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À procura de reatar namoro com eleitorado alentejano, CDU aposta forte no ataque a Chega e IL

Paulo Raimundo apareceu na campanha pela segunda vez. Depois de 3 dias de maior contenção nas referências aos opositores, ataques começam a ser ensaiados ainda antes da chegada a Beja, no Barreiro.

“Namorando o seu rapaz, Parece que está zangada, Sentadinha na cadeira, Quem namora sempre alcança, Um beijinho em brincadeira, Dois ou três, que mal faz?”

O tema até pode ter sido escolhido ao acaso, mas é o que vai sendo interpretado pelo Grupo Coral da Mina de S. Domingos quando João Oliveira e Paulo Raimundo entram em cena para dar início a novo comício da CDU em Beja. Candidato e secretário-geral chegam debaixo de uma enorme ovação, o que não impede o grupo de continuar o pequeno concerto. Coincidência ou não, os dois chegam a um distrito perdido pela CDU nas últimas legislativas e que é agora preciso voltar a namorar. O objetivo? Recuperar votos perdidos para ajudar no caminho rumo à meta final: um assento no Parlamento Europeu — um beijinho, em cante alentejano — e se, por acaso, se conseguir dois ou três, “que mal faz?”

Apesar do grupo etário (mais avançado) ser minimamente homogéneo, no comício no Jardim Público de Beja vê-se um pouco de tudo na tarde de quinta-feira. Entre adereços de Che Guevara, bandeiras coloridas da CDU e um número interminável de imperiais, quem por aqui passa pode nem chegar a reparar no idoso que usa um selfie stick para fazer uma transmissão em direto no Facebook, enquanto relata o que vê à sua volta, ou o pequeno senhor de boné que tenta vender rifas a quem consegue apanhar desprevenido. “Não tens moedas? Vai buscar!” grita a quem recusa colaborar.

São 16 horas e o termómetro marca 36 graus, o que não impede mais de uma centena de simpatizantes comunistas — a maioria já reformados — de dizerem presente no comício. Face à boa fé do eleitorado, que parece disposto a dar uma nova oportunidade a este namoro, só resta a João Oliveira agradecer de maneira bem-humorada: “A gente já sabe que com mais calor, tem de se abrandar um bocadinho o ritmo, não pode ser tudo à velocidade acelerada a que os alentejanos estão habituados”.

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O candidato brinca com o assunto, mas para Paulo Raimundo o assunto é muito sério. “Da última vez que aqui estive choveu, agora está sol. É assim, enfrentamos todas as intempéries”. É a maneira encontrada pelo secretário-geral para agraciar a velha resistência comunista. Questionado entretanto pelos jornalistas sobre a possibilidade do ciclo da CDU ter atingido um ponto sem retorno, Raimundo nem pensa duas vezes: “Então, mas não andamos aqui há 100 anos?”

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Se a presença do secretário-geral, pela segunda vez em quatro dias, já é prova suficiente da vontade de vir em busca de um bastião perdido pelos comunistas, a aparição de João Dias, deputado eleito por Beja em 2022, e que não o conseguiu voltar a ser em 2024, não é propriamente surpreendente. É precisamente o enfermeiro que abre o comício, anunciado ao público praticamente como uma velha glória do partido — a prova de que em política, apenas uns meses podem mesmo ser uma eternidade. Debaixo do braço, enquanto sobe ao palco, João Dias traz um documento com 183 nomes inscritos: são os nomes de 183 profissionais de saúde que apelam ao voto na CDU na corrida ao Parlamento Europeu.

O tema dá jeito tanto a João Oliveira como a Paulo Raimundo, mas apenas serve de ponto de partida para o que realmente marca o 4º dia de campanha da CDU: a aposta no ataque político para dar voz ao partido e reconquistar eleitorado. Se é verdade que o candidato comunista tinha garantido que não queria perder tempo em trocas de galhardetes com as restantes candidaturas, também deve ser dito que acabou por arranjar uma abertura para o fazer.

IL, Chega e Marcelo: os golpes sobem de intensidade

Depois de 3 dias de maior contenção nas referências aos opositores, os ataques começam a ser ensaiados ainda antes da chegada a Beja no Barreiro. Desta vez, os visados são a Iniciativa Liberal, o Chega e até o Presidente da República.

João Oliveira começa a apontar à IL num encontro com a Associação Africana do Barreiro, acusando o partido de Rui Rocha de defender a “recolha de dados biométricos e do controlo do movimento das pessoas para saber onde é que está em cada momento cada um dos imigrantes”. Depois, ironiza: “Convenhamos que, para quem se arroga como defensor das liberdades, é uma forma esquisita esta de as defender”.

Alguns minutos depois, em nova ronda de declarações aos jornalistas, a mira vira-se para o Chega. Questionado sobre as declarações de António Tânger-Corrêa, que no último debate televisivo fez uma ligação entre a pobreza dos imigrantes que chegam ao país e o aumento da violência, o candidato da CDU remete para o Estado Novo: “Em 1933 já havia a ideia de que era preciso pôr fim à desordem que era gerada pela pobreza, que os pobres são criminosos por serem pobres”.

Dois rounds, dois knockouts. Já em Beja, o candidato volta aos alvos da manhã, para lembrar que não têm uma única palavra nos respetivos programas políticas sobre o aumento dos salários. Depois, é Paulo Raimundo a atacar o Chega, desta vez na questão das migrações. “Está-se a marimbar para a imigração. É preciso parar com paninhos quentes”, sublinha, antes de ir mais longe, dizendo que o partido de André Ventura usa a imigração ilegal para “puxar para baixo os direitos dos trabalhadores”.

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Pelo meio, há uma breve incursão de ataque ao Presidente da República. Paulo Raimundo considera que Marcelo “foi um bocadinho despropositado” quando pediu um consenso nas contas públicas para evitar uma crise política. “Foram os consensos políticos, naquilo que é fundamental, entre PS, PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal, que nos trouxeram à situação em que nos encontramos”, afirma o líder comunista, apontando ainda que que estes consensos, “na habitação, na saúde, nos salários e nas reformas” são o que verdadeiramente tem “desgraçado o país”. O assunto, ainda assim, fica por aqui — até porque a questão é referente à política nacional, e a CDU, relembre-se, quer focar a campanha nas questões europeias.

À noite, há ainda tempo para uma nova ofensiva. Agora num jantar-comício bastante participado em Melides, no munícipio de Grândola. João Oliveira volta a nomear diretamente o cabeça-de-lista da Iniciativa Liberal, e não perdoa uma palavra. “Há umas semanas, ouvimos o cabeça-de-lista da IL referir-se aos jovens como tendo um fardo às suas costas, o fardo de terem de descontar para as pensões dos seus avós”. Para o comunista, esta não passa de uma “perspetiva cínica de quem olha para as pessoas vendo apenas cifrões”. “Se são novos e têm capacidade de produzir têm utilidade, senão já não têm”, refere o candidato, acusando a Iniciativa Liberal de querer “pôr os netos em guerra com os avós”.

Algures durante este longo 4º dia de campanha, João Oliveira até chegou a pedir a Sebastião Bugalho e Marta Temido que parassem com as “guerras de alecrim e manjerona” que têm protagonizado nos últimos dias, a bem do combate à abstenção, mas os dados já estavam lançados e os adversários do dia estavam bem identificados. Por agora, apenas BE, Livre e PAN escapam às críticas dos comunistas, mas em campanha eleitoral, muita água pode ainda correr.

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