assim paralisar o governo e derrubar a então líder da cidade, Carrie Lam Cheng Yuet-ngor.
As primárias de julho de 2020 atraíram cerca de 610 mil pessoas, mais de 13% do eleitorado registado na cidade. Mas o governo adiou as eleições legislativas, devido à pandemia.
Pequim acusa magnata Jimmy Lai de ser “agente das forças anti-China”
O magnata de Hong Kong, Jimmy Lai, é “um agente e um peão das forças anti – China” para o regime em Pequim, depois de o empresário testemunhar pela primeira vez na antiga colónia britânica, num julgamento por crimes contra a segurança nacional.
O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Lin Jian disse esta quarta-feira em conferência de imprensa que “Hong Kong é uma sociedade regida pelo Estado de direito” e que “ninguém pode usar a bandeira da liberdade para se envolver em atividades ilegais e tentativas de escapar à lei”.
Lin afirmou que o sistema judicial de Hong Kong “exerce o seu poder judicial de forma independente, em conformidade com a lei, com procedimentos justos e imparciais e com audiências abertas e transparentes”.
“O Governo central chinês apoia firmemente a região administrativa de Hong Kong na proteção da segurança nacional”, acrescentou, manifestando “oposição” à “interferência de países individuais nos assuntos internos da China, desacreditando e minando o Estado de direito em Hong Kong”.
O processo contra Lai, que já está a cumprir uma pena de mais de cinco anos sob a acusação de fraude por alegadas violações do contrato de arrendamento da sua empresa multimédia, foi retomado esta quarta-feira em Hong Kong com o seu testemunho, após quase quatro anos de detenção.
Lai, de 76 anos, um crítico do Partido Comunista Chinês (PCC), e as suas empresas enfrentam três acusações ao abrigo da rigorosa Lei de Segurança Nacional de Pequim em Hong Kong, incluindo alegada conivência com “forças estrangeiras” e sedição.
As acusações estão relacionadas com alegados apelos a sanções internacionais contra a cidade e a China por parte do magnata, bem como com o seu papel “no incitamento ao ódio público” durante protestos maciços contra o governo de Hong Kong, em 2019.
Pequim integrou a lei de segurança nacional na miniconstituição de Hong Kong em junho de 2020, em resposta aos protestos.