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Miguel Miranda completou 70 anos a 28 de maio. Dias antes, jubilou-se da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e disse adeus ao IPMA, que ajudou a fundar
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Miguel Miranda completou 70 anos a 28 de maio. Dias antes, jubilou-se da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e disse adeus ao IPMA, que ajudou a fundar

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

Miguel Miranda completou 70 anos a 28 de maio. Dias antes, jubilou-se da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e disse adeus ao IPMA, que ajudou a fundar

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

Foi perseguido com caçadeiras, subiu montanhas e foi ao fundo do mar. Os 10 anos no IPMA e as outras vidas do geofísico Miguel Miranda

Foi para Física porque não o aceitaram em Matemática e cumpriu no IPMA o sonho de "organizar a geofísica em Portugal". As reflexões, as críticas e as histórias das várias vidas de Miguel Miranda.

Quando, em 1992, o geofísico Bob Detrick encontrou a primeira fonte hidrotermal de que há registo nos Açores, o português Miguel Miranda não estava a bordo do cruzeiro com bandeira dos Estados Unidos em que seguiam os investigadores do consórcio científico InterRidge — no caso americanos e franceses. E ainda bem, ri-se agora, mais de 30 anos depois: a descoberta, que aconteceu por acaso, quando Detrick atirou uma draga para o fundo do mar e, “por sorte”, apanhou um pedaço de uma “chaminé”, rocha composta a partir de fluidos libertados diretamente desde o manto terrestre, era tão importante que, para não partilharem os louros — muito menos as amostras —, os americanos trancaram os colegas franceses nos respetivos camarotes e não os deixaram sair durante horas.

Se não estava lá no momento em que a “Lucky Strike” foi encontrada, a sudeste do Faial, o também geofísico marinho português não tardou a integrar as equipas internacionais a trabalhar naquela região — o mote criado na altura para impulsionar os trabalhos continua a ser válido hoje, tal é a vastidão do objeto de estudo: “Sabemos mais sobre a superfície de Marte do que sobre o fundo do mar”, cita de cor.

"Os submarinos são treta, andam a 200 metros. Os batiscafos é que andam a 4 mil, 5 mil metros. Foi nessa altura que tive maior noção do contraste da capacidade dos franceses no mar com a nossa, que era obviamente limitadíssima”
Miguel Miranda

Foi durante essa jornada, de documentação das cristas médias oceânicas nos Açores, as chamadas cordilheiras submarinas, que Miguel Miranda teve um dos pontos mais altos da sua carreira, paradoxalmente a 2.874 metros de profundidade.

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Na altura estava a cooperar com uma equipa do Ifremer, o Instituto Francês de Investigação para a Exploração do Mar, dono do famoso mini-submarino Nautile, que anos antes tinha andado a recuperar salvados do Titanic e algum tempo mais tarde voltaria a ser notícia, chamado a soldar o casco do petroleiro Prestige para tentar mitigar aquele que já era o maior desastre ecológico de que há memória na Europa.

Miguel Miranda participou num dos cerca de dois mil mergulhos que o Nautile já fez

Olivier Dugornay/ Ifremer

No dia 20 de julho de 1998, Miguel Miranda subiu a bordo do batiscafo, com capacidade para transportar três pessoas no máximo, piloto e co-piloto incluídos, e alcance de seis mil metros, e mergulhou nas profundezas do Atlântico. “Os submarinos são treta, andam a 200 metros. Os batiscafos é que andam a 4 mil, 5 mil metros. Foi nessa altura que tive maior noção do contraste da capacidade dos franceses no mar com a nossa, que era obviamente limitadíssima”, recorda, enquanto retira de uma das estantes do gabinete 8328 da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), a que voltou esta semana, o diploma que faz prova da façanha.

“A vida tem muitas vidas, agora acabei uma mas vou começar outra”, já tinha dito antes, no início da conversa de mais de duas horas, que assinala não apenas a sua jubilação como professor catedrático mas também a saída do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o organismo que ajudou a pensar e fundar em 2012, durante a última estada da troika no país, numa altura em que muitos ainda consideravam que juntar meteorologia, clima e oceano era “um absurdo”.

[Já saiu: pode ouvir aqui o terceiro episódio da série em podcast “Piratinha do Ar”. É a história do adolescente de 16 anos que em 1980 desviou um avião da TAP. E aqui tem o primeiro e o segundo episódios]

Contra o que previam os detratores da primeira hora, que acusavam o novo laboratório do Estado de ter um nome “idiota”, que “nunca seria conhecido”, recordou na última lição que deu, no passado 26 de maio, hoje não haverá quem não esteja familiarizado com a sigla. O número de governantes e ex-governantes presentes na cerimónia de jubilação, dois dias antes de fazer 70 anos, diz, será apenas mais uma prova de que terá sido competente no trabalho que desempenhou ao longo da última década.

