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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carpool Autárquicas com João Teixeira Lopes: "Rui Moreira é muito selfie-made man"

João Teixeira Lopes aceitou a boleia do Observador e tentou desmontar o "mito de competência" de Rui Moreira, o "selfie-made man" que gosta de "malhar em Lisboa". E não esqueceu a "bengala Pizarro".

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João Teixeira Lopes sai da Faculdade de Letras, onde é professor de sociologia, acompanhado pelo diretor da campanha do Bloco de Esquerda no Porto. Depois de nos cumprimentar, leva a mão à cabeça quando o informamos de que o ar condicionado do pequeno Smart do Observador não está a funcionar na perfeição. “Para si, tudo bem. Agora para um tipo gordo como eu…”. Dadas as condições, o percurso não deixa antever o melhor: Faculdade de Letras, Bairro do Aleixo, Cais