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A primeira semana de campanha da CDU. Os desafios à direita e ao PS numa campanha sobre os males da Europa

Numa semana, João Ferreira percorreu o Algarve, o Alentejo e a Grande Lisboa. Falou de muitos temas — sempre sob o ponto de vista dos males da Europa. E lançou muitos desafios ao PS, PSD e CDS.

Ao final da primeira semana de campanha, a caravana de João Ferreira já cobriu toda a parte sul do país. Com passagens pelos distritos de Faro, Beja, Évora, Setúbal e Lisboa, o cabeça de lista da CDU às europeias decidiu arrancar a campanha nos locais onde a coligação é forte a nível autárquico — tendo sido, aliás, recebido por uma série de autarcas comunistas para almoços e jantares de campanha. Com efeito, até agora, a ação de campanha mais a norte foi um almoço em Sobral de Monte Agraço. Mas, nos próximos “dias decisivos”, após mais algumas ações de campanha na região de Grande Lisboa, a caravana da CDU ruma a norte, com eventos agendados para os distritos de Santarém, Lisboa, Coimbra, Porto e Braga.

João Ferreira aproveitou as passagens da caravana por diferentes locais para trazer à campanha temas tão distintos como o mercado de trabalho, os fundos europeus, a desertificação do interior, a ferrovia, as pescas, a agricultura, as alterações climáticas, o ambiente ou os passes sociais. Mas houve três atitudes transversais a estes sete dias: (1) os constantes desafios lançados a PS, PSD e CDS para que “digam ao que vêm”; (2) o afastamento da campanha de “questões acessórias” e a recusa das trocas de acusações entre candidaturas; e (3) o foco no “essencial” e nas atitudes políticas concretas que podem ser tomadas pelos 21 eurodeputados portugueses — única leitura a fazer do resultado eleitoral, no entender do candidato.

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Foi em Bencatel, após um almoço de cozido de grão no café do “camarada Quim Zé” no qual ouviu as preocupações dos alentejanos da região dos mármores sobre a desertificação, que João Ferreira lançou o desafio a PS, PSD e CDS de se pronunciarem em público sobre o que farão quando a proposta de orçamento comunitário, que corta os fundos de coesão para Portugal em 7%, for votada no Parlamento Europeu. No dia seguinte, em Faro, desafiou de novo os três partidos: “Digam o que fizeram, o que lá andaram a fazer estes anos, prestem contas ao povo como nós fazemos todos os dias”. Depois, em Serpa, num dia dedicado à agricultura, novo repto: em legislatura europeia de reforma da Política Agrícola Comum, que propostas vão apresentar os partidos? João Ferreira já disse que continua à espera de respostas — e que vai interpretar os silêncios como tal.

No mesmo almoço em Bencatel, João Ferreira lançou outro dos temas que o iriam acompanhar durante toda a semana: as divergências “encenadas” entre PS, PSD e CDS destinadas exclusivamente a esconder o facto de, em Bruxelas  — onde o PS não está condicionado à esquerda, votarem alinhados. “Se quiserem embaraçar os candidatos do PS, do PSD e do CDS, façam-lhes uma pergunta: perguntem-lhes em que decisões fundamentais tomadas no Parlamento Europeu nos últimos anos eles votaram de forma diferente uns dos outros”, disse depois em Évora. Jerónimo de Sousa viria depois a usar o mesmo argumento, acusando os três de estarem “juntinhos” no Parlamento Europeu. E, por isso, a caravana da CDU tem recusado durante toda a semana entrar nas discussões à volta das “secundaríssimas diferenças” (como lhes chamou este domingo Jerónimo de Sousa) entre os partidos.

Além disto tudo, numa semana em que foi conhecida a sondagem do Expresso e da SIC que dá à CDU apenas 8% dos votos — e a possibilidade de perder um eurodeputado —, João Ferreira tem apostado num discurso segundo o qual não há vitória ou derrota nestas eleições. “Aqui não é para vencer. É para escolher 21. A decisão é escolher quem se vai sentar nos 21 lugares”, disse João Ferreira a uma eleitora que o interpelou durante uma arruada em Alcochete.

João Ferreira tem optado por escolher um ou dois temas por dia, para ir ao encontro das realidades por onde vai passando, e que marcam a tónica de algumas ações (excepto daquelas que se limitam à distribuição de panfletos pelas ruas). Nos dois primeiros dias, os encontros com os trabalhadores da Autoeuropa e da OGMA trouxeram para a discussão as condições laborais e os apelos à reversão das privatizações de setores estratégicos.

No Alentejo, João Ferreira aproveitou a passagem pela região dos mármores para falar da desertificação e da forma como a gestão dos fundos europeus está na origem de muitos dos problemas da zona. “Só faltou levar o cemitério” viria a tornar-se numa das frases da semana. Ali, lamentou o investimento nas redes ferroviárias transnacionais que “importam à Alemanha” antes de se investir nas ligações regionais de países como Portugal, que ainda precisam dos básicos.

