Ana Pedrosa-Augusto não tem percurso político e, como nunca foi pessoa de ter “ídolos” ou “heróis”, sobra-lhe uma referência nesta área: a antiga primeira-ministra britânica, Margareth Tatcher. Ao Observador explica que o que a mais impressionava na antiga primeira-ministra britânica era o “carácter incrível”, a “demonstração de mérito” e o “percurso inacreditável” que fez. O de Ana Pedrosa é bem mais curto: “Foi um caminho natural, muito rápido, num momento em que eu senti que já não estava bem em limitar-me a levar a minha vida e a minha carreira normalmente”. O partido visto como o de um homem só, ganhou assim uma coqueluche carismática, recém-eleita vice-presidente e que entre os “aliados” — assim se chamam aos militantes do novo partido Aliança — é referida muitas vezes como “a advogada de Madonna”.
O grande responsável por Ana Pedrosa estar no projeto é o advogado João Pedro Varandas, irmão do atual presidente do Sporting, Frederico Varandas, e sócio fundador do escritório onde a advogada de 38 anos trabalha as áreas do Direito Fiscal, Imobiliário e Societário. A Rogério Alves & Associados tem como como principal rosto o antigo bastonário da Ordem dos Advogados. Antes disso, Ana Pedrosa já tinha sentido que “estava na hora de fazer qualquer coisa de diferente para sair de tudo aquilo” que se passa no país em que não se sente “confortável” ou em que não se revê. Percebeu que isso só seria possível num partido novo e que esse partido “tinha de ter esta matriz fundacional que tem a Aliança, um partido liberal, um partido personalista, um partido solidário, que acredita no mérito e na excelência”.
Mas outras pessoas que estavam no projeto foram fundamentais e, em todas as que nomeia, a advogada nunca diz o nome de Santana Lopes. Tudo começou ainda em outubro — muito antes da Aliança se formar com partido — com uma reunião no local onde hoje é a sede do partido. Houve um “conjunto de pessoas” que a advogada respeita muito que a ajudaram a moldar a imagem que tinha do projeto. Além de Varandas, também João Pessoa e Costa, Rosário Águas ou o embaixador Martins da Cruz fazem parte desse grupo de referência, que para a advogada “demonstra que o Aliança não é um partido de um homem só“.
O percurso de Ana Pedrosa conta-se em poucas palavras: nasceu em Leiria, mas em 1998, com 17 anos mudou-se para estudar em Lisboa, onde se licenciou em Direito. Na mesma faculdade tirou o mestrado em Ciências Jurídico-Empresariais enquanto trabalhava. Experiência política ou mesmo atividade cívica durante esse período? Zero. “A minha vida sempre foi muito centrada na carreira”, confessa ao Observador. Diz-se “100% dedicada à advocacia”, e é aí que entra Madonna. Assim que se soube que Ana Pedrosa-Augusto era vice-presidente de Santana, tal como foi noticiado de madrugada pelo Observador, todos os jornais destacaram esse facto. Como a agência espanhola EFE optou também por esse ângulo, o Aliança já ganhou honras de notícia no jornal catalão La Vanguardia. Sobre Madonna, como seria de esperar devido ao sigilo profissional, Ana Pedrosa-Augusto fala pouco: “Não vou falar de forma nenhuma falar dos meus clientes, dos que não são meus clientes, dos que eu gostava imenso que fossem meus clientes. Mas, a partir do momento em que está em muitos sítios a dizer advogada da Madonna, claro que toda a gente já brincou comigo hoje devido a essa questão.”
E é fã das músicas da cantora norte-americana? Ana Pedrosa-Augusto é evasiva: “Vamos deixar os gostos musicais para fora deste perfil. Vamos deixar os gostos musicais de fora, senão isto depois…” Mas se de música não fala, sobre hobbies confessa que gosta muito de “fazer desporto”, paixão que põe em prática aos fins-de-semana: “Corro, jogo ténis e squash”. Também “adora” viajar, mas rapidamente desvaloriza: “Isso é aquilo que toda a gente diz, não é?”
Quanto ao Aliança, garante ter dado o seu “melhor” neste arranque do projeto. Só agora, “a caminho de Lisboa”, vai “interiorizar” que é vice-presidente de um partido. E apesar de ter Tatcher como referência, rejeita vir ser a “dama-de-ferro” da Aliança. Ri-se com a pergunta, mas esclarece: “Nem ousava alguma vez ter uma aspiração como essa”. Para já, vai continuar a acumular a política com o trabalho. O “foco é a carreira”, e esse é, aliás, “um dos marcos da Aliança: trazer para o seu seio pessoas que têm carreiras, que têm vida extra-partidária e que estão num projeto destes, mas não precisam dele como forma de vida”. E caso uma candidatura política surja no futuro? “Sou uma otimista, vai correr tudo bem de certeza”.
