As forças rebeldes abriram as portas de várias prisões deixando sair centenas de detidos, espantados e exultantes ao mesmo tempo.
Por todo o país, há festejos de famílias que estão a reencontrar os parentes — filhos, irmãos, maridos e outros — que desapareceram há anos no sistema prisional sírio. Os recém-libertados, conta a Reuters, correm pelas ruas de Damasco levantando os dedos da mão para mostrar há quantos anos foram encarcerados e perguntando aos populares o que aconteceu. Muitos não sabem que a sua libertação se deve à queda do regime liderado por Bashar al-Assad. Num vídeo, um homem correr, pára perguntar o que aconteceu, dizem-lhe que Assad caiu, sorri, e continua correr.
Happiness.
“I was sentenced to 10 years in prison. What happened? “The regime fell” The continued release of detainees from Assad's prisons. pic.twitter.com/mtnKi1xW5Y— Decko. (@Frankzm) December 8, 2024
Um outro vídeo que foi posto a circular pelos movimentos rebeldes mostra a libertação de mulheres da ala feminina da cadeia em Sednaya, uma prisão militar nos arredores de Damasco conhecida pela brutalidade com que tratava e torturava os detidos.
#Syria: incredible scenes from the moment the prison cells were opened at the women's detention area of Sednaya prison. pic.twitter.com/JqaFuswz8z
— Thomas van Linge (@ThomasVLinge) December 8, 2024
“Que Deus te honre”. É o grito dirigido por uma mulher ao homem que a libertou. À medida que várias mulheres abandonam o estabelecimento prisional, vê-se uma criança a andar pelos corredores. Terá sido presa com a mãe. “Ele (Assad) caiu. Não tenham medo”, diz a uma voz que tenta tranquilizar os recém-libertos.
Desde que começou a guerra civil em 2011, as forças de segurança detiveram centenas de milhares de pessoas em campos de detenção onde, segundo as organizações não governamentais, era corrente a prática de tortura. Muitas vezes as famílias nunca souberam o que aconteceu aos seus membros que estavam nesses campos.
Mas as detenções de opositores políticos começaram muito antes da guerra civil.
Num relato ao The Guardian um dia antes da tomada de Damasco, um sírio contou a busca pelo irmão que desapareceu há 39 anos. Em 1986, soldados prenderam o estudante Ali Hassan al-Ali, então com 18 anos, num controlo policial no norte do Líbano. Era acusado de agitação política. O irmão mais novo, que não foi preso, passou décadas a visitar diferentes centros de detenção sírios, tendo recebido informação contraditória sobre o destino do irmão.
Quando os detidos começaram a ser libertados das cidades ocupadas pelos rebeldes, primeiro Aleppo e depois Homs, o telemóvel do irmão mais novo começou a tocar. Amigos e família enviaram-lhe a imagem de um homem com ar desmazelado que teria mais de 50 anos. Fora libertado da prisão central da cidade de Hama. O irmão que foi detido como um jovem saia agora em liberdade como um “homem velho”, com 57 anos.