O presidente do  Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Miguel Miranda, durante um briefing com o ministro da Administração Interna, José Luis Carneiro, e a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, com vista a avaliar as previsões meteorológicas para os próximos dias, no IPMA, em Lisboa, 17 de agosto de 2022. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Ao longo da última década, não foi apenas o IPMA que se tornou conhecido, o geofísico Miguel Miranda também

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Feito o balanço, no fim deste primeiro ciclo, não foi apenas o IPMA que se tornou conhecido. Ainda que por motivos infelizes — não há como não destacar os incêndios de 2017, que custaram a vida a mais de uma centena de pessoas e devastaram mais de 440 mil hectares de floresta —, Miguel Miranda também.

Nos últimos anos houve uma série de situações extremas, como os fogos de 2017 ou as cheias do ano passado, que o tornaram conhecido e que trouxeram o IPMA ainda mais para a esfera pública. É normal acontecer tanta coisa em tão pouco tempo? Tudo isto se deve às mudanças climáticas?
Estas situações surgem mais porque o clima mudou. O clima mudou, a adaptação tem sido muito lenta, e quando a adaptação é lenta há um desacordo entre o clima e a utilização do território. Não é que não se estejam a fazer coisas, não se está é a fazer tanto como seria necessário. Porque há fatores climáticos e há fatores sociais. Estamos a abandonar uma parte significativa do território que antes era rural e não se encontrou ainda um modelo que fosse economicamente sustentável e ambientalmente sustentável — isso é que é adaptação. Não estamos a conseguir reestruturar os territórios de uma forma sustentável — o que pode passar por alterações nas atividades económicas que lá se fazem ou por uma reorganização das zonas urbanas e das zonas rurais. Em Portugal basta andar de avião para se ver que há casas em todo o lado e isso provavelmente não é sustentável. É um problema muito complicado, de onde é que vem a nossa autoridade para dizermos onde é que a pessoa deve viver? Aquela pessoa está ali, tem ali as suas raízes e a sua história. Não se pode pensar que tudo se resolve com uma folha de Excel.

Tendo em conta o tamanho do país, não devia ser mais fácil fazer essa gestão?
Não, porque quando se tem décadas de desorganização o esforço que é preciso para reorganizar é muito superior. Criámos uma situação em que praticamente pode haver pessoas e casas disseminadas por uma floresta desorganizada. Para refazer isso é necessário investimento; é um problema social difícil de resolver e é preciso um tempo significativo, por isso é que a adaptação acaba por ser lenta. O novo clima vai ser mais seco e depois vai ter esta situação que vimos nas últimas semanas: episódios de chuva convectiva concentrada em alguns locais, granizo, situações de fenómenos extremos, localizados, que vão tornar algumas atividades tremendamente difíceis. A agricultura vai ter de se tecnologizar muito, mas para isso vai ser necessário capital e vamos ter de ter atores a fazer agricultura que não são os que temos neste momento. E as consequências sociais dessas escolhas são todas muito difíceis.

Portanto, estas alterações do clima chegaram para ficar, mas não vão ter um padrão no território, é isso?
Não vão ter um padrão e vieram para ficar, sim, isto não se vai alterar assim… O que significa que a agricultura vai ter de ser muito mais controlada, provavelmente as árvores ou os arbustos vão ter de ser protegidos do tempo — e não tem de ser por estufas, podem ser apenas proteções parciais —, mas vamos ter quase que industrializar o campo. E isso é uma situação que vai ter efeitos sociais muito significativos.

"O novo clima vai ser mais seco e depois vai ter esta situação que vimos nas últimas semanas: episódios de chuva convectiva concentrada em alguns locais, granizo, situações de fenómenos extremos, localizados, que vão tornar algumas atividades tremendamente difíceis. A agricultura vai ter de se tecnologizar muito, mas para isso vai ser necessário capital e vamos de ter atores a fazer agricultura que não são os que temos neste momento. E as consequências sociais dessas escolhas são todas muito difíceis"
Miguel Miranda

E há outros fatores, além das alterações climáticas, a contribuir para isso?
Esta situação é consequência da mudança do clima e é também consequência da concentração económica a nível global e da verticalização a nível nacional. Quando temos as grandes superfícies a verticalizar, a quererem fazer tudo, desde a produção até ao consumo, tiramos todos os outros atores do sistema. Junte-se aquilo a que um físico chamaria condição fronteira — chove menos e de forma mais irregular — e tem o mix ótimo para que o panorama social fora da costa se altere de forma muito significativa. Porque nós não somos um país com interior, isso é uma fantasia. Somos um país com litoral, em que o interior não tem ligações ao litoral suficientemente rápidas; que abandonou o comboio e não está em vias de o recuperar, o que faz com que a utilização do território pelos portugueses seja hoje um bocadinho complicada.

