Pode ser a segunda opção de Donald Trump para assumir o cargo de Procuradora-geral dos Estados Unidos da América (EUA), mas, no reverso da relação, Pam Bondi sempre colocou o recém-eleito Presidente dos EUA no topo das suas prioridades profissionais e políticas.

Foi, nos últimos anos, uma aliada incontornável do republicano, quando este venceu as eleição de 2016, mas também quando perdeu a corrida presidencial em 2020. Até mesmo no processo com o objetivo de impedir Trump de voltar a concorrer à presidência norte-americana, Bondi esteve sempre lá.

A escolha da republicana foi confirmada poucas horas depois de Matt Gaetz, a primeira opção, ter abandonado a corrida antes de sequer ser confirmado no cargo. Além das suas posições polémicas enquanto congressista e a sua impopularidade dentro do Partido Republicano, Gaetz era ainda alvo de uma investigação do Comité de Ética, por conduta sexual indevida. Terá pago para ter sexo com uma menor de 17 anos.

De procuradora assistente em Hillsborough à estreia enquanto primeira mulher procuradora-geral da Florida

Filha de um autarca de um pequeno município da área de Tampa, Pam Bondi começou a trabalhar como procuradora estadual assistente no condado de Hillsborough na década de 90. Durante 18 anos, foi como procuradora local que julgou casos de todos os tamanhos e feitios. Segundo cita o The New York Times, os casos que lhe eram alocados “iam desde violência doméstica a homicídio capital”.

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Quase duas décadas depois, tornou-se a primeira mulher a chegar à posição de procuradora-geral do Estado da Florida. Permaneceu no cargo durante oito anos, de 2011 a 2019.

Durante o seu mandado, a republicana enfrentou vários processos mediáticos, entre eles o de um tiroteio numa discoteca LGBTQ+ em Orlando, em 2016. Morreram 50 pessoas e dezenas ficaram feridas. Bondi liderava, nessa altura, uma luta legal, que já durava há vários anos, para preservar a proibição constitucional do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Florida.

Numa entrevista que ficou popular, foi confrontada por Anderson Cooper, da CNN, com a aparente “hipocrisia” por surgir enquanto defensora da comunidade gay que tinha acabado de ser atacada pelo Estado Islâmico, já que durante anos pugnou pela proibição do casamento gay no Estado que representava. Respondeu que estava a defender a constituição norte-americana.

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Dois anos depois, em 2018, voltou ao espaço mediático por pedir a pena de morte para o autor do massacre em Parkland, na escola secundária Marjory Stoneman Douglas. Nicolas Cruz, antigo aluno do estabelecimento de ensino, na altura com 19 anos, baleou indiscriminadamente membros da comunidade escolar. Do ataque resultaram 17 mortos e o mesmo número de feridos. Pam Bondi apoiou, na sequência deste caso, o governador Rick Scott na aprovação da primeira legislação de restrição de armas na Florida, que aumentou a idade mínima para alguém comprar uma arma de 18 para 21 anos.

A aliança com Trump que nasceu de um donativo indevido à candidatura estadual de Bondi

Bondi, atualmente com 59 anos, é uma aliada de longa data de Donald Trump e já em 2016, no primeiro mandato do republicano, tinha sido considerada como possível candidata ao cargo de Procuradora-geral dos EUA. Trump optou por William Barr.

Há oito anos, a então procuradora-geral da Florida estreou-se no comentário televisivo, na Fox News, onde defendia o candidato Trump acirradamente. Na verdade, deixou para trás o apoio a um candidato do seu próprio estado, Marco Rubio, para apoiar a candidatura do então milionário sem carreira política relevante anterior.

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Nessa altura a Associated Press revelou que Bondi tinha pedido pessoalmente a Trump um donativo para a sua campanha estadual três anos antes. Os fundos, no valor de 25 mil dólares, foram trocados através da fundação da família Trump, o que violou as políticas relativas a instituições de caridade envolvidas em candidaturas políticas norte-americanas.

Além de constituir uma transação ilegal, o donativo surgiu numa altura em que o gabinete da procuradoria estadual de Bondi ponderava juntar-se à procuradoria de Nova Iorque numa investigação às universidades de Trump, devido a alegações de fraude em relação ao programa curricular dos cursos empresariais, bem como das promessas vãs em relação a saídas profissionais garantidas.

Segundo as investigações jornalísticas, o momento em que Bondi recuou na participação na investigação interestadual coincide com aquele em que lhe chegou às mãos o donativo por parte de Donald Trump.

Da procuradoria à advocacia para defender Trump durante o processo de impeachment, em 2019

Da procuradoria-geral da Florida, Bondi passou a trabalhar como lobista na Ballard Partners. Era sócia de Susie Wiles, chefe de campanha de Trump e a nova chefe de gabinete do Presidente eleito dos EUA. Os clientes da empresa de lobby nos EUA incluíam, segundo a Associated Press, a General Motors e um grupo cristão de defesa do tráfico humano.

A ligação entre Pam Bondi e Donald Trump estava consolidada anos antes, mas em 2019, a até então procuradora estadual integrou a equipa jurídica que defendeu o republicano no seu primeiro processo de impeachment (impugnação), quando foi acusado, mas não condenado, de tentar que a assistência militar à Ucrânia dependesse da vontade daquele país em investigar Joe Biden.

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Bondi tem sido, ao longo dos últimos anos, uma voz ativa nas duras críticas aos processos criminais contra Trump, durante o seu primeiro mandato, bem como contra Jack Smith, o procurador que acusou o então Presidente em dois casos federais. A republicana descreveu Smith e outros procuradores que acusavam Trump enquanto pessoas e profissionais “horríveis” que “armadilhavam” o sistema jurídico norte-americano com estes processos.

Uma figura unânime entre republicanos que a consideram uma boa alternativa a Gaetz

“Tenho o orgulho de anunciar a ex-procuradora-geral do Grande Estado da Flórida, Pam Bondi, como a nossa próxima procuradora-geral dos Estados Unidos. Pam foi procuradora durante quase 20 anos, onde foi muito dura com os criminosos violentos”, disse Trump numa publicação do Truth Social.

A ser confirmada, Bondi vai juntar-se a vários outros membros de antigas equipas jurídicas de Trump no Departamento de Justiça. De acordo com fontes próximas ao processo de nomeação daquela que será a nova Procuradora-geral dos EUA, os conselheiros de Trump consideram a antiga procuradora da Florida enquanto uma figura unânime dentro do Partido Republicano.

Reagindo ao anúncio da nomeação de Bondi, a senadora republicana Lindsey Graham previu que a nova opção apontada por Trump “será confirmada rapidamente”, em oposição ao impasse gerado pela suposta nomeação de Gaetz.

A notícia da nomeação de Bondi surgiu cerca de seis horas depois de Gaetz ter dito que não se iria candidatar ao cargo de alto nível. Ao anunciar a sua retirada, o homem de 41 anos deitou por terra a controvérsia sobre a sua potencial nomeação. “Estava a tornar-se injustamente uma distração” para o trabalho da próxima administração Trump, garantiu.