O TikTok voltou a enfatizar que está a colaborar com as autoridades romenas e europeias devido às preocupações levantadas pela suspeita de uma alegada interferência eleitoral nas presidenciais da Roménia, com a vitória inesperada do candidato Călin Georgescu na primeira volta (um resultado entretanto anulado pela justiça do país). Numa mesa redonda em que o Observador esteve presente, a rede social mostrou também confiança nas legislações adotadas em solo europeu e aparentou não temer receber o ‘tratamento EUA’, onde pode ser bloqueada já em janeiro, na Europa.

Aos jornalistas portugueses, no final da tarde desta quinta-feira, Enrico Bellini, diretor de Relações Governamentais do TikTok para a Europa do Sul, não quis “entrar em pormenores” quanto às investigações que estão em curso, mas reafirmou a “colaboração total” com as autoridades e indicou que a rede social lidou com as eleições romenas da mesma forma que com as restantes 150 que decorreram este ano em todo o mundo. “Um fator importante a realçar é que temos 95 moderadores que falam romeno, o número mais elevado da indústria”, acrescentou.

Temos sido muito transparentes e abertos à conversação, não só com as instituições romenas, mas também com as europeias”, afirmou Enrico Bellini, lembrando que o TikTok não era a “única plataforma a operar na Roménia durante as eleições”.

Desde setembro e até ao momento, o TikTok diz ter conseguido “evitar proativamente quase 45 milhões de gostos falsos, mais de 27 milhões de pedidos falsos para seguir e bloquear a criação de mais de 400 mil contas de spam na Roménia“. Também foram removidas mais de 115 mil contas falsas, mais de sete milhões de gostos falsos, mais de 11 milhões de seguidores falsos e mais de 1.100 contas que “imitavam” e se faziam passar pelos candidatos presidenciais.

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Numa altura em que o escrutínio em território europeu tem aumentado, ao mesmo tempo em que continua a tentar evitar uma proibição em solo norte-americano, o Observador questionou o TikTok sobre se tinha receio de enfrentar um possível bloqueio também na Europa. Enrico Bellini começou por lembrar que “há um processo aberto no Supremo Tribunal” dos EUA em defesa da “liberdade de expressão dos cidadãos americanos” e com o intuito de evitar uma proibição a partir de 19 de janeiro. De seguida, passou a falar sobre a Europa: “Estamos no início do novo mandato da Comissão [Europeia] de Ursula von der Leyen. Precisamos de ver o rumo que a presidente e os comissários vão querer tomar, mas Thierry Berton [ex-comissário europeu para o Mercado Interno e Serviços] no último mandato disse diretamente que, na Europa, existe uma abordagem diferente.”

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O responsável do TikTok referia-se às legislações europeias que entraram em vigor ao longo dos últimos anos com o intuito de proteger os utilizadores das grandes plataformas online. É o caso da Lei dos Serviços Digitais (DSA, na sigla original) e da Lei dos Mercados Digitais (DMA). “[Na Europa] temos regras. Se cumprirmos as regras estamos bem, se não cumprirmos existem consequências”, disse Enrico Bellini.

Já sobre o CEO, Shou Zi Chew, que se tornou a cara do TikTok na luta para continuar a operar nos EUA, mas que não apareceu perante o Parlamento Europeu, apesar dos pedidos dos eurodeputados, Enrico Bellini afirmou que é “demasiado cedo para especular sobre a sua presença na Europa”. Ainda assim, salientou que “o interesse e a atenção” do responsável máximo da plataforma de vídeos curtos “são globais porque o TikTok é uma empresa global”.

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Enrico Bellini aterrou esta quinta-feira em Portugal, país onde o TikTok tem cerca de 3,6 milhões de utilizadores mensais ativos, com o intuito de falar sobre o Projeto Clover, uma iniciativa que começou no ano passado e que tem um investimento previsto de 12 mil milhões de dólares ao longo de 10 anos. O objetivo da rede social é “reforçar a proteção da segurança dos utilizadores europeus”, com os dados a serem armazenados em centros de dados na Irlanda e na Noruega e a serem controlados por um “fornecedor independente”, a empresa NCC Group.