Já não são só as grandes potências mundiais que estão na corrida ao espaço. Depois de o cosmonauta Yuri Gagarin ter sido o primeiro homem a ir ao espaço e de o astronauta Neil Armstrong ter sido o primeiro a pisar a Lua, quem será o milionário que vai vencer a corrida das viagens em foguetões próprios? Jeff Bezos, o dono da Amazon ou Richard Branson, o líder da Virgin? E ainda há Elon Musk, o “tecnoking” da Tesla. O sonho é o mesmo: “Ir até onde nenhum homem alguma vez foi”, como se dizia no início do genérico da série Star Trek.
A resposta à pergunta acima deve saber-se em julho. A corrida começou no início deste mês, quando Jeff Bezos anunciou numa publicação de Instagram que será um dos passageiros do primeiro voo espacial tripulado da empresa aeroespacial que detém, a Blue Origin. A data foi logo anunciada: 20 de julho. A acompanhar Jeff irá o irmão, Mark Bezos, e ainda o vencedor de um bilhete vendido num leilão. Contudo, pouco tempo depois deste anúncio, surgiram rumores de que Richard Branson, dono da Virgin Galactic, tem um voo para o espaço marcado para 4 de julho.
Jeff Bezos será um dos passageiros no primeiro voo espacial da Blue Origin
Tanto a Blue Origin como a Virgin Galactic têm, desde o início do milénio, o objetivo de fazer voos espaciais suborbitais. O objetivo é tornar mais acessível sentir aquilo a que os astronautas sentem — a gravidade zero — e mostrar a Terra do espaço. Isto se tiver umas dezenas de milhares de euros para gastar num destes voos. Por outras palavras, o primeiro a conseguir vai ser pioneiro a mostrar que este modelo de negócio está finalmente pronto para levantar voo.
Seja Branson ou Bezos a ganhar a corrida, é preciso referir Musk. Da mesma maneira que os EUA foram à Lua para ganhar a corrida espacial que estavam a perder — os russos foram os primeiro a pôr um mamífero a orbitar a terra (a cadela Laika) e a pôr o primeiro homem (Gagarin) e mulher (Valentina Tereshkova) no espaço –, Musk, com a sua empresa SpaceX, poderá ir ainda mais além e pisar o planeta vermelho.
Quem são estes multimilionários que querem ir ao espaço e que empresas fizeram para o fazer?
Jeff Bezos
Valor da fortuna: 200 mil milhões de dólares (cerca de 168 mil milhões de euros), segundo a Forbes.
Empresa espacial que fez para ir ao espaço: Blue Origin
Jeff Bezos nasceu em Albuquerque, no estado do Novo México, nos EUA. Tem 57 anos e é o homem por detrás da Amazon, a maior loja de compras online e um dos maiores prestadores de serviços na nuvem (na Cloud) do mundo. Nos últimos anos, tornou-se um magnata amado por uns e odiado por outros. Independemente das opiniões, revolucionou a forma como fazemos compras online, isto numa altura em que não se tinha confiança no modelo de negócio. Além disso, à semelhança dos outros multimilionários desta lista, o próximo objetivo do multimilionário passa por tentar ficar mais perto de outros planetas.
De vendedor de livros ao mais rico do mundo: o legado de Jeff Bezos
O percurso de Bezos até aqui tem mostrado que chegar ao espaço é uma das suas ambições. E poderá fazê-lo quando já não for presidente executivo da Amazon: vai abandonar o cargo a 5 de julho, exatamente 27 anos depois de ter fundado a empresa. Prova desta ambição é a Blue Origin. Fundada em setembro de 2000, a empresa, à semelhança da Virgin Galactic, tem como principal propósito fazer voos suborbitais para que qualquer pessoa possa saber o que é a gravidade zero. A longo prazo, o objetivo das duas é fazer aquilo que a SpaceX tem feito: tornar o acesso ao espaço mais fácil.
Richard Branson
Valor da fortuna: Cinco mil milhões de dólares (cerca de 4,21 mil milhões de euros), segundo a Forbes
Empresa espacial que fez para ir ao espaço: Virgin Galactic
Richard Branson nasceu em Londres, no Reino Unido. Tem 70 anos (quase 71, faz anos em julho) e é o homem por detrás do Virgin Group. Esta é uma cadeia de empresas que, apesar de ser mais conhecida pela companhia aérea Virgin Airways, detém desde hotéis a estúdios de música e até “mega lojas” (megastores). O percurso que fez levou-o a ser condecorado pela Rainha de Inglaterra com o “título de sir”. É o mais velho dos três, mas isso não demove o multimilionário de usar o dinheiro que tem para poder ir ao espaço.
Se na década que arrancou em 2010 foi o nome de Jeff Bezos que se tornou mais sonante, na que começou em 2020 parece que Elon Musk segue o mesmo caminho e, antes destes, aconteceu o mesmo com Branson em 2000. À semelhança dos congéneres, este último foi satirizado na série de animação “The Simpsons” e o empreendedor foi citado como sendo a próxima esperança para a conquista da humanidade do espaço. Por detrás dessa missão está a Virgin Galactic, que agora voltou a estar nas bocas do mundo,
Fundada em 2004, há vários anos que esta empresa promete levar Branson e outros corajoso com dinheiro ao espaço. Desde 2008, há 13 anos. Contudo, os voos têm sido adiados e a empresa perdeu protagonismo em relação à Blue Origin e à SpaceX. Isto até ao anúncio de Bezos, que pode pôr a Virgin Galactic de novo em altas.
