Os antigos parceiros de geringonça já iniciaram o ataque a António Costa antes ainda do antigo primeiro-ministro aquecer o lugar. No debate de preparação do Conselho Europeu esta quarta-feira — no qual o português, ao contrário de Ursula von der Leyen decidiu não estar presente — o eurdeputado do PCP João Oliveira abriu as hostilidades ao dizer que “quem criou expectativas com a escolha de António Costa para a presidência do Conselho Europeu, certamente está desiludido ao perceber que não há mudanças nas políticas na UE.”

João Oliveira, que era um líder parlamentar ativo nas negociações com Costa na geringonça disse ainda no hemiciclo que “a primeira reunião de António Costa à frente do Conselho Europeu ficará marcado pelos planos para o prolongamento indefinido da Guerra da Ucrânia e na teimosia da política das sanções, da inação perante o genocídio do povo palestiniano, na desumanidade da política das migrações.” O comunista deixou ainda “a Costa uma sugestão” para o seu primeiro Conselho Europeu: “Leve a essa reunião a palavra de ordem que em Portugal é gritada nas ruas, de que o aumento do salário é justo e necessário. Esse seria um bom contributo.”

A desilusão com António Costa foi partilhada pela então líder do Bloco de Esquerda que negociou com Costa a geringonça. Catarina Martins disse na sua intervenção que “a direita dita democrática está aliada à extrema-direita de Netanyahu ou Erdogan” e que “socialistas e verdes só querem estar na fotografia desta governação europeia.” E questiona a família política de Costa:  “Não lhes pesa na consciência?”

Catarina Martins sugere ainda que com a substituição de Charles Michel por Costa nada mudará: “Von der Leyen esteve em Israel e esqueceu a Palestina. Esteve na Turquia  esqueceu o povo curdo e as mulheres. E o Conselho, o que dirá? A escolha de António Costa mudará alguma coisa?”

O curioso é que a maior defesa de António Costa foi feita pelo chefe de delegação do PSD em Bruxelas, Paulo Cunha, que desejou que o novo mandato de António Costa “seja o início de um tempo novo na UE”. E acrescentou mesmo: “Estamos patrioticamente satisfeitos por ver António Costa a presidir ao Conselho Europeu. Sabendo como foi importante o apoio do PSD em Portugal e do PPE na UE”. Mesmo a antiga ministra do PS, Ana Catarina Mendes, não falou propriamente com entusiasmo de António Costa antes da preparação da primeira reunião do seu antigo primeiro-ministro, limitando-se a dizer: “Aproveito a oportunidade para desejar um bom mandato ao novo presidente do Conselho Europeu”.

Havia a expectativa por parte dos eurodeputados das várias bancadas que António Costa marcasse presença em plenário (o que não sendo obrigatório nem seja regular), era algo que podia fazer e que, por exemplo, Charles Michel fez há cinco anos — quando até discursou. Costa optou por não estar presente, mas não se livrou de ter as orelhas quentes dos antigos parceiros de geringonça.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR