A comissária europeia cessante para os Assuntos Internos defendeu que uma boa gestão das migrações vai retirar “combustível” à extrema-direita e considerou uma vitória do seu mandato a aprovação da política de migrações.

“Não vou ser ingénua, ainda há desafios, mas demonstrámos que as migrações são uma questão que é possível gerir, especialmente quando trabalhamos em conjunto”, disse Ylva Johansson, em entrevista à Lusa e outras agências de notícias.

A comissária considerou que há cinco anos, quando iniciou funções, as decisões políticas sobre as migrações “eram vistas como um tópico tóxico”.

“Ninguém queria realmente chegar-se à frente e eu acho que isso se alterou dramaticamente e a decisão do Novo Pacto em Matéria de Migrações e Asilo é histórico”, completou.

A comissária defendeu que a União Europeia foi pioneira nesta matéria: “Se olharmos a nível mundial, de facto, somos os únicos que conseguiram acordar um pacto de migrações compreensivo.”

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“Olhem para os Estados Unidos da América, por exemplo. Em 40 anos não conseguiram um apoio bipartidário [do Partido Democrata e do Partido Republicano] nesta matéria, e ainda estão longe de o alcançar”, completou.

Ylva Johansson disse que “95%, talvez 97% das posições dos Estados-membros [sobre as migrações] são uma questão demográfica e só cerca de 3% são ideologia”. Cada Estado-membro tinha as suas preocupações, daí ter levado tanto tempo até que se encontrasse um caminho o mais consensual possível.

Mas resolver o desafio das migrações também tem efeitos na ideologia, nomeadamente em retirar força às ideias xenófobas, racistas e discriminatórias, afirmou.

“Se continuarmos a trabalhar em conjunto e a demonstrar que é possível gerir [as migrações], a longo prazo isso vai retirar oxigénio à extrema-direita”, advogou.

“Nós andávamos a falhar nas migrações e isso era combustível para a extrema-direita”, resumiu.

As Canárias, arquipélago de Espanha, são um ponto de preocupação, já que o fluxo de passagem de pessoas, provenientes, principalmente, de África, tem aumentado drasticamente, pelo que Ylva Johansson disse que tem de ser abordada no próximo mandato.

E a propósito dos próximos cinco anos, ainda com Ursula von der Leyen ao leme da Comissão Europeia, mas com outro comissário para os Assuntos Internos, Ylva Johansson apontou três desafios para o executivo comunitário: os conflitos internacionais, as alterações climáticas e a Presidência dos Estados Unidos do republicano Donald Trump.

Estes três tópicos, acrescentou, também estão na origem de deslocações de pessoas.