Por falar em situações complicadas, junho de 2017 foi o pior momento destes últimos dez anos?
Foi… Quer dizer… Foi o pior momento para as pessoas. Mas em termos de stress, o pior foi outubro. Outubro era um drama grego, nós estávamos a ver outubro a chegar, as previsões foram exatamente o que aconteceu; os índices de perigo, o chamado FWI, estavam em níveis que nunca tinham existido antes, portanto nós estávamos a ver o problema a chegar. E isso, às vezes, é quase tão mau como junho… Em junho aquilo foi de hora a hora, de hora a hora tínhamos coisas novas, de repente estávamos a medir rajadas de vento esquisitíssimas no norte do Alentejo…

O dia 17 de junho foi um sábado, estava a trabalhar?
Estava, estava. Desde o dia anterior, que a previsão tinha algumas características a que as pessoas que analisam não estavam habituadas. Fui chamado pelo João do Rio, um jovem que gere modelos matemáticos do tempo, que me disse que as temperaturas na baixa estratosfera, estavam com valores que não eram habituais. Foi nessa altura que decidimos por o [alerta] vermelho. E seguimos aquilo hora a hora, mas seguir não resolve nada. No sistema que estava instalado, foi tudo acompanhado, e todas as redes funcionaram. Simplesmente, quando se tem um radar em Coruche que vê plumas de incêndio e cinza de 10 quilómetros de altura, descidas de ar na atmosfera com velocidades elevadas, e humidades perto dos 10%, que é uma coisa quase nunca vista — seco, seco, seco —, claro que é o terror. Mas o terror acabou ali: ao fim do dia havia aquela enorme quantidade de vítimas em circunstâncias dramáticas. Aliás, acho que a melhor designação é o nome do filme que o Leonardo diCaprio fez: “O Sopro do Diabo”. Aquilo foi o sopro do Diabo.

"Passa o Lorenzo, passa o olho, praticamente por cima das Flores, e a ideia que eles nos transmitem é a de que já passou e que não tinha sido tão mau como se pensava. Lembro-me perfeitamente de estar na Proteção Civil, com o Eduardo Cabrita e de dizer ao António Costa: 'É impossível, estamos a ver os valores envolvidos, seguramente que há prejuízos muito, muito grandes'"
Miguel Miranda

Portanto, outubro foi diferente?
No início até estava em Pequim; por causa de Macau, temos reuniões regulares com o serviço metereológico chinês; e fartamo-nos de enviar comunicações para os canais habituais a dizer: ‘Isto vai ser complicado, vai ser complicado, vai ser complicado’. E foram recebidas, o problema não está aí, o problema é que não é no dia anterior que se vai conseguir fazer grande coisa. Se podia ter havido mais aviões? Podia. Mas não sei se o resultado era qualitativamente diferente.. Havia situações de FWI extremas, portanto a gente sabia que alguma coisa ia acontecer, o problema era saber onde. Já no caso do Lorenzo, que cito sempre como um desses exemplos extremos, foi um caso em que a previsão foi perfeita, mas em que as energias envolvidas não permitiam fazer nada. Quando vemos aqueles valores de energias nas zonas costeiras das ilhas vemos logo que aquilo vai ficar tudo destruído. Nem sei se é possível construir portos que aguentem aquelas energias sequer. As embarcações estavam avisadas e acho que houve prejuízos, mas não foram estratosféricos.

E não houve vítimas. 
Não, porque estava tudo preparado, até o Presidente do Governo Regional e o Secretário Regional estavam lá, no Faial ou nas Flores. Aquilo foi seguido no terreno em tempo real, estivemos sempre em contacto com eles, e com o senhor primeiro-ministro, que estava aqui. Não me posso esquecer, passa o Lorenzo, passa o olho, praticamente por cima das Flores, e a ideia que eles nos transmitem é a de que já passou e que não tinha sido tão mau como se pensava. Lembro-me perfeitamente de estar na Proteção Civil, com o Eduardo Cabrita e de dizer ao António Costa: ‘É impossível, estamos a ver os valores envolvidos, seguramente que há prejuízos muito, muito grandes’. E ainda não se tinha chegado a meio do dia e já se sabia que os portos do Faial e das Flores tinham tido prejuízos incríveis. Isto para dizer que ao longo destes 10 anos tive muitos tipos de riscos que tive de gerir com alguma serenidade, sempre em rede, sempre com um apoio real, pessoal, direto, de todas as pessoas com quem trabalhei, e tê-los visto na última aula é prova disso.