Antigo líder da JSD participou em 25 congressos “mas nenhum como este”
Foram mais de 500 delegados, aos quais se somam observadores, a passar pela Arena de Évora para fundar o Aliança. Quase todos os militantes com quem o Observador falou tinham uma ligação, nem que fosse ténue, ao PSD e/ou à JSD.
Jorge Nuno Sá é o que tem essas ligação mais evidente. O antigo militante social-democrata, e ex-presidente da JSD, é atualmente um espécie de líder distrital provisório da Aliança em Viana do Castelo. O antigo líder da maior “jota” do país desfiliou-se zangado com Passos Coelho e ainda pensou voltar quando Rui Rio venceu o partido, mas já não se revia no atual PSD. Jorge Nuno Sá não acredita em vazios na política e encontrou aqui abrigo: “Sinto-me integrado”, confessou ao Observador.
Como é de uma geração pós-25 de Abril, o antigo líder da JSD nunca tinha vivido um tempo de “construção dos partidos”, que está livre de vícios: “Não há discussão de lugares, de listas nem aquelas querelas internas”. Quanto ao posicionamento ideológico deste “partido às direitas” Jorge Nuno Sá diz que o Aliança se pode caracterizar como uma “direita sem complexos”. A rejeição das “esquerdas unidas” é um ponto que une todos os “aliados”.
Jorge Nuno Sá “entre PSD e JSD” já participou em cerca de 25 congressos, mas nunca nenhum como este. A capacidade de mobilização de um partido que não tem muito para oferecer em troca, surpreendeu o coordenador de Viana do Castelo.
Mesmo que ainda seja difícil de definir, Jorge Nuno Sá arrisca num perfil do militante da Aliança: “São empreendedores, pequenos empresários, gente da classe média, profissionais liberais, como advogados e médicos e pessoas entre os 30 e os 45 anos”. Jorge Nuno Sá ressalva, porém, que o partido é “interclassista”, já que em Viana do Castelo há, por exemplo, um delegado sindical. Depois há, claro, um grupo dos lesados do centro-direita: “No meu distrito, metade do militantes do Aliança nunca tiveram nenhum partido, mas a outra metade já foram militantes do PSD ou do CDS”, explica Jorge Nuno Sá.
O antigo líder da JSD estima que o partido tenha cerca de dois mil militantes. Na Arena de Évora estão mais de 500 delegados e, além de terem vindo de todo o país, ainda tiveram de pagar 20 euros para marcar presença no Congresso. Isto apesar de, segundo o que apurou o Observador junto da equipa de Santana Lopes, a câmara municipal de Évora ter cedido o espaço a custo zero ao partido.
Por toda a militância demonstrada no Congresso, Jorge Nuno Sá não tem dúvidas: “Viemos para ficar”.
Apoiou Santana nas diretas, seguiu-o para o Aliança
Antes de falar com o Observador, Jorge Nuno Sá tinha pedido uns minutos para ouvir “o discurso da Cláudia”. Falava da sua homóloga do distrito de Faro, que é outra militante que saiu do PSD para a Aliança.
Cláudia Gonçalves, socióloga, entregou o cartão há alguns meses, desiludida com o facto de estarem constantemente a dispensar o contributo que queria dar ao partido. Chegou a ser candidata à presidência da junta de freguesia de Loulé pelos sociais-democratas em 2013, mas ao Observador conta que já não se “identificava com maneira de fazer política” do partido.
Nas últimas diretas, apoiou Pedro Santana Lopes e quando este decidiu criar um partido e ficou a conhecer os princípios da Aliança percebeu que era uma oportunidade “para ter atividade política séria, honesta e com verticalidade”. Cláudia Gonçalves é amiga de Santana Lopes há muitos anos e nem pensou duas vezes quando o número dois da Comissão Instaladora, Luís Cirilo, a convidou para dirigente. Quanto ao líder, diz que “personifica aquilo que são os valores do Aliança” e que “Santana Lopes não está no partido por ele, mas pelo futuro do país”. E acrescenta: “Ele é o ponta-de-lança, que vai deixar o legado, tal como Francisco Sá Carneiro deixou quando criou o PSD“.
Como socióloga, trabalha na câmara municipal de Loulé, onde trabalha com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e trabalha de perto com áreas de ação social. “No meu trabalho vejo bem como sofrem as famílias portuguesas com as políticas do Governo PS”, destaca ao Observador. É também nas áreas sociais que pretende centrar a sua intervenção no partido.
