Perceber de que forma os países criam e aplicam as políticas do clima e que impacto isso tem em termos globais é o objetivo dos relatórios produzidos anualmente, desde 2005, pela Germanwatch, uma organização não-governamental sediada em Bona, na Alemanha, que visa influenciar as medidas ambientais na Alemanha e União Europeia. Na lista do desempenho em relação às políticas climáticas agora publicado – Climate Change Performance Index 2014 (CCPI) – Canadá e Austrália aparecem como os países industrializados com piores resultados, mas Portugal aparece com uma boa prestação: o sexto melhor resultado imediatamente a seguir à Dinamarca e Reino Unido.
Apesar de existirem neste momento 12 países no bom caminho ainda “não há nenhum país no caminho certo para evitar uma mudança climática perigosa”, refere o relatório que contou com a colaboração da Climate Action Network Europe e de 250 especialistas em clima e energia dos países visados. “Mais uma vez, os três primeiros lugares da lista classificada do CCPI permanecem em aberto na edição deste ano.” Estes três lugares pressupõem um desempenho “muito bom”.
A Dinamarca e o Reino Unido têm tido desempenhos positivos. Portugal, contra as expetativas, também. Era expectável que países que atravessam crises económicas mais severas, enfrentassem mais dificuldades em alcançar bons resultados nas categorias avaliadas – emissões de gases com efeitos de estufa, energias renováveis, eficiência energética e políticas de clima -, mas “Portugal continuou a usar a crise como uma oportunidade de transformação e melhorou a pontuação global no índice deste ano”, refere o relatório. Embora os autores do relatório indiquem que “Portugal fornece um exemplo de como lidar com a crise económica, reforçando as políticas climáticas e reduzindo a dependência de recursos”, alertam que o atual Governo, contrariando o que tinha sido feito no passado, “parece estar a tomar uma posição menos construtiva e já abrandou alguns dos desenvolvimentos benéficos”. Não especificam, contudo, quais são as medidas que consideram mais gravosas.
Pelo contrário, a Grécia praticamente abandonou as políticas climáticas depois da entrada da troika no país, ocupando o quadragésimo sétimo lugar – desempenho “muito fraco”. Já Espanha e Itália mantêm um desempenho “moderado”. “Tomar medidas que previnam as alterações climáticas não bloqueia o desenvolvimento”, referiu Stefan Rostock, responsável pela Educação para o Desenvolvimento Sustentável da Germanwatch, num programa oficial promovido pelo Governo Federal da Alemanha em Berlim e Bona, no qual o Observador esteve presente.
Energiewende – o caso alemão
Apesar de a Alemanha ter promovido este programa para apresentar o programa de transição energética (Energiewende) a 16 jornalistas e especialistas em políticas climáticas de várias nacionalidades, os resultados na listagem agora apresentada ficam aquém do esperado – desceu de 8º lugar em 2013, para 19º em 2014. Os autores do relatório indicam que o atual Governo alemão reduziu as ambições em políticas de clima e perdeu o lugar de destaque que anteriormente tinha conquistado na Europa.
Com o programa de transição energética, o Governo alemão pretende encerrar todas as centrais nucleares até 2018 e atingir metas mais ambiciosas do que as propostas pela União Europeia em termos de redução de emissões de gases com efeito de estufa, aumento do uso de energias renováveis e aumento da eficiência energética. Apesar da percentagem de energias renováveis ter aumentado de 9,2% em 2004 para 23% em 2012, ainda está muito longe do objetivo de 50% para 2030. Além disso, o carvão continua a ser uma fonte de energia muito usada na Alemanha.
Um dos promotores destas políticas energéticas e climáticas, o partido dos Verdes alemão, receia que apesar do programa Energiewende ter sido acordado com os outros partidos e com as indústrias, estes recuem e não se preocupem em atingir as metas nas datas acordadas. Anna Lena Baerbock, porta-voz pelos Verdes para as políticas climáticas no Parlamento, nota que na Alemanha ainda “não há um plano para reduzir o carvão”. Os sociais-democratas dizem que é preciso usar o carvão durante a transição para as energias renováveis, mas os Verdes querem que se estabeleçam metas para terminar com este tipo de energia altamente poluente.
O relatório destaca vários casos de subida e descida na ordenação. A China, um país ainda muito dependente da energia produzida a partir do carvão, conseguiu diminuir as emissões de CO2, tornando-se o país que mais posições subiu. Pelo contrário, o Canadá continua sem demonstrar o mínimo interesse em melhorar as políticas climáticas – apesar de ser um dos 10 maiores produtores de CO2 – e a Austrália perdeu posições com a mudança de governo.