Da engenharia à física, com passagem pelo movimento operário

Na manhã em que deu a última aula de uma carreira de quase 40 anos, Miguel Miranda tinha na plateia não apenas Manuel Pinto de Abreu, o ex-secretário de Estado do Mar que há mais de uma década o desafiou a fundar o IPMA, mas também Assunção Cristas, a então ministra da Agricultura e do Mar do governo de Passos Coelho. Ana Paula Vitorino e Ricardo Serrão Santos, ambos ex-ministros do Mar, e Eduardo Cabrita, antigo ministro da Administração Interna, também lá estavam. E os atuais governantes José Luís Carneiro (MAI), Elvira Fortunato (Ciência), Maria do Céu Antunes (Agricultura) e José Maria Costa (secretário de Estado do Mar) também.

“Estar numa sala com pessoas a decidir ao minuto aquilo que se faz não é o mesmo que beber um copo de vinho. Isto é como ir para a guerra. As pessoas acabam por criar relações que não têm a ver com nada na vida, estão ali a sofrer, em stress, a tomar decisões ao minuto”, explica o geofísico, investigador nas áreas de Geomagnetismo, Geofísica Marinha e Riscos Naturais, em particular tsunamis, para logo a seguir recordar outro exemplo extremo, a crise sismo-vulcânica do início de 2022, nos Açores.

“No ano passado, em São Jorge, o stress em que o Governo Regional dos Açores estava para gerir as evacuações das pessoas era enorme. A gente não sabia se no dia seguinte não ia haver um vulcão à superfície. E podia ter havido. Estivemos muito perto disso e eles tiveram o sangue frio de retirar as pessoas de mobilidade reduzida da parte norte da ilha, enquanto nós aqui, em Lisboa; os colegas da Marinha, nas Selvagens; e os colegas da Universidade de Cardiff, que são portugueses de origem; e o pessoal da Universidade dos Açores, estávamos a trabalhar dia e noite, sempre a recalcular, a ver os satélites mal chegava uma imagem nova. O dique podia ter chegado à superfície perto de Velas, esteve muito perto, esteve a 3 quilómetros! Depois acalmou-se. Mas há-de haver um dia em que isso não acontece…”

“Fui para a Faculdade de Ciências fazer os preparatórios de engenharia, mas entretanto estava no segundo ano e não queria ir para o Técnico. Na altura junto-me ao movimento associativo e tenho alguns acidentes de percurso; fui expulso três vezes da faculdade. Ainda antes do 25 de Abril tentei mudar para matemática, mas não me aceitaram. A matemática tinha influência da direita, mas a física era uma área bastante mais esquerdista e aceitaram-me"
Miguel Miranda

Quando esse dia chegar, garante Miguel Miranda, o IPMA, agora presidido por José Guerreiro, também professor da FCUL, mas doutorado em Ecologia e Biossistemática, estará preparado. Fora do instituto há pouco mais de uma semana, continua a fugir-lhe a boca para o “nós”, o hábito de uma década, em que para mais foi cumprido um sonho de vida (o que é diferente de cumprir o sonho de uma vida, faz questão de dizer), não se perde assim tão facilmente. “Sempre quis fazer isto, organizar a geofísica em Portugal”, revela com solenidade.

O “sempre” dirá respeito a umas quantas vidas diferentes, não a todas, que, no início, a ideia de Miguel Miranda até era ir para o Técnico, estudar engenharia eletrotécnica. Mais: se fosse só por uma questão de aptidão, depois de ter deixado cair esse primeiro plano, o mais provável é que tivesse tirado Matemática e não Física, mas eram os anos 70 e a política estava em todo o lado.

“Fui para a Faculdade de Ciências fazer os preparatórios de engenharia, mas entretanto estava no segundo ano e não queria ir para o Técnico”, começa a contar. “Na altura junto-me ao movimento associativo e tenho alguns acidentes de percurso; fui expulso três vezes da faculdade. Ainda antes do 25 de Abril tentei mudar para matemática, mas não me aceitaram. A matemática tinha influência da direita, mas a física era uma área bastante mais esquerdista e aceitaram-me.”

A linha torta acabaria por revelar-se a mais certa, mas só uma série de anos mais tarde. Em outubro de 1972, José Ribeiro Santos, estudante de Direito da Universidade de Lisboa e militante da Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas, a juventude do MRPP, foi assassinado por um agente da PIDE durante uma reunião de alunos contra a repressão do regime e o colonialismo, e os estudos ficaram para uma outra vida. Até 1977 ou 1978, não sabe precisar ao certo, Miguel Miranda não voltaria a frequentar as aulas.

Ia à faculdade, sim, sobretudo à de Agronomia, na Ajuda, e à de “Económicas”, onde é hoje o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), mas para organizar a luta anti-Estado Novo. Quando se deu o 25 de Abril, um mês antes de fazer 21 anos, a data em que seria incorporado compulsivamente no exército e depois enviado para o Ultramar, já tinha tudo tratado para dar o salto e fugir do país, rumo à capital francesa, onde mais tarde chegaria a estudar. “Apresentei-me no DRM [Distrito de Recrutamento e Mobilização] para ir para a tropa, mas, com o espírito de agosto de 74, não me quiseram lá e puseram-me na reserva territorial”, recorda. “A seguir estive no Algarve, ligado ao que se pode chamar o movimento operário — mas uma coisa soft —, e quando voltei à faculdade acabei o 3.º ano em dois meses, fazia um exame por semana.”

Na altura, o curso de Física era de cinco anos, mais um de estágio, com os três primeiros de tronco comum. Se foi para geofísica, em vez de para meteorologia, como o irmão dois anos mais novo, que ainda hoje ocupa um gabinete no mesmo corredor da FCUL, uns metros mais à frente (já lá iremos), foi graças às capacidades de persuasão de Luís Mendes-Victor, o prestigiado professor e investigador que já na altura era diretor-geral do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (antecessor do IPMA).

“Ele e uns colegas meus convenceram-me de que a geofísica é que era para mim. Deixei-me convencer, fiz o 4.º e o 5.º ano, depois fiz um ano de estágio e a seguir concorri para a Faculdade de Ciências de Lisboa, para assistente estagiário. Fui recusado, reclamei, fui recusado, reclamei, fui aceite”, recorda a rir. “Tinha uma coisa muito a meu favor: a minha nota era muito superior às outras todas, tive 17 e estavam a passar à minha frente pessoas de 13 e 14.”

Ainda eram os anticorpos políticos?
Não, era apenas corporativismo, era apenas endogamia; grupos que queriam meter o seu próprio aluno. Mas também tinha alguns problemas políticos, é verdade. Não era com a direita, como está a pensar, era com a esquerda, com o PCP. Eu era um bocadinho mais à esquerda ainda.

Começa a dar aulas, e depois?
Começo a trabalhar na geofísica interna e vou fazer o doutoramento com o Luís Mendes-Victor, mas em cooperação com o Instituto de Física do Globo de Paris. E começo também a fazer e a organizar os primeiros levantamentos aeromagnéticos do país.

Em que é que isso consistiu?
Na altura a Força Aérea tinha um avião que estava equipado com um magnetómetro da Geometrics que media o campo magnético da terra, mas no ar. Isso tem aplicações ou de geodinâmica — para ciência — ou de minas. Portanto aprendi a fazer isso tudo, e fui com eles para a Terceira, fazer os levantamentos daquilo que iria ser a base da maioria dos meus trabalhos posteriores. Isto aconteceu nos anos 1980. Depois há um período da minha vida em que não estou em dedicação exclusiva e simultaneamente trabalho no setor privado, de onde vem um bocadinho este meu espírito competitivo.

Miguel Miranda foi um dos fundadores do Instituto Dom Luiz, o primeiro laboratório associado em Portugal para a área da geofísica

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

O que é que fez?
Trabalhei sobretudo em remote sensing, deteção remota, em análise de imagem… Mas estamos a falar dos primórdios, de quando apareceu a cartografia digital e se começaram a fazer mapas digitais em vez de mapas em papel. Nos anos 90 começo a colaborar muito, em termos universitários, com o INGA, o Instituto Nacional de Garantia Agrícola, que agora se chama IFAP, e que entretanto se fundiu com o IFADAP criando a organização da administração pública portuguesa com o nome mais bonito de sempre: o IFADAP/INGA. Colaborei com eles em tudo o que foram cadastros agrícolas. Fui eu que coordenei com eles o “Parcelar”, ajudei a administração da agricultura a fazer a identificação de parcelas por ortofotomapas.

