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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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A árvore quase secou. Campanha de "uma mulher só" ditou desastre do PAN e redução para um deputado único

Maus resultados esperados confirmaram pior cenário. PAN fica reduzido a um deputado com reeleição de Sousa Real. Líder vai convocar órgãos do partido para "reflexão interna". Mas afinal o que falhou?

2015 e 2022. O cenário é o mesmo: a eleição de um deputado único. Mas o contexto é bem diferente. Se há sete anos o PAN festejou a eleição de um deputado na Assembleia da República, na noite deste domingo foram precisas várias horas para confirmar um resultado que, não sendo totalmente esperado, se viria a confirmar. O PAN, que em 2019 conseguiu eleger quatro deputados (ficando depois reduzido a três com a saída de Cristina Rodrigues), volta a eleger apenas um mandato e Inês de Sousa Real entra sozinha no Parlamento.

Foi às 00h56 que, após muita espera, se ouviu “já está!”, entre muitos aplausos. Depois de várias horas de silêncio e apreensão, confirmou-se a eleição de Inês de Sousa Real pelo distrito de Lisboa. A redução do número de deputados do PAN no Parlamento não era uma surpresa — até porque as sondagens que foram saindo demonstravam isso mesmo –, mas confirmou-se um dos dois piores cenários. Agora, diz Inês de Sousa Real, é preciso fazer uma reflexão interna e perceber que caminho o PAN quer tomar daqui para a frente.

Perante esta clara derrota eleitoral, a deputada reeleita não deixou o lugar à disposição, remetendo antes para a Comissão Política Nacional um “momento de reflexão interna”, convocado pela própria Inês de Sousa Real, para avaliar os resultados da noite. Num discurso de 16 minutos, e em que foi a última líder partidária a falar, a porta-voz garantiu que não está “agarrada ao lugar” e considerou ser “fundamental” debater que ilações deve retirar o partido.

A cabeça de lista por Lisboa, e reeleita deputada nestas eleições legislativas, assumiu contudo aquele que foi “um mau resultado” que “não reflete o trabalho empenhado desenvolvido nos últimos anos”. E defendeu que o resultado, como um todo, “é mau para a democracia”, destacando “o crescimento do populismo antidemocrático”.

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Uma campanha de “uma mulher só”

Inês de Sousa Real optou por fazer a caminhada sozinha. Durante duas semanas de campanha oficial, não teve apoios claros e públicos por parte de caras notórias do partido, como os fundadores do PAN ou mesmo o ex-líder, André Silva. Ao longo da campanha, a candidata foi questionada sobre essa mesma ausência de figuras importantes do partido, mas recusou sempre a ideia de que estaria isolada. Ora dizia que, devido à pandemia, optou por uma campanha minimalista, ora evocava “o comboio da paternidade”, argumento usado mais do que uma vez, para justificar a ausência de André Silva.

Com ou sem apoio público do antigo porta-voz do PAN, que nem formalizou o apoio à sucessora por exemplo nas redes sociais, houve também uma outra ausência notada. Bebiana Cunha surgiu na campanha junto a Inês de Sousa Real apenas por duas vezes: no comício no Porto e no dia seguinte, numa ação de contacto com a população na mesma cidade. A cabeça de lista pelo Porto é uma das mais bem posicionadas para assumir a liderança do PAN numa eventual saída da atual líder e é uma das figuras mais destacadas do partido. Inês de Sousa Real poderia ter-se servido da força que Bebiana Cunha tem no Porto, liderando a corrente norte do partido, para capitalizar. Mas não aconteceu.

Mais. Os apoios na noite eleitoral dispersaram-se por várias cidades. Em vez de optar por concentrar as tropas numa só sede de campanha, Inês de Sousa Real escolheu acompanhar os resultados eleitorais no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e Bebiana Cunha, por exemplo, esteve no Espaço PAN, no Porto. Também Aveiro, Faro e Ponta Delgada tiveram as suas “próprias” sedes de campanha eleitoral. Mas a porta-voz do PAN recusa que essa dispersão se traduza num sinal de falta de união no partido e em torno da líder.

Questionada precisamente sobre essa matéria, Inês de Sousa Real desconversou sempre, garantindo que “é tradição” existir uma noite eleitoral no Porto, a par da capital, escudando-se também na ideia de valorização “da proximidade aos eleitores”. Feitas as contas, a campanha do PAN acabou a ser muito solitária, com Inês de Sousa Real acompanhada dos respetivos cabeças de lista por cada distrito que visitava.

No seu discurso de fim da noite, Inês de Sousa Real fez uma referência a Bebiana Cunha, lamentando o facto de a cabeça de lista pelo Porto não ter sido eleita. “É com muita tristeza que assumo este mandato sozinha”, garantiu, para depois prosseguir: “Numa próxima eleição, seremos muitos mais”.

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A indefinição sobre entendimentos pós-eleitorais e a receção nas ruas de um partido que quis ser “do 8 ao 80”

O PAN pode ter perdido nas urnas também devido à sua falta de posicionamento. Durante duas semanas nunca desfez o mistério sobre se mais facilmente conversaria com PS ou PSD, alinhando sempre na estratégia de que “a coligação que queria era com os portugueses”. Nunca esta retórica foi assumida como “indefinição”, mas acabaria assim por prejudicar os resultados eleitorais, com uma falta de clareza e esclarecimento do eleitorado sobre quem seria o alvo preferencial para entendimentos depois de 30 de janeiro.

Inês de Sousa Real arranjou sempre forma de contornar a questão, mesmo perante a insistência dos jornalistas, e nunca assumiu com clareza o que poderiam esperar do PAN os eleitores, acabando assim por ter pouca afirmação junto dos mesmos. Nem sim, nem não — a porta-voz do PAN optou pela estratégia que seria “mais fácil”, de não se comprometer com nenhum partido, mas acabou claramente penalizada nas urnas por afirmar durante meses que queria suportar um eventual governo, sem concretizar em que é que isso se materializaria.

Depois de ter sido completamente descartada perante a não tão esperada maioria absoluta conquistada pelo PS, Inês de Sousa Real deixou também um aviso no seu discurso a António Costa. “Uma maioria absoluta não é desejável para o país”, acrescentando que espera que essa maioria “não se traduza em deixar para trás a capacidade de diálogo que deve acontecer”.

Além disso, nem sempre o partido foi acarinhado durante as ações de campanha nestas duas semanas. A maioria dos eleitores que se cruzaram com Inês de Sousa Real para a criticar tocaram num ponto comum: as posições “extremadas” e “fundamentalistas”. O PAN escolheu seguir o caminho do 8 ao 80, mas o eleitorado demonstrou que não é de extremos. O partido propõe acabar com a tauromaquia, com a caça ou com a pesca desportiva, medidas que não tiveram receção entre os eleitores. E isso sentiu-se nas ruas, com a líder a ser muito criticada por querer colocar um fim a “tradições” que levariam muitos para o desemprego e por assumir posições demasiado “drásticas”.

O PAN fica agora reduzido a um deputado, tendo sido preciso contar quase até ao último voto para desfazer as perspetivas de um cenário mais dramático do que aquele que realmente foi. Inês de Sousa Real foi eleita deputada, única, e tirará “as devidas ilações”. Apesar de ter sido recebida com aplausos na sala onde a esperavam cerca de meia centena de apoiantes, é por uma unha negra que o PAN não fica de fora do xadrez político na Assembleia da República, em risco de perder representação parlamentar.

[Como se desenhou um mapa cor-de-rosa absoluto. O filme da noite eleitoral:]

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