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Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

dpa/picture alliance via Getty I

Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi na liderança do BCE.

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BCE não vacila na subida de juros e coloca as Euribor (com impacto no crédito à habitação) mais perto de superar os 4%

Christine Lagarde enviou mensagem mais agressiva do que se previa, ignorando quem avisa para os riscos de recessão, e deixou claro que juros vão subir novamente em julho. E talvez em setembro também.

O Banco Central Europeu (BCE) não só não está a preparar uma “pausa” no ciclo de subida de juros como “ainda nem sequer começou a pensar nisso“, garantiu a presidente Christine Lagarde esta quinta-feira. Apesar da recessão técnica na zona euro, confirmada há poucos dias, a líder da autoridade monetária do bloco não vacilou e deixou claro – mais claro do que se previa – que em julho virá “muito provavelmente” mais um aumento. E mesmo essa subida de julho pode não ser a última, uma perspetiva que deixa as taxas Euribor mais perto de superar os 4% nas próximas semanas.

Se a subida de 25 pontos base nas taxas de juro, anunciada esta quinta-feira, era um dado mais do que adquirido, poucos estariam à espera de uma linguagem tão agressiva por parte de Christine Lagarde. Foi “uma surpresa”, diz Jörg Krämer, analista do alemão Commerzbank, ver Lagarde a antecipar já aquilo que vai fazer só daqui a seis semanas: as taxas de juro vão voltar a subir em julho a menos que haja uma “mudança significativa” no enquadramento (que o BCE não está a prever que haja).

Embora a maior parte dos analistas já acreditasse que a subida desta quinta-feira não seria a última, a dureza com que Lagarde sinalizou essa subida de julho levou os investidores nos mercados de futuros de taxas de juro a apostarem numa trajetória mais elevada das taxas Euribor, os indexantes que determinam o cálculo das prestações da maioria dos portugueses com crédito à habitação.

“As projeções para as Euribor subiram, apenas ligeiramente, uma vez que o mercado talvez não esperasse uma linguagem tão clara“, diz Filipe Garcia, economista do IMF – Informação de Mercados Financeiros. Ainda assim, o especialista diz que se mantém “o essencial das perspetivas para as Euribor a três, seis e 12 meses, que deverão atingir o máximo perto de 4% entre setembro e outubro”.

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No caso da Euribor a 12 meses, que influencia sobretudo aqueles que contrataram crédito à habitação nos últimos anos (entre 2015 e 2022), essa já está muito perto dos 4%, em 3,965% (valor desta quinta-feira, antes de terminar a reunião do BCE). Filipe Garcia assinala que ainda não se superou os máximos fixados em 9 de março deste ano, de 3,978%, mas esse valor poderá ser ultrapassado agora – e “podemos superar os 4% e os máximos de 2008, embora marginalmente“.

Neste contexto, as famílias com crédito à habitação indexado às Euribor “ainda não poderão sentir um alívio este ano – ou seja, as prestações ainda vão subir” mais. Porém, parece provável que “a pior parte do ajustamento já terá sido feito“, acredita Filipe Garcia.

Euribor a 12 meses está muito próxima de superar os 4%, o que seria um regresso aos níveis de 2008. Fonte: Euribor-rates.eu

Novo aumento em julho é “provável”. Mais um, em setembro, é “possível”

Christine Lagarde não hesitou em pré-anunciar a subida dos juros em julho, provavelmente em mais 25 pontos base que irão elevar para 3,75% a taxa dos depósitos do BCE – a taxa de juro mais relevante, neste momento, para a política monetária. Mas a francesa não se comprometeu com um caminho para o pós-férias de verão, recusando dar quaisquer pistas sobre qual é a “taxa terminal”, isto é, o nível mais alto que os juros vão atingir neste ciclo (começando depois, eventualmente, a descer desse valor).

Porém, poucos minutos depois de terminar a conferência de imprensa da presidente Lagarde, as agências financeiras internacionais avançaram com os comentários das habituais “fontes do BCE”, que confirmaram que ao longo do verão irá haver “um debate sobre um possível aumento dos juros em setembro“. Confirmou-se, assim, que é possível que nem mesmo a subida de julho, a próxima, seja a última – o que significaria, por outras palavras, que a “taxa terminal” poderia atingir os 4%.

Dada a forma como as taxas Euribor (determinadas pelo mercado bancário) têm oscilado sempre ligeiramente acima da taxa dos depósitos do BCE (determinada pelo banco central), um novo aumento dos juros em setembro tornaria uma quase certeza que as taxas Euribor subissem para mais de 4% – e, possivelmente, até mesmo em prazos mais curtos, como a Euribor a seis meses, que neste momento está em 3,818%.