Elon Musk
Valor: 154 mil milhões de dólares (cerca de 130 mil milhões de euros), segundo a Forbes
Empresa espacial que detém: SpaceX
Elon Musk nasceu em Pretória, na África do Sul. Tem 49 anos (quase 50, faz anos no final de junho) e é o homem por detrás da Tesla, a empresa de carros elétricos que mudou a indústria automóvel, e outras entidades, como a Boring Company ou a Neuralink. Destes três multimilionários, Musk é capaz de ser o mais excêntrico, mesmo com Branson e Bezos a serem ambos conhecidos pelo mesmo adjetivo. Musk, além de estar a criar que guiam autonomamente, pôr chips no cérebro de porcos e auto-intitular-se como o tecnoking da Tesla, em 2018 vendeu — literalmente — lança-chamas para criar túneis de alta-velocidade.
“É como uma Fitbit no vosso crânio”. Elon Musk divulga implante neural
Entre outros projetos, Elon Musk é o homem por detrás da SpaceX. Nos últimos anos, esta empresa tem batido a Virgin Galactic e a BlueOrigin na missão de tornar mais acessível a conquista do espaço. Contudo, o seu propósito não é só o de levar qualquer pessoa a sentir o que é a gravidade zero, é revolucionar todo o setor espacial. A SpaceX foi fundada em 2002 por Elon Musk, quando o empreendedor ainda era conhecido por ser o homem por detrás do Paypal. A empresa espacial tem conseguido ser a empresa mais falada quanto à conquista do espaço porque foi a que conseguiu um contrato com a NASA para levar os astronautas e satélites para o espaço, o que permitiu aos EUA deixaram de estar dependentes das naves Soyuz, da Rússia.
Musk é conhecido por fazer surpresas, mas, ao que parece, e por a SpaceX ainda não estar no negócio de viagens privadas suborbitais, não se tem envolvido publicamente nesta corrida entre Bezos e Branson.
Que outros multimilionários é que já foram ao espaço?
Nem Branson, nem Musk, nem Bezos serão o primeiro multimilionário a ir ao espaço. Mas um deles será o primeiro a ir numa nave que construíu na sua própria empresa. Isto porque, em 2001, houve outro milionário que pagou para ser o primeiro “turista espacial”: Dennis Tito. O empreendedor norte-americano terá desembolsado cerca de 20 milhões euros para visitar a Estação Espacial Internacional (EEI), tendo ido para o espaço como engenheiro de bordo — a sua área de formação –, numa nave russa Soyuz, e passado sete dias sem gravidade.
Tito não foi o único multimilionário a pagar um valor astronómico para se sentir um astronauta. Mark Shuttleworth pagou mais ou menos o mesmo que Tito para também poder visitar a EEI logo no ano seguinte, em 2002. Até 2009, houve outros seis milionários a entrarem em naves Soyuz para verem a Terra do Espaço: Greg Olsen, Anousheh Ansari, Charles Simonyi, Richard Garriott, Charles Simonyi (que foi duas vezes), e Guy Laliberte. Depois, e também porque as viagens aos espaço viram um retrocesso na última década — em 2001, foi até encerrado o programa dos vaivém da NASA –, o espaço ficou mais calmo. Não obstante, a vontade de lá ir continua a existir.
Este sonho de ir ao espaço não é uma coisa que só acontece noutros países. Em 2006, como contaram vários órgãos de comunicação social, o dono da Douro Azul, o portuense Mário Ferreira, declarou que ia ser o primeiro português a ir ao espaço. Na altura, contava com a Virgin Galactic para, em 2008, ir no primeiro voo — que não aconteceu. Ao todo, terá desembolsado cerca de 168 mil euros só para garantir um lugar no voo inaugural.
Quem é que vai ganhar esta corrida espacial?
A resposta a esta pergunta depende dos pontos de vista e dos pontos a que se chega. Yuri Gagarin foi o primeiro no espaço, mas Neil Armstrong foi o primeiro na Lua e também ficou marcado na História. Pelas datas que têm sido anunciadas por estas empresas espaciais, deverá ser Branson, a 4 de julho. Contudo, como salienta o The Guardian, nada está confirmado. Bezos poderá ser o primeiro num voo que durará apenas 11 minutos. Ainda não se sabe quem é que comprou o terceiro lugar nesta viagem e que vai acompanhar. Num volte-face surpreendente, pergunta-se: será Bezos? Não se sabe. Mas sabe-se que, a 12 de junho, este terceiro lugar foi comprado por 28 milhões de dólares.
Afinal, onde vai parar o Tesla que Elon Musk enviou para o espaço?
Há aqui um nome que fica de fora, o de Elon Musk, que o que tem feito ultimamente é dar voltas ao mundo das criptomoedas. Com a SpaceX, Musk ganhou a corrida aos contratos com os EUA para que a sua empresa seja a responsável pelos voos da agência espacial. Este multimilionário não tem demonstrado ambição de ir ao espaço nos próximos tempos, nem que seja por uns minutos. Como referiu em 2018 numa entrevista ao Axios, o excêntrico empreendedor quer, um dia, “mudar-se para Marte”. Nessa direção até já enviou um dos seus carros elétricos, um Tesla Roadster. Não se sabe se o carro elétrico ou Musk vão algum dia chegar a Marte, mas a SpaceX prevê lançar a primeira missão com humanos a Marte já em 2024.
Corridas milionárias de parte, o que estes sonhos mostram é há bastante dinheiro para gastar, e para ganhar, nos próximos anos da conquista espacial. Mas não convém esquecer: ir ao espaço é arriscado e o primeiro multimilionário a ir tem de mostrar que consegue voltar. Caso contrário, esta corrida pode parar.