A primeira ida de dois ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) a Damasco, esta sexta-feira, após o fim do regime de Bashar al-Assad, resultou num incidente diplomático. O novo líder do regime sírio, Ahmed al-Sharaa, não apertou a mão à chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, ainda que o tenha feito ao seu homólogo francês, Jean-Noël Barrot.
No vídeo do momento, Ahmed al-Sharaa toma a iniciativa de apertar a mão a Jean-Noël Barrot. Contudo, o novo líder sírio não fez o mesmo com Annalena Baerbock. A ministra germânica levantou depois as mãos como se estivesse a cumprimentar-se a si mesma.
Dans quel monde la ministre des affaires étrangères allemande Annalena Baerbock accepte de se faire humilier par al-Joulani et sa secte d’islamistes. L’égalité homme-femme est une valeur universelle non négociable, nous n’avons pas à tolérer leur haine des femmes. #Syria pic.twitter.com/aoCk8H0Qup
— Charlotte Rocher????️ (@ChaRocher) January 3, 2025
O incidente está a levantar dúvidas sobre se o novo regime sírio, liderado pelo grupo islâmico HTS que teve um passado ligado à Al-Qaeda, respeitará os direitos das mulheres na Síria.
Questionada pelos jornalistas sobre a recusa do novo líder sírio em apertar-lhe a mão, Annalena Baerbock não se mostrou surpreendida. “Quando viajei para cá [Damasco], já sabia que não ia haver apertos de mãos normais”, assinalou a chefe da diplomacia germânica, citada na imprensa alemã.
No entanto, Annalena Baerbock garantiu que ficou “claro” para os líderes sírios que a Alemanha e França “não concordaram” com a atitude do novo líder. Neste sentido, a ministra indicou que o chefe da diplomacia francês “não estendeu a mão” — e que a iniciativa do cumprimento partiu de Ahmed al-Sharaa.
Quem aproveitou para criticar o incidente diplomático foi a líder da extrema-direita alemã e presidente do Alternativa para a Alemanha. “Viva a política externa feminista”, atirou Alice Weidel, numa referência às políticas feministas defendidas pelos Verdes, o partido a que pertence a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã.
Europa não financiará instituições islamitas na Síria, garante Alemanha
Os Verdes, partido que faz parte da coligação que governa a Alemanha juntamente com os sociais-democratas liderados por Olaf Scholz, desvalorizaram a questão. O candidato a chanceler nas próximas eleições federais marcadas para 23 de fevereiro, Robert Habeck, preferiu enfatizar, ao jornal Bild, o “forte sinal” que a visita da ministra alemã representa para a “política externa europeia”.
“Deixamos claro o nosso apoio a uma Síria que tem oportunidade de seguir um novo caminho após décadas de violência e injustiça. Isso é o que importa”, rematou Robert Habeck.