A “Grécia não é um pedinte que vai aos outros países pedir ajuda para resolver os seus problemas económicos”. Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião com o presidente russo, Alex Tsipras realçou que a crise economica não é apenas uma preocupação grega, trata-se de uma crise europeia.
Também o presidente russo fez questão de garantir que os gregos “não pediram ajuda” financeira, mas ficaram abertas as portas para o desenvolvimento de negócios em parceria, designadamente na área da energia, que poderão envolver financiamento indireto à economia grega. Até porque, Rússia está interessada em participar nas privatizações gregas. Putin pede que as empresas russas sejam tratadas com igualdade.
Alexis Tsipras e Vladimir Putin assinaram um plano de ação para dois anos. A reunião entre os dois terminou depois de pouco mais de uma hora de encontro, no final, ambos afirmaram que chegaram acordo em vários linhas, nomeadamente para reatar os laços económicos e na área da energia. Putin garante: “Discutimos cooperação, não ajuda”.
Em termos políticos, Alexis Tsipras chutou a responsabilidade da crise grega para os parceiros europeus: “Os problemas gregos são problemas europeus e precisam de uma solução europeia”. Contudo, acrescentou, o país tem o direito de alcançar acordos com outros países para ajudar a Grécia a sair da crise. Durante a conferência de imprensa, Tsipras pediu ainda para que se pare de comentar cada ação do governo grego até porque a Grécia tem o direito de regressar ao crescimento económico. “A Grécia não é uma colónia da dívida”, diz. Acrescentou contudo que o país respeita os seus compromissos nas organizações internacionais em que participa.
A parte mais importante e em que o acordo parece ser mais pormenorizado tem a ver com a transformação da Grécia num hub da energia da União Europeia. Tsipras e Putin discutiram o projeto de expansão do gasoduto turco, passando pela Grécia o que tornaria aquele país um hub da distribuição de energia. “Queremos aumentar o papel da Grécia como hub de energia”, disse Tsipras. Além disso, o primeiro-ministro grego defendeu que o país helénico pode fazer a ponte entre a União Europeia e a Rússia na área do gás onde as relações são especialmente tensas.
No plano internacional – e tendo em conta o conflito na Ucrânia – Tsipras mostrou solidariedade para com Putin e ambos pedem, no acordo de princípios que estão a assinar, para que a ONU se abstenha no uso da força, uma vez que a ONU deve respeitar a “integridade territorial”. Por causa do conflito na Ucrânia, a União Europeia impôs sanções económicas à Rússia, sanções que Tsipras já tinha criticado e volta a fazê-lo no Kremlin. Lado a lado com Vladimir Putin, Tsipras disse que não concorda com a lógica das sanções porque não são “uma solução eficaz”. Na resposta, o presidente russo disse “compreender que a Grécia foi forçada” a votar favoravelmente às sanções, mas que não pode “fazer exceções para um país”. Por isso, defendeu, o melhor caminho é “acabar com as sanções” e que está disposto a trabalhar com a Europa numa solução.
No final, Putin agradeceu a Tsipras pela “conversa construtiva e aberta”.
Já o primeiro-ministro grego, que também falou no final da reunião, diz que teve uma conversa com conteúdo e que o dia 8 de abril fica na história por ser um dia “importante para as relações entre a Grécia e a Rússia” e que a Grécia é um estado soberano e por isso tem direito a escolher a sua política internacional. Resposta do primeiro-ministro grego depois dos avisos dados pela Comissão Europeia e por outros responsáveis.
Até agora, os dois líderes dizem apenas os aspetos gerais do acordo, que incluiu também o setor do turismo e infraestruturas, mas não entraram em detalhe.
Perante o alarido da visita do primeiro-ministro grego à Rússia, Putin disse não entender o porquê de tanta conversa uma vez que os estados têm o direito de procurar uma solução para os problemas nacionais.
Sorrisos e cumplicidades antigas
Sorrisos à chegada e promessas de entendimento para a reunião. Foi assim que começou o encontro entre o primeiro-ministro grego e o Presidente russo. No início do encontro, que ainda decorre, Alexis Tsipras disse apenas que “a Grécia tem laços antigos com a Rússia” e que está em Moscovo para “renovar esse relacionamento”. Recebeu de Vladimir Putin a concordância.
“Temos de encontrar uma maneira de saber como podemos levar esta relação para a frente”, disse Putin também no início do encontro. O presidente russo apenas referiu a necessidade de retomar o volume de negócios entre os dois países, porque lembrou, a quebra das trocas comerciais entre os dois foi de 40% em 2014. A quebra dos negócios aconteceu depois de a união Europeia ter imposto sanções económicas aos russos por causa do conflito na Ucrânia. Como retaliação, Putin decidiu cortar nas importações de bens alimentares dos 28. A Grécia é particularmente afetada no setor da fruta e esse é um dos assuntos em cima da mesa, até porque a Rússia é o principal parceiro comercial dos gregos.
Ao mesmo tempo que Tsipras e Putin começavam a reunião, o porta-voz da Comissão Europeia (CE), Margaritis Schinas garante que estão a ser feitos “progressos passo-a-passo”. Estamos envolvidos em intensas discussões com todos os parceiros” para encontrar uma solução para a Grécia, acrescenta. Ainda durante a conferência de imprensa, o porta-voz da CE exclamou: A Grécia “faz parte da família europeia”
“Todos os membros da família não têm de, necessariamente, viajar para os mesmos sítios, mas são todos membros da família e têm a mesma visão do mundo”, disse.
No rol de declarações sobre o encontro, o ministro russo da economia, Ulyukayev, garantiu que os russos têm para oferecer a Tsipras uma proposta sobre o embargo de bens alimentares.
Entretanto, a Grécia conseguiu renovar a dívida a seis meses. Num leilão esta quarta-feira, o país conseguiu vender 1.138 mil milhões de euros em bilhetes do tesouro a seis meses, a quase 3% de juros.