Os aviões F16 portugueses, que esta semana intercetaram bombardeiros russos, são a coqueluche da Força Aérea Portuguesa. Não são propriamente novos (foram comprados em 1994 em segunda mão aos EUA) mas são os mais potentes aviões das Forças Armadas e, nas duas esquadras que existem, não se vive o drama de falta de pilotos que atinge outras áreas.
“Nas esquadras de F16 não há a falta de pilotos que noutras esquadras. Na realidade, não há mas isso não quer dizer que também não haja algumas carências”, afirmou ao Observador o porta-voz da Força Aérea.
Desde o ano 2000, já saíram da Força Aérea 275 pilotos, muitos saíram desiludidos. Devido aos cortes orçamentais as horas de voo foram reduzidas ao mínimo indispensável para que os pilotos não percam as qualificações de voo (que seguem os padrões NATO). Em outubro, cerca de 100 pilotos aderiram em bloco à Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) como forma de chamarem a atenção de forma mais organizada para o problema que se vive atualmente na Força Aérea. Só no ativo, garante ao Observador o coronel Manuel Cracel, presidente da AOFA, estão neste momento inscritos na Associação “seguramente mais de 120 pilotos” das várias esquadras, incluindo dos F16.
“Não há a possibilidade de concorrência de pagamento salarial ao nível da praticada na aviação civil”, reconhecia em junho o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, na Assembleia da República.
A sangria de pilotos, contudo, verifica-se mais nas esquadras de helicópteros de busca e salvamento dos EH101. Muitos dos pilotos que saem são atraídos pela aviação civil que oferece salários mais altos. A Força Aérea habituou-se a viver com um calendário com as datas de abertura dos concursos das companhias de aviação para não ser surpreendida.
No caso dos F16, o problema de motivação não se coloca da mesma forma. Estes aviões são muitas vezes chamados para missões internacionais, como a que da Lituânia. Desde agosto que estão seis F16 naquele país numa missão de policiamento da NATO do espaço aéreo europeu.
Falcões e Jaguares
Os F16 foram comprados por Cavaco Silva quando era primeiro-ministro. Começaram a ser usados em 1994 e foram adquiridos aos EUA ao abrigo das contrapartidas do acordo com aquele país para a partilha da base das Lajes. Portugal comprou ao todo 40 aparelhos, que nunca chegou a usar na plenitude. Alguns nunca chegaram a ser desencaixotados (vieram desmontados). O Governo só os montou e os modernizou (Mid-Life Upgrade) há pouco tempo, tendo vendido 12 que nunca foram usados à Roménia.
Estas aeronaves são aviões de combate e de luta aérea, estando concentrados na base aérea de Monte Real, junto ao Pinhal de Leiria. Dois dos aviões estão sempre em prontidão, ou seja, prontos a descolar em poucos segundos. Foi o que aconteceu esta semana quando foram detetados os bombardeiros russos.
Sob o lema “Guerra ou Paz, tanto nos faz”, os militares das duas esquadras operam ainda com um dos softwares mais modernos da aviação que é de fabrico israelita, o sistema ACMI (Air Combat Mission Interface), que fornece uma espécie de caixa negra da missão.
Em termos operacionais, a Força Aérea tem cerca de 100 pilotos que garantem a defesa nacional, fazem transporte, busca e salvamento, assim como desempenharem tarefas de apoio à população, incluindo transporte médico, resgate de emergência e combate a calamidades. São pilotos experientes que operam nas 11 esquadras e voam em máquinas como, por exemplo, os F16 – de luta aérea ofensiva e defensiva – ou os conhecidos EH 101- helicópteros que executam várias missões de apoio tático e de busca e salvamento.