“O momento fatal para a PT foi o Governo de José Sócrates só ter acedido à venda da Vivo pela compra, a um preço exorbitante, da Oi, que era uma empresa de terceira classe. Esse movimento destruiu muito valor e, segundo se sabe, foi uma exigência direta de Sócrates”. É assim que Pires de Lima vê a atual crise da PT Portugal, que esta semana viu a Oi a admitir a sua venda e acabou por receber uma delegação dos franceses da Altice, que mostram pressa em fazer uma oferta.

Sobre esta parte do processo, o ministro diz que o Governo nada fará: “As perspetivas que a PT possa ter pela frente não terão comparação com as que existiam antes, mas compete aos acionistas escolherem o caminho. Eu não sou um governante socialista que vá dar palpites à PT sobre o que deve fazer, como no passado acontece com José Sócrates“, diz Pires de Lima em declarações ao Expresso.

Sem grandes expectativas sobre uma solução perfeita, e parecendo pouco convencido com a proposta francesa, Pires de Lima volta a carregar sobre o último Governo socialista, quando este, através da golden share, travou a OPA da Soane sobre a empresa de telecomunicações: “É chocante que há uns anos se tenha questionado tanto a possibilidade de a PT ser comprada pelo grupo Soane, que fez uma OPA valorizando a empresa em 10 mil milhões, ou até ser integrada na Telefónica, para hoje vermos a PT terminar a ser alvo de empresas internacionais com projetos que não têm comparação com aqueles que se prefiguravam há uns anos”.

Mas não há muitos a escapar às críticas do ministro. Fala de “um exemplo chocante”, de uma gestão “capturada por interesses próprios e por interesses particulares de um acionista” – que era Ricardo Salgado, através do BES. E “submissa a interferências políticas”. Fala de gestores com “estatuto de inimputabilidade, especialistas na compra de prémios internacionais”, apresentados como “gurus da gestão” sem terem dado disso provas. Nem por uma vez, refere o Expresso, Zeinal Bava (que esta semana se demitiu da Oi) ou Henrique Granadeiro são referidos. Mas não era sequer preciso os nomes para saber que são estes.

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“Acho que vale a pena fazer uma radiografia de tudo o que se passou na PT”, insiste o ministro. “As figuras mais altas da PT sobreviveram com uma aura de prestígio, apesar de a empresa desvalorizar 20 e 30%. Isto foi possível graças à cumplicidade entre núcleos de acionistas e gestores”. Quais? “Qualquer bom analista consegue identificar as decisões de gestão e de caráter político que tiveram interferência nesta destruição de valor, bem como estas últimas decisões inexplicáveis, em que de repente se percebeu que a comissão executiva da PT estava prisioneira, capturada, dos interesses de Ricardo Salgado”.

Uma cultura empresarial, diz o membro do Governo, dirigente do CDS, que “continuamos a ter em Portugal, na qual muitas vezes é conferido aos gestores um estatuto de quase intocabilidade. Sr. doutor para aqui, Sr. engenheiro para ali, ene mordomias, um tratamento acrítico da comunicação social”, remeta o ministro.