O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que se manteve próximo de Moscovo apesar da guerra na Ucrânia, apelou esta quarta-feira ao Ocidente para que não desvalorize as ameaças da Rússia, um país com “as armas mais destrutivas do mundo”.
Quando “um país como a Rússia, que é diferente de nós e que faz assentar a sua política e o seu lugar no mundo em geral na força militar”, se pronuncia sobre o assunto, “temos de levar [estas ameaças] a sério”, declarou Orbán numa entrevista radiofónica.
Depois de um míssil balístico russo ter sido disparado contra uma fábrica de armamento ucraniana, o Presidente russo, Vladimir Putin, dirigiu-se ao país na quinta-feira à noite, afirmando que a guerra na Ucrânia assumiu agora um “caráter global” e ameaçando atacar os aliados de Kiev.
A Rússia, que afirmou estar “preparada para todos os cenários”, alterou recentemente a sua doutrina nuclear para alargar a possibilidade de utilização de armas atómicas.
“Não se trata de conversa fiada” ou de “um estratagema de comunicação”, as palavras do Presidente russo “têm peso” e “haverá consequências”, considerou o líder húngaro, antes de recordar que Moscovo “possui um dos Exércitos mais fortes do mundo, com armas das mais modernas e com maior capacidade de destruição”.
Viktor Orbán exorta regularmente a negociações de paz com a Rússia e opõe-se à ajuda militar europeia à Ucrânia, alertando com frequência para o risco de uma terceira guerra mundial.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e “desnazificar” o país vizinho, independente desde 1991 – após o desmoronamento da União Soviética – e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
Quase a atingir o terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.
As tropas russas, mais numerosas e mais bem equipadas, prosseguem o seu avanço na frente oriental, apesar da ofensiva ucraniana na Rússia, na região de Kursk, e da recente autorização do Presidente norte-americano, Joe Biden, para utilizar mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos para atacar a Rússia.
As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.