"Andei por todo o país a fazer o cadastro simplificado dos terrenos agrícolas. A zona da Idanha, na Beira Interior, era muito difícil, fomos perseguidos com caçadeiras — eu e a administração pública! Na altura o nível de instrução dos agricultores era muito inferior ao que há agora"
Miguel Miranda

Sendo que os ortofotomapas são…?
O Google Earth são ortofotomapas, são fotografias retificadas com coordenadas. Montámos os primeiros sistemas de fotografia sistemática para fins de controlos agrícolas e dediquei-me à parte do controlo agrícola. Claro que tivemos muitas aventuras… Portugal não tinha cadastro — nem tem —, mas a agricultura teve mesmo de o fazer, senão não recebia ajudas, portanto montámos aquilo que era um cadastro simplificado, baseado na identificação das pessoas, e andei por todo o país.

Andou pelo terreno a bater às portas? Como é que isso correu?
A única zona em que tivemos mais dificuldade foi na Beira Interior, as pessoas eram um bocadinho mais agressivas. A zona da Idanha era muito difícil, fomos perseguidos com caçadeiras — eu e a administração pública! Na altura o nível de instrução dos agricultores era muito inferior ao que há agora. As pessoas não percebem o que isto mudou em 20 anos. Mudou brutalmente. As pessoas tinham imensa dificuldade, olhando para um mapa, em identificar a parte que era delas. E estamos a falar da parte que não é florestal, é agrícola.

As aventuras loucas do menino burguês que sabia fazer contas

Nascido a 28 de maio de 1953 na Rua Azedo Gneco, Jorge Miguel Alberto de Miranda é o segundo mais velho de cinco irmãos, filhos de um editor e de uma farmacêutica que moravam no centro de Lisboa.

Como “na altura ainda não existiam betinhos”, foi o típico “menino burguês” de Campo de Ourique: brincou no Jardim da Parada, fez a catequese na Igreja do Santo Condestável e andou na Escola Primária da Câmara número 9, como o resto dos miúdos do bairro, morassem ali, no quarteirão do mercado, ou mais lá para baixo, para a zona pobre da Meia Laranja.

As desigualdades eram evidentes: alguns já trabalhavam, eram jornaleiros, vendiam jornais ali mesmo, na Parada; e quando chegou a altura de ir para o liceu, os poucos que continuaram a estudar foram para a Machado de Castro, a escola industrial.

Miguel Miranda, por seu turno, foi levado pela mão da própria professora primária ao Pedro Nunes, a escola onde já andava o futuro matemático Nuno Crato, com quem chegou a cruzar-se, e de onde já tinha saído Marcelo Rebelo de Sousa, futuro Presidente da República, seis anos mais velho. “A minha professora dizia que eu era o menino que sabia fazer contas. Apresentou-me ao reitor e entrei, fiz o 7.º ano no Pedro Nunes, sempre na turma B, que era a de Ciências. Era um liceu muito pequeno, na altura tinha uns 300 alunos. Na minha turma quase todas as pessoas acabaram cursos superiores ou mais do que isso”, explica, garantindo que a partir do próximo janeiro vai passar a marcar presença no encontro anual que os colegas continuam a fazer.

Em casa, a situação não foi diferente: todos os irmãos fizeram cursos superiores, só a mais velha não foi para ciências. A mais nova, Branca Margarida, tirou Geografia, e trabalhou como professora na Universidade Aberta; Pedro Manuel, o tal que tem gabinete no mesmo corredor, é professor catedrático de Meteorologia na FCUL; e Nuno Augusto, o mais novo, é um dos hematologistas mais conceituados do país, ex-diretor clínico do IPO de Lisboa e do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas.

Um dos irmãos mais novos de Miguel Miranda é professor catedrático de meteorologia na FDUL e tem gabinete ao fundo do corredor

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

Questionado sobre se acredita que teria hoje, se estivesse a terminar os estudos, as mesmas oportunidades que teve em 1990, quando se doutorou, Miguel Miranda reconhece que os salários que o IPMA paga atualmente não são competitivos — um meteorologista contratado agora, com ou sem doutoramento, ganha 1.200 brutos, mais 25% por trabalhar por turnos —, e admite que os efeitos do tão propalado “brain drain” estão a fazer-se sentir cada vez mais. Os seus próprios filhos, de 33 e 30 anos, depois de terem estudado no estrangeiro decidiram não regressar — um vive em Paris e trabalha em business development, outro tirou engenharia aeroespacial e mora em Amesterdão.

“Nós sempre perdemos pessoas muito boas, mas isso é normal. Neste momento estamos a perder pessoas médias”, alerta. “Há uma falta grande na Europa de quadros qualificados nestas áreas, portanto temos estado sempre a perder. Ainda temos alguns das carreiras antigas, que eram um bocadinho mais bem remunerados, mas quando essas pessoas saírem do sistema, vamos ver quantos ficam cá. Mas não hão-de ficar muitos.”

