O Estado português colocou esta quarta-feira mais 1.250 milhões de euros em dívida de longo prazo, incluindo com o prazo de 10 anos. A emissão saiu com taxas mais baixas do que as últimas operações e abaixo de 3%, o que é um bom sinal para a tendência do custo médio de toda a dívida de Portugal. Porém, expurgando o efeito das descidas generalizadas dos juros nos últimos meses, em toda a zona euro, uma análise mais alongada mostra que o risco da dívida é dos mais elevados da Europa e ainda é o dobro do que se registava em 2015.

A emissão saiu com taxas inferiores em ambos os prazos — cinco e dez anos. A dívida a 10 anos saiu com uma taxa de 2,85%, que compara com os 3,4% pagos em maio. Já os títulos a cinco anos foram colocados com o compromisso de entregar aos investidores uma rendibilidade implícita de 1,2%, menos do que os 1,8% pagos na operação anterior.

Foram 500 milhões de euros colocados a cinco anos e 750 milhões a 10 anos.

A descida dos juros de Portugal, nos últimos meses, surge com a expectativa de que o rating da dívida pode subir este ano (ainda que a presidente do IGCP, Cristina Casalinho, tenha apontado mais para 2018) e que, pelo menos, o rating da canadiana DBRS, o único que Portugal tem acima de lixo, não irá cair. Os últimos números do crescimento e a saída do Procedimento por Défices Excessivos (PDE) também estão a contribuir para melhorar a perceção de risco em torno de Portugal, numa altura em que o Banco Central Europeu (BCE) já tem vindo a reduzir as suas compras de dívida.

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Contudo, numa análise mais alongada e comparativa, a descida dos juros de Portugal mostra como ainda existe um caminho a percorrer na estabilização da perceção de risco. Se olharmos para a diferença entre os juros da dívida portuguesa e da dívida alemã (referência sem risco para a zona euro), constata-se que esse prémio de risco ainda está em níveis muito mais elevados do que no início de 2015.

Desde então, a mudança de governo e as questões em torno do Novo Banco (incluindo as perdas impostas aos credores no final de 2015), pressionaram os juros da dívida e essa tendência só nos últimos meses começou a inverter-se.

No início de 2015, a diferença entre os juros de Portugal e da Alemanha, a 10 anos, era de 125 pontos-base (1,25 pontos percentuais). Agora, essa diferença é superior a 250 pontos-base (porque os juros da dívida da Alemanha também baixaram), apesar de terem estado acima de 350 pontos-base há poucos mess.