No Algarve, João Ferreira voltou-se para o setor das pescas e apelou ao maior investimento europeu no estudo e investigação dos recursos naturais, para que as quotas da pesca sejam mais adaptadas à realidade. Ali, voltou-se também para o turismo, para defender que o setor não deve crescer à custa dos trabalhadores — e que se há mais turistas e lucros na região, então não se justifica a precariedade em que vivem e trabalham muitos na área do turismo.

De volta ao Alentejo, para uma passagem pelo distrito de Beja, João Ferreira dedicou-se às alterações climáticas (para apresentar cinco propostas da CDU neste âmbito) e à agricultura (para defender uma reforma da PAC que passe pelo incentivo à produção e consumo locais). Durante o fim de semana na Grande Lisboa, o candidato voltou a temas como os passes sociais nos transportes antes de regressar aos desafios e críticas a PS, PSD e CDS.

Alto. A arruada de sábado à tarde em Almada — mesmo que apenas tenha contado com a presença de Jerónimo de Sousa nos últimos metros — foi sem dúvida o ponto alto da semana. Centenas de pessoas, muito barulho e discursos vibrantes tornaram aquela na maior manifestação de força da CDU desde segunda-feira, que encheu o cabeça de lista de otimismo. Outro ponto alto a assinalar é a capacidade de João Ferreira de falar dos temas concretos às pessoas. Raramente se fica pela rama, vai mais fundo, explica o que o Parlamento Europeu pode fazer relativamente a cada problema e detalha as propostas da coligação sem entrar em trocas de acusações com os outros partidos.

Baixo. Zero risco. A CDU está a fazer uma campanha para dentro, junto dos seus e para os seus. É óbvio que o objetivo é fixar o eleitorado, mas fica a dúvida se a estratégia ajuda a conquistar novos votos, para além daqueles que costumam ser certos. João Ferreira quase só põe os pés em terreno garantido. E mesmo encontros “espontâneos” com jovens “sem partido” que fazem perguntas sobre as alterações climáticas, como aconteceu em Alcochete, deixaram no ar a dúvida sobre se não seriam encenação, já que os mesmos jovens participaram na arruada horas depois.

Genericamente, João Ferreira tem atraído pouco entusiasmo na rua. É muito competente na distribuição dos panfletos, detém-se alguns segundos a repetir alguns apelos ao voto na CDU e na necessidade de melhorar as condições dos trabalhadores. Mas a sensação que fica após a passagem das arruadas é a de que ninguém ficou particularmente convencido com a mensagem que lhes deixaram nas mãos.

Tirando quando a argumentação do candidato vai pela via da importância da CDU para condicionar o Governo socialista à esquerda em Portugal, os temas têm sido tratados, na generalidade, sob um ponto de vista europeu. Aliás, João Ferreira tem insistido que o mais importantes destas eleições é a escolha dos 21 deputados — e sempre que lhe perguntam para que serve votar para a Europa, dá exemplos concretos do que pode ser feito a partir de Bruxelas.

Fê-lo quando discutiu com alentejanos sobre os fundos europeus que poderiam contribuir para o investimento nas ligações ferroviárias e rodoviárias na região; fê-lo novamente quando discutiu as pescas e lembrou como foi possível conseguir a nível europeu o financiamento aos pescadores durante as paragens biológicas e como é preciso, no entender da CDU, mudar o método de definição das quotas europeias de pesca; e fê-lo ainda outra vez quando discutiu a agricultura em Serpa e falou das propostas da coligação para a reforma da Política Agrícola Comum.

No plano nacional, João Ferreira procurou associar as vitórias do Governo à pressão da CDU e, sobretudo, evidenciar como todos os cortes e medidas que “prejudicam os trabalhadores” resultam das “recomendações” — que na prática são “imposições”, assegura — da União Europeia, nomeadamente no âmbito do mercado laboral.

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Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, surgiu ao lado de João Ferreira em quatro dos sete dias da primeira de campanha. Quando Jerónimo aparece, a campanha nas ruas muda de rosto e ganha outro ânimo — e a estrutura da coligação sabe isso. Portanto, o líder aparece com frequência, abraça João Ferreira e desfaz-se em elogios ao candidato e à lista “com provas dadas”.

A caravana da CDU foi, das cinco, a que fez até agora menos quilómetros. Primeiro porque, dos primeiros sete dias de campanha oficial, quatro foram passados na área da Grande Lisboa, onde a comitiva de João Ferreira percorreu distâncias relativamente curtas; depois, porque tem seguido uma lógica geográfica na rota, evitando multiplicação de quilómetros. Depois de ter acabado o dia de sábado em Almada com 1.166 quilómetros acumulados, a caravana fez 29 quilómetros na manhã de domingo para ir ao Fórum Sintra, somou mais 54 quilómetros para ir almoçar em estilo piquenique na autarquia CDU de Sobral de Monte Agraço, e fez ainda mais 19 quilómetros até Alhandra, onde encerrou o domingo com um comício ao lado de Jerónimo de Sousa.

Total percorrido desde segunda-feira: 1.268 quilómetros.

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