Um grupo de cidadãos, que tem como principais rostos os dois antigos dirigentes maçónicos José Manuel Anes e Paulo Noguês, vão constituir uma associação que pretende ajudar à eleição presidencial do almirante Henrique Gouveia e Melo. A associação, que os próprios garantiram ao Observador que vai ganhar forma legal entre 13 e 17 de janeiro, vai ter como nome MAAP — Movimento de Apoio do Almirante à Presidência. Os membros deste grupo estão convencidos de que o almirante vai mesmo avançar para Belém, mas ressalvam que não se querem antecipar a um anúncio “que terá de ser do próprio almirante”.
Paulo Noguês, que foi Correio-Mor e assistente de Grão-Mestre na Grande Loja Legal de Portugal (GLLP), diz que é uma “coincidência” os dois rostos conhecidos serem ambos maçons e confirma, até porque teve funções de organização numa das duas maiores obediências do país, que “o almirante não é da maçonaria“.
Chegou a ser noticiado pelo Tal&Qual, no início de dezembro, que Gouveia e Melo era maçon, mas o próprio emitiu um esclarecimento a dizer que era “absolutamente falso“. E reitera-o. Paulo Noguês, que continua a ser um maçon influente, garante que esta embrionária associação de apoio a Gouveia e Melo “não é maçónica, nem sequer para-maçónica”: “Tem maçons e não maçons. Também há pessoas da Igreja, e do Opus Dei, que apoiam o almirante. A motivação é patriótica”.
Os promotores não falaram diretamente com o almirante mas, garante ao Observador Paulo Noguês, informaram uma pessoa próxima de Gouveia e Melo desta intenção. O posicionamento de Gouveia e Melo, sabe o Observador, é que todos o podem apoiar desde que não existam “faturas associadas”. O almirante não quer confusões, mas entende que todos são livres para o apoiar, principalmente se forem bem intencionados.
José Manuel Anes foi Grão-Mestre da maçonaria na Grande Loja Legal de Portugal e diz que é uma “mentira redonda” dizerem que o almirante pertence a uma loja maçónica. A associação que está a ser criada, diz Anes, é uma “iniciativa das bases” e acrescenta que tanto ele como Noguês estreitaram a ligação ao almirante através da revista Segurança e Defesa, que tem Anes como coordenador-diretor e Noguês como editor.
Anes já esteve em eventos nos últimos tempos com Gouveia e Melo, em particular no último mês de novembro num encontro do Grupo de Estratégia de Dom João II, uma espécie de tertúlia de ideias, no Grémio Literário, em Lisboa. Os promotores da associação são, tal como Gouveia e Melo, admiradores do “Príncipe Perfeito” Dom João II.
Paulo Noguês diz que as semelhanças do nome MAAP (Movimento de Apoio do Almirante à Presidência) com a candidatura vencedora de um antigo presidente, o MASP (Movimento de Apoio Soares à Presidência), são uma “mera coincidência”. E confessa que tentou que fosse MAGM (GM, de Gouveia e Melo), mas que isso traria mais problemas e com o MAAP já garantiu, até, o “certificado de admissibilidade do nome”. O editor da revista Segurança e Defesa e grande promotor da associação diz que “é possível” que alguns membros desta organização mais tarde possam fazer parte do staff da candidatura do almirante, que será “apoiada por este e por outros grupos”. Ainda assim, distingue uma futura estrutura de campanha desta associação. Paulo Noguês espera ainda que o facto de ele e Anes serem figuras da maçonaria não prejudique o almirante.
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Isaltino é da mesma loja maçónica
O presidente da câmara de Oeiras, Isaltino Morais, é da mesma obediência maçónica de Anes e Noguês — e também já manifestou o apoio a Gouveia e Melo para Belém. “É coincidência”, garante o antigo Correio-Mor do GLLP. O presidente da câmara de Cascais, Carlos Carreiras, é outro dos maçons que já disse publicamente que iria apoiar Gouveia e Melo, mas pertence a uma outra obediência maçónica, o Grande Oriente Lusitano.
O almirante Gouveia e Melo deixou as funções há menos de uma semana e está agora a descansar antes de regressar à atividade cívica. Embora ainda não tenha assumido uma candidatura à Presidência da República, os resultados das sondagens tornam quase inevitável que isso venha a acontecer. O facto de não ter ficado na Marinha até abril, como poderia ter feito, também foi visto como um sinal. Neste momento, já poucos duvidam que venha mesmo a avançar.
Presidenciais. Sondagem dá Gouveia e Melo destacado na frente, com quase 25% das intenções de voto