Ainda assim, em vez de entrar no domínio dos “ses”, não chega a dar uma resposta conclusiva, diverge e prefere contar como, mais ou menos nessa altura, recusou um convite para ir trabalhar para o Canadá — e volta às suas várias vidas.

Recorda o ano que passou na Grécia, ao serviço da Comissão Europeia, a replicar o bom trabalho apresentado em Portugal com a divisão dos terrenos agrícolas por parcelas; os meses em que avaliou projetos de desenvolvimento agrícola em Ankara, na Turquia; e as “aventuras loucas” que lhe proporcionou a parceria com Rui Fernandes, colega da Universidade da Beira Interior, a trabalhar na área da geodesia espacial (GPS, para os leigos).

“Nós sempre perdemos pessoas muito boas, mas isso é normal. Neste momento estamos a perder pessoas médias”, alerta. “Há uma falta grande na Europa de quadros qualificados nestas áreas, portanto temos estado sempre a perder. Ainda temos alguns das carreiras antigas, que eram um bocadinho mais bem remunerados, mas quando essas pessoas saírem do sistema, vamos ver quantos ficam cá. Mas não hão-de ficar muitos”
Miguel Miranda

Em 2008, foram à Tanzânia, medir o Kilimanjaro, com uma equipa de cientistas locais — “Foram 5 dias e não cheguei mesmo ao topo, quem fez a observação dos 45 minutos foi um guia, que tinha capacidade para estar esse tempo todo lá em cima. A subida faz-se bem, o problema é mais o coração do que os músculos, por causa da falta de oxigénio”.

Um ano mais tarde, passaram uma semana a rever a rede geodésica de Moçambique — “África está a dividir-se ao meio, ao longo do rifte da Etiópia. Há duas placas [tectónicas], a Somália e a Núbia, e a divisão passa a meio de Moçambique. O que significa que é preciso refazer as coordenadas de tudo porque elas estão a mudar vários centímetros por ano”, explica. “Essencialmente fazíamos medições de GPS em todos os marcos da rede dos anos 30 do século passado, andámos pelo meio do mato, por todo o lado. Tudo isto antes de ir para o IPMA, quando cheguei ao IPMA acabaram as aventuras mais radicais.”

As regras sem sentido das Finanças e as multas do Tribunal de Contas, que afastam dirigentes qualificados

Apesar de garantir que, ao longo dos últimos dez anos, não houve uma tutela que não tenha apoiado incondicionalmente o IPMA, Miguel Miranda admite também que o que não faltaram foram pedras na engrenagem e aponta o dedo diretamente às restrições impostas pelas Finanças, que não só dificultam contratações como despesas — mesmo as que são financiadas por fundos comunitários.

As leis, diz, foram feitas para pequenos centros de investigação, não para organizações como o IPMA, com cerca de 600 colaboradores e projetos de milhões. “Agora vamos instalar quatro radares novos, dois nas torres que já existem no continente, em Coruche e Loulé, e dois nos Açores. Estamos a falar de 10 milhões de euros, isso tem de passar por tudo o que é gabinete das Finanças, o que é muito difícil. As regras foram feitas para uma altura em que não havia inflação. Basta haver um aumento de preços e os concursos caem, tem de se repetir. Estamos a falar de coisas que estão financiadas, que se sabe onde vão ser e como vão ser. Podiam ser aprovadas em 8 dias, mas demora um ano. Sendo que ao fim desse ano está tudo errado, porque o tempo já não é aquele.”

Se as falhas são só ao nível do Ministério das Finanças, isso significa que os decisores já perceberam quão grave é a situação a nível climático e aquilo que é preciso fazer? Falava há pouco no novo clima, que está aí e para ficar. Há noção disso?
Está a comparar com há 3 anos? Há muito mais. Com há 6 anos? Há muitíssimo mais do que há 6 anos. Demorámos muito tempo? É verdade que demorámos, mas nunca foi por falta de compreensão individual. Tenho o gosto de dizer que, de todas as tutelas, não houve praticamente situações em que tenhamos dito que queríamos fazer alguma coisa, porque achávamos que era importante, e não tivemos apoio. As tutelas apoiaram-nos quase todas de uma forma bastante enérgica.

Portanto, os únicos problemas são ao nível das Finanças?
Desde os tempos do João Leão que quando os processos chegam ao gabinete das Finanças volta tudo à estaca zero. O IPMA faz cerca de 3 mil contratações por ano. Se cada ano tem 200 dias úteis são 15 contratos por dia. Para fazer 15 contratos por dia devia ter uma equipa de umas 10 pessoas — sendo que estamos a falar de contratos que têm responsabilidade até da pessoa que faz o contrato, hoje em dia. Como é que é que possível fazer isto? Há umas coisas que não são muito bem feitas… Mas pelo menos tenho orgulho numa coisa: nunca houve nenhum processo que tivesse aparecido como mostrando qualquer falta de equidade no tratamento dos concorrentes, não temos nenhuma situação em que haja alguma ligação entre quem está a comprar e quem está a vender, e temos tentado sempre ser transparentes nos nossos processos.

"Desde os tempos do João Leão que quando os processos chegam ao gabinete das Finanças volta tudo à estaca zero. O IPMA faz cerca de 3 mil contratações por ano. Se cada ano tem 200 dias úteis são 15 contratos por dia. Para fazer 15 contratos por dia devia ter uma equipa de umas 10 pessoas — sendo que estamos a falar de contratos que têm responsabilidade até da pessoa que faz o contrato, hoje em dia. Como é que é que possível fazer isto? Há umas coisas que não são muito bem feitas…"
Miguel Miranda

Mas chegou a ter um problema no Tribunal de Contas, não foi?
Tive e grave. Grave, quer dizer, ainda posso ter mais, há uma auditoria a decorrer. Mas são problemas técnicos, as pessoas quando ouvem nas televisões e nos jornais pensam ‘Este tipo está metido num esquema’, mas não tem nada a ver com dinheiro.

O que aconteceu?
No ano de 2018 estávamos numa situação dramática na sardinha. O stock de sardinha estava muito em baixo, as empresas do cerco estavam numa situação económica desesperada, e nas comunidades que vivem muito da pesca da sardinha estávamos mesmo à beira da rutura social. A única forma que tínhamos de conseguir passar pelos mínimos era termos mais dados, termos mais informação e percebermos, por exemplo, em que zonas é que não podíamos mesmo deixar pescar, porque eram zonas de reprodução, e em que zonas é que poderíamos ser menos exigentes, quanto é que poderíamos deixar pescar de juvenis, etc. Para isso precisávamos de fazer campanhas de mar. E para essas campanhas fizemos três contratos diferentes ao longo do ano, mas todos eles abertos, à concorrência total — não há aqui ajustes diretos, não é nada disso! São concursos, que são abertos, mas são três concursos para o mesmo objeto. O entendimento do Tribunal de Contas é que quando há três concursos com o mesmo objeto deve ser um concurso único.

E não podia ser um concurso único?
Não, porque não tínhamos dinheiro. O IPMA tem obrigações permanentes mas o nosso orçamento é contingente à capacidade de obtenção de receita, portanto à medida que íamos obtendo recursos para fazer mais uma operação, lançávamos mais uma operação. A lei é que é assim. Como se tudo aquilo que eu precisasse de comprar tivesse o dinheiro para comprar. Mas isso é para gente que compra papel branco A4, clipes e agrafadores, não é para quem está a comprar três tripulantes para trabalhar num navio costeiro para fazer um levantamento! A opção que é dada às organizações é não fazer. Mas como é que íamos não fazer quando a sardinha estava naquela situação crítica em Portugal?! Mais valia demitir-me e sair dali!

“Se há uma multa, não é o IPMA que paga, são os seus dirigentes. Numa organização como o IPMA, com edifícios em todo o país, com pessoas que precisam de coisas em todo o país, com navios, radares, estações e o diabo a sete, é impossível não haver erros. Com equipas mínimas, há sempre erros. Que depois são assacados, independentemente da responsabilidade objetiva. O sistema que está montado para acabar com a corrupção acaba é com a capacidade que temos de ir buscar dirigentes qualificados”
Miguel Miranda

Agora que saiu do instituto, não porque se tenha demitido, mas por ter chegado ao fim do ciclo, Miguel Miranda garante que faria tudo de novo — incluindo abrir os três concursos, que acabaram por lhe valer o pagamento de uma multa de 2.500 euros, mais custas de defesa. O que não faz, diz, é aconselhar alguém de quem goste a aceitar um cargo semelhante.

“Se há uma multa, não é o IPMA que paga, são os seus dirigentes. Que pagam do seu pouco dinheiro os advogados para os defenderem mais as multas. Numa organização como o IPMA, com edifícios em todo o país, com pessoas que precisam de coisas em todo o país, com navios, radares, estações e o diabo a sete, é impossível não haver erros. Com equipas mínimas, há sempre erros. Que depois são assacados, independentemente da responsabilidade objetiva. O sistema que está montado para acabar com a corrupção acaba é com a capacidade que temos de ir buscar dirigentes qualificados.”

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