É o segundo esclarecimento público que o grupo Arrow faz na sequência das reações acesas, sobretudo na arena política, desencadeadas pela contratação da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, como administradora não executiva da sociedade inglesa que é especialista na gestão da carteiras de dívidas e imóveis.

Assegurando que não houve qualquer contacto ou ligação com a “Dra. Maria Luís Albuquerque até dezembro de 2015”, mês em que Maria Luís abandonou o cargo de ministra das Finanças, a empresa explica as razões que levaram a escolher a política portuguesa para o cargo na administração.

A “Arrow Global procedeu a uma análise rigorosa da experiência e capacidade da Dra. Maria Luís Albuquerque para a função em causa, sendo a principal razão da sua contratação a sua vasta experiência e conhecimento dos mercados financeiros internacionais”.

Antes de ser nomeada para as Finanças, Maria Luís Albuquerque foi alto quadro do IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública) na altura em que Portugal enfrentou mais dificuldades no financiamento em mercado, devido à eclosão da crise das dívidas nos países periféricos do euro. Enquanto ministra, foi a principal responsável política pelo chamado regresso de Portugal aos mercados da dívida pública após o resgate internacional, com a colocação de obrigações junto de investidores privados internacionais.

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A ex-ministra das Finanças foi ainda o rosto da renegociação dos swaps (instrumentos de gestão de risco financeiro), contratados pelas empresas pública junto de grandes bancos internacionais. O anterior governo chegou a acordo com a maioria das instituições, para antecipar o fim destes instrumentos que estavam a onerar os custos financeiros das empresas. Mas a opção de contestar os contratos do Santander acabou por se revelar infeliz, com a derrota das empresas públicas em Londres.

No comunicado que anuncia a sua contratação, o presidente não executivo da Arrow, Jonathan Bloomer, assinala que o currículo da ex-governante portuguesa trará uma experiência rica na gestão de dívida internacional que permitirá complementar as capacidades do atual conselho na estratégia de expansão para novos mercados e classes de ativos.

E afinal o que vai fazer Maria Luís? A ex-ministra irá ter funções no comité de risco e auditoria, um órgão de fiscalização interna da sociedade que reúne, pelo menos, quatro vezes por ano para emitir pareceres sobre os relatórios financeiros, de acordo com os estatutos.

As suas responsabilidades como administradora não executiva da Arrow Global “não envolvem a originação e negociação de portefólios”. A Arrow sublinha ainda que a antiga ministra não esteve envolvida em qualquer contrato ou acordo comercial que envolvesse a Arrow ou a Whitestar, a empresa entretanto adquirida em Portugal.

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E quanto vai ganhar Maria Luís? A sua remuneração enquanto administradora não executiva é pública e foi comunicada ao Parlamento português: 45 mil libras (58 mil euros) anuais, o que corresponde às remunerações auferidas por outros gestores não executivos, e que têm como referência os as práticas de empresas similares. Não está previsto o pagamento de bónus. A Arrow, que está cotada na bolsa de Londres, tem quatro administradores não executivos.

O comunicado esclarece ainda alguns dos casos que têm alimentado críticas e reservas a esta contratação, designadamente devido às limitações impostas pelo regime de incompatibilidades dos titulares de cargos públicos. A começar pelo caso Banif.

A Arrow Global clarifica que não trabalhou com a Whitestar no concurso de venda da carteira de crédito do Banif em 214, mas sim com uma empresa concorrente. A Whitestar (empresa comprada pela Arrow em 2015) participou neste concurso com outro investidor acabou por perder o negócio da gestão para uma empresa concorrente. Assegura ainda que nunca trabalhou com Whitestar até à aquisição desta empresa, anunciada em abril de 2015.

O grupo nega ainda ter recebido quaisquer incentivos ou benefícios do Estado português, no seguimento de notícias sobre os benefícios fiscais atribuídos a sociedades que hoje integram a Arrow Global, mas que foram concedidos antes da compra da Whitestar e da Gesphone.