O ribatejano que quer mais poder para as regiões
Miguel Ribeiro, de 41 anos, há mais de vinte que não se metia nas andanças da política. Trabalha na área da cibersegurança da Autoridade Tributária e nunca foi militante de nenhum partido. Só de uma jota, a JSD. “Agora encontrei um partido com o qual me identifico realmente”, conta ao Observador.
Militante do Aliança no Cartaxo, distrito de Santarém, Miguel é um militante de base e só aderiu ao partido há um mês. Decidiu envolver-se por considerar que “muitas coisas têm de mudar no país”. Desde logo deixou-se seduzir pela proposta do Aliança que pretende “reformar o sistema eleitoral”, de forma a “criar um senado e dar mais poder às regiões”. Desde que aderiu, Miguel tem contribuído com ideias na área das “novas tecnologias”.
Sobre o facto do Aliança ser conhecido como o partido de Santana, Miguel Ribeiro destaca que “alguém tinha de ser o rosto” e “dar a cara” pelas ideias do partido, mas também nega que este seja “um partido de uma pessoa só”. O ribatejano diz que o Congresso conseguiu uma “adesão fantástica para um primeiro Congresso” e elogia a pluralidade de posições. “Acabei de ver um cego a defender medidas para proteger pessoas com deficiências e fraca mobilidade, o que demonstra que o partido tem gente muito diferente e em várias frentes”, explicou. E o que mais gostou no Congresso? Fácil: “Ver muitas caras novas, que nunca vi associadas à política. Gente nova é um bom sinal, é o que faz sentido.”
A derrota de Montenegro e a “lábia filha da mãe” de Santana
José Pinto Nunes, economista reformado, era um dos cinco cidadãos que foi ao CCB assistir à conferência de imprensa de Luís Montenegro a desafiar a liderança de Rui Rio. É militante do PSD “desde os tempos de Marcelo”, não gosta de Rui Rio e está a explorar alternativas para onde direcionar o voto. “Se o Montenegro tivesse ganho o Conselho Nacional, hoje não tinha vindo de Lisboa a Évora“, disse minutos depois de pagar 10 euros para assistir ao congresso como observador. José Pinto Nunes apoiou Rui Rio contra Pedro Santana Lopes nas diretas, pois achava que “a máquina socialista” ia destruir o antigo primeiro-ministro pelas trapalhadas de 2004 em pouco tempo e o PSD não ganharia a Costa.
Concordava com o “banho de ética”, mas “em três meses” passou a considerar o presidente do PSD “um erro de casting“. Sobre o interesse no Aliança, acrescenta numa expressão de quase desespero: “Não aguento mais quatro anos de geringonça“.
Agora de Santana diz que “costuma ter razão antes de tempo” e que tem “uma lábia filha da mãe” que faz com que os seus discursos sejam sempre dos melhores em qualquer Congresso em que discurse. “Já fui a vários do PSD e ele tem uma intuição como poucos”, referiu.
Pinto Nunes explica que “o Chega é muito extremado para mim e é um espécie de Correio da Manhã da política”, logo “o Aliança é o que tem as posições” com as quais mais se revê. Mas ainda não tem o voto completamente fechado na cabeça: “Rui Rio diz que vai dar a mão ao PS, se o PS precisar muito. Enquanto disser isso não tem o meu voto. Eu gostava de poder votar no meu partido, a minha primeira opção é sempre ser fiel ao partido, mas se não der, voto no Aliança”.
A jovem que saiu da JSD porque militantes só queriam “tacho”
Cristiana Gonçalves organiza um pequeno exército de jovens com sweatshirts do Aliança: “Quero o maior número de voluntários aqui, o mais depressa possível”. Interrompida pelo Observador, a jovem bancária de 26 anos explica como ali chegou – ali é a coordenação da Academia Jovem Aliança, que não pretende ser comparada a uma juventude partidária, mas a um “espaço de formação”. Cristiana recorda que era “secretária da JSD de Sintra”, mas desiludiu-se com aquela organização. Agora colaboradoa na Aliança, via na JSD “uma juventude que estava à procura de tacho e em que os membros queriam oportunidades a nível pessoal”.
No novo partido, garante, está a fazer-se diferente. Todos os dias trabalha na sede, numa atividade que define quase como um “segundo trabalho”. Cristiana confia em Santana e quer mudar uma realidade em que “muita gente diz que gosta de o ouvir, mas na hora de votar não vota nele”. Essa tem sido a história recente de Santana Lopes, mas Cristiana está otimista que desta é que é. A militante pensa em grande e acredita que o Aliança vai eleger deputados nas Europeias e nas legislativas. Embora o caminho em direção a esse objetivo só agora vá começar, e não pareça tarefa fácil: fazer no resto do país aquilo que se conseguiu mostrar em Évora, com militantes de um partido recém-inaugurado que “acreditam no projeto que ele tem”.