Vítor Bento tem hoje um primeiro teste decisivo no BES: a quarta-feira é dia de apresentação de contas e a expectativa dos analistas é enorme. Sabendo disso, o novo presidente executivo prepara-se para, também amanhã, deixar uma mensagem formal aos mercados, traçando já os seus planos para o banco.
O dia é tão mais decisivo quando as dúvidas sobre o futuro do grupo se intensificam. Chegados aqui, quais são os principais desafios da nova equipa de administradores? Primeiro, a separação do braço financeiro, associado ao ESFG e ao BES, das outras holdings não financeiras, como a Rioforte, disse João Lampreia, analista do Banco BIG, ao Observador.
“É importante uma redefinição da estrutura do próprio banco. O apuramento das perdas líquidas relacionadas com a insolvência de um conjunto de holdings e a recapitalização do banco [aumento de capital], num futuro próximo, serão outras metas essenciais da nova administração”, acrescentou.
Na agenda das preocupações dos novos gestores deverá constar também a venda controlada de alguns ativos do banco, de acordo com o analista. “A tentativa de mitigar os danos de reputação do grupo (já irremediáveis) oferecem outro desafio substancial”, referiu.
O analista acrescentou que o contágio do banco face aos problemas do Grupo permanecerá um problema, até que se verifique uma separação clara entre a atividade financeira e não financeira do grupo. “A necessidade de maior transparência do que gravita acima do próprio banco parece evidente, mas poderá demorar mais tempo que o desejado”, revelou.
Albino Oliveira, analista da Fincor, acrescenta a situação do Banco Espírito Santo Angola (BESA) ao rol dos desafios a serem resolvidos pela nova gestão, “incluindo o tema da garantia concedida pelo Governo angolano sobre parte importante da carteira de crédito da instituição”. O analista refere-se à garantia de 5,7 mil milhões de dólares que o Estado angolano prestou ao BESA, em dezembro de 2013.
A exposição do BES ao Grupo Espírito Santo, assim como a situação da subsidiária em Angola (o BESA) são temas que, segundo o analista, estão “naturalmente” ligados ao capital do banco e com o que pode ser necessário para manter os rácios de capital acima do mínimo exigido pelos reguladores. “Com a entrada de uma nova administração, os investidores estarão naturalmente atentos à apresentação de um eventual novo plano”, acrescentou.
Conselho estratégico sem data marcada
O nome de Paulo Mota Pinto para chairman (presidente não executivo) do BES foi proposto pela família Espírito Santo e ia ser discutido na assembleia-geral, marcada para as 10 horas de 31 de julho. Dois dias antes, pelas 15 horas, a assembleia foi desconvocada. A ESFG solicitou o adiamento e a Crédit Agricole, outro acionista do BES, concordou, pedindo que fosse retirada a sua proposta. Segundo o Expresso, o banco irá apresentar esta quarta-feira prejuízos na ordem dos 3 mil milhões de euros, relacionados com o primeiro semestre do ano.
O Banco de Portugal já fez saber, numa nota enviada às redações, que caso se verifique “qualquer insuficiência da atual almofada de capital, o interesse demonstrado por diversas entidades em assumirem uma posição de referência no BES indicia que é realizável uma solução privada para reforçar o capital”. Além do apoio do banco central, o governador Carlos Costa admitiu que, “no limite”, há dinheiro do Estado disponível para ajudar o banco.
A criação do conselho estratégico, um comité que visa assistir o conselho de administração na definição da estratégia societária, e do cargo de vice-presidente do banco, também foram adiados sine die.