As guerras culturais já invadiram o interior do Capitólio. Depois de as eleições que decorreram nos Estados Unidos em novembro terem levado à eleição da primeira congressista assumidamente transgénero, Sarah McBride, uma representante republicana anunciou que vai levar a votos uma proposta para a impedir de entrar nas casas de banho femininas do edifício do Congresso. E deverá contar com o apoio dos republicanos na Câmara dos Representantes.
Como o The New York Times conta, foi ainda durante a semana de orientação para os novos membros do Congresso — dias em que os representantes que acabaram de ser eleitos aprendem a apresentar uma proposta de lei ou recebem treinos de cibersegurança — que a republicana Nancy Mace, de South Carolina, anunciou que planeia entregar uma proposta que impedirá mulheres transgénero de usar as casas de banho e balneários femininos no recinto do Capitólio.
E falou especificamente do caso da democrata Sarah McBride, dizendo aos jornalistas que esta “não tem uma palavra a dizer” e que a considera “biologicamente um homem”, pelo que, na sua opinião, McBride “não tem espaço nos espaços para mulheres, casas de banho, balneários, vestiários — ponto final”.
“Vou, com 100% de certeza, colocar-me no caminho de qualquer homem que queira estar numa casa de banho feminina”, disparou.
Num primeiro momento, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, disse aos jornalistas que recusaria entrar em “debates tontos” sobre o assunto, em resposta a uma questão sobre se considera que McBride é um homem ou uma mulher. E disse que existe uma “preocupação” sobre o uso destes espaços; uma preocupação nova, uma vez que é um assunto que “o Congresso nunca teve de abordar antes”, e que garantiu que seria considerada “acomodando as necessidades de todas as pessoas”.
Umas horas depois, Johnson sinalizou o seu apoio à proposta, como contava aqui a Associated Press. “Não vamos ter homens nas casas de banho das mulheres”, atirou, garantindo ter uma posição “consistente” sobre o assunto. Alguns democratas já reagiram à proposta classificando-a como uma forma de “bullying”.
A democrata visada, McBride, defendeu que esta é uma “tentativa flagrante de extremistas de direita para nos distraírem do facto de não terem soluções reais para os americanos”: “Devíamos estar focados em baixar o preço das casas, Saúde, e creches, e não a fabricar guerras culturais”.
This is a blatant attempt from far right-wing extremists to distract from the fact that they have no real solutions to what Americans are facing. We should be focused on bringing down the cost of housing, health care, and child care, not manufacturing culture wars.
Delawareans…
— Sarah McBride (@SarahEMcBride) November 19, 2024
Quando foi eleita, após uma campanha em que conseguiu angariar mais de três milhões de dólares e depois de em 2016 ter sido a primeira pessoa assumidamente transgénero a participar numa convenção de um dos maiores partidos norte-americanos, McBride disse que a sua eleição provava que no seu estado (Delaware) os candidatos são julgados “com base nas suas ideias e não nas suas identidades”.
Fora das paredes do Capitólio, o Partido Republicano tem apresentado várias propostas neste sentido. A nível de legislação federal, são vários os estados em que o partido tem proposto leis para impedir que pessoas que não se identificam com o sexo com que foram identificados à nascença usem outra casa de banho. Além disso, pelo menos onze estados adotaram propostas para impedir que raparigas e mulheres transgénero entrem em casas de banho femininas em escolas públicas.