Esta sexta-feira os líderes dos 28 países da União Europeia chegaram a acordo quanto às metas a atingir em 2030 em relação ao uso de energias renováveis, emissão de gases com efeito estufa e eficiência energética. Embora a comissária europeia para o clima, Connie Hedegaard, se congratule com os resultados obtidos, a associação ambientalista Quercus e o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas lamentam que as metas não tenham sido mais ambiciosas.

“Não foi fácil, de todo”, concordou o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, “mas conseguimos chegar a uma decisão justa. Coloca a Europa num caminho energético ambicioso, mas rentável.” Os Estados-membros acordaram que até 2030 haja, em termos globais na Europa e em relação aos níveis de 1990, um aumento para 27% do consumo de energias renováveis, uma redução da emissão de gases com efeito de estufa de 40% e um aumento da eficiência energética em 27% (embora a proposta inicial apontasse para os 30%).

“Conseguir uma redução vinculativa de 40% de CO2 internamente na Europa não é uma tarefa fácil. Só poderá ser atingida através de grandes transformações em toda a sociedade”, disse em comunicado de imprensa a comissária europeia Connie Hedegaard, que ao mesmo tempo se congratula pelos Estados-membros terem dado este passo importante apesar das incertezas económicas e da crise económica internacional. “Enviámos um forte sinal a outras grandes economias e a todos os outros países: fizemos o nosso trabalho de casa, agora desafiamo-vos a seguir o exemplo da Europa.” Daqui a um ano terá lugar em Paris a Cimeira das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas onde as metas mundiais serão revistas.

Tirando a redução das emissões de gases com efeito de estufa, as metas agora apresentadas pouco excedem as acordadas para 2020: 20% menos de emissões de gases com efeito de estufa (meta já atingida), 20% de utilização de energias renováveis e 20% mais de eficiência energética em relação a 1990. Perante este cenário, a Alemanha tem vindo a apostar num programa de transição energética (“Energiewende”) mais ambicioso – em 2050 querem reduzir entre 80 e 95% as emissões de gases com efeito de estufa.

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“Os grandes objetivos estão em linha com as expectativas e os números que tinham sido avançados”, disse o coordenador de projetos sobre o clima e energia no Ecologial Institute, em Berlim (Alemanha), mas lamenta que as metas para as renováveis ​​e eficiência energética não tenham ido além disso. A preocupação é maior porque as metas “não são vinculativas a nível nacional – o que pode ameaçar a segurança do investidor”. “As metas para as emissões de gases com efeito de estufa estão abaixo do que é possível (e cientificamente necessário) atingir, porém maiores do que parecia politicamente praticável há um ano.”

Ana Rita Antunes concorda que se poderia ter chegado mais longe. A especialista em energia e clima da Quercus disse à Lusa o pacote aprovado foi “difícil de alcançar”, mas as metas ficaram aquém do que deviam. “Nas emissões de gás com efeito estufa, precisávamos de uma meta que reduzisse 55% até 2030 para conseguirmos não aumentar a temperatura média global terrestre em dois graus celsius até 2100.”

O vice-diretor do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, Jim Skea, também considera as metas muito baixas para o desejado, conforme noticia a BBC. “Acho que 40% até 2030 é muito pouco e muito tarde se queremos encarar com seriedade os objetivos a longo prazo.” Uma meta muito pequena até 2030 vai exigir um esforço muito maior para se atingirem os objetivos de 2050, considera Jim Skea, que refere ainda que mais importância deveria ser dada ao aumento da eficiência energética.

Enquanto produtor de eletricidade a partir de fontes renováveis como as centrais hidroelétricas ou eólicas, Portugal pretende ver a energia que produz chegar ao resto da Europa. Contrariando as expectativas, o primeiro-ministro português não encontrou no homólogo espanhol um aliado para saírem “ilha energética ibérica” e vencerem a barreira francesa. Mesmo assim o Conselho Europeu estabeleceu que até 2030 o número de interligações tenha aumentado 15%. “Apesar de a meta não ser vinculativa, foram garantidos os meios para atingi-la”, referiu à Lusa Isabel Cancela de Abreu, responsável técnica da Associação de Energias Renováveis.

Ao contrário da Alemanha que pretende desligar todas as centrais nucleares (17) até 2018, França continua muito dependente desta fonte de energia e não se têm mostrado interessada em abdicar dela. Porém, no passado dia 10 de outubro o parlamento francês votou pela redução da energia elétrica produzida pelas centrais nucleares de 75 para 50%, noticiou a Reuters. Para o conseguir terá de desligar 20 dos atuais 58 reatores e apostar mais nas energias renováveis.

Mas para países como a Polónia, que usa quase exclusivamente carvão para produzir eletricidade, a transição de energia será ainda mais difícil. As energias renováveis ainda são encaradas como muito mais caras, mas nas palavras da comissária Connie Hedegaard: “Nada ficará mais barato se nos atrasarmos nas medidas do clima”.