BCE sobe taxas de juro em 25 pontos-base e é “muito provável” que juros voltem a subir em julho também, adianta Christine Lagarde

Anna Stupnytska, economista da gestora Fidelity International, continua a acreditar que “a subida única [adicional] que está a ser prevista pelos mercados, para julho, acreditamos que se tornou um pouco mais provável que a taxa terminal acabe por ser superior a 3,75%, tendo em conta a incerteza significativa que existe em torno do processo inflacionista e o enfoque que os bancos centrais continuam a dar a dados económicos atrasados”.

Felix Feather, economista da Abrdn, concorda: “Acreditamos que o aumento em julho será o último deste ciclo, tendo em conta a moderação recente na inflação. Porém, o crescimento dos salários [dos chamados custos unitários do trabalho] continua a ser muito forte, pelo que há uma probabilidade razoável de termos mais um aumento, em setembro, também“.

Marcelo prevê “pausa” em setembro, mas poderá não ser assim

Os comentários dos analistas mostram que é tudo menos uma certeza aquilo que foi o cenário previsto (ou desejado?) pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, esta quinta-feira. A partir de Londres, Marcelo referiu-se à “pausa” feita na quarta-feira pela Reserva Federal dos EUA na trajetória de subida dos juros, dando a entender que em setembro o Banco Central Europeu (BCE) pode tomar uma decisão semelhante.

“Provavelmente isto quer dizer que, se não em julho, em setembro, o BCE e outros bancos centrais podem acompanhar, não aumentam mais“, afirmou o Presidente da República, considerando a subida já anunciada esta quinta-feira como algo que “não deixa de ser negativo porque tem reflexo nas nossas taxas de juro internas em termos, nomeadamente, de crédito”.

Marcelo Rebelo de Sousa disse, em Londres, que confiava que o BCE também fizesse uma pausa na subida dos juros "se não em julho, em setembro".

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Mas Christine Lagarde voltou a assegurar que enquanto a inflação não der sinais claros de estar a caminhar para o objetivo de 2% então os juros irão subir novamente e irão continuar elevados “por quanto tempo for necessário“. Jörg Krämer, do Commerzbank, acredita que a última subida será mesmo a de julho “mas, depois, é provável que o BCE mantenha a taxa dos depósitos em 3,75% durante muito tempo”.

“Em contraste com aquilo que os mercados estão a antecipar, nós não acreditamos que haverá quaisquer descidas das taxas de juro em 2024, porque irá tornar-se evidente, ao longo do próximo ano, que a inflação [subjacente, a que exclui os preços da energia e da alimentação não-processada, mais voláteis] não irá aproximar-se dos 2%” como o BCE está neste momento a prever.

A posição do analista do Commerzbank contrasta com aquilo que os (voláteis) mercados de futuros de taxas de juro estão neste momento a prever. A expectativa para o “pico” da taxa dos depósitos ronda os 3,79%, o que na prática indica que a maior parte dos investidores aposta numa “taxa terminal” de 3,75% mas há um ligeiro pendor que aponta para que possa atingir os 4%. Os mercados também indicam, porém, que o BCE pode inverter o ciclo em meados de 2024, com uma primeira descida dos juros (que o Commerzbank não antecipa).

A expectativa é que Christine Lagarde possa, no final deste mês, dar mais pistas sobre os próximos passos da política monetária quando presidir à próxima edição do Fórum BCE em Sintra. O evento começa ao jantar de dia 26 de junho, uma segunda-feira, e decorre ao longo dos dois dias seguintes.

Novas projeções macroeconómicas sobem inflação e baixam crescimento

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As novas projeções macroeconómicas do BCE apontam para uma evolução mais gravosa da inflação e, por outro lado, o crescimento foi revisto em baixa.

A inflação irá oscilar numa média de 5,4% em 2023, 3% em 2024 e 2,2% em 2025, antecipa o BCE. Porém, mais preocupante é que mesmo a inflação subjacente (que exclui a energia e os preços da alimentação não-processada) continua em níveis que deixam o BCE desconfortável.

Essa inflação subjacente deverá oscilar perto de uma média de 5,1% em 2023, baixando para 3,0% em 2024 e 2,3% em 2025. Esta revisão surge no contexto das “surpresas altistas” que houve no passado recente e, também, das “implicações do mercado de trabalho robusto” para a trajetória da inflação.

Quanto à economia, a revisão é ligeiramente negativa: um crescimento de 0,9% em 2023 na zona euro, 1,5% em 2024 e 1,6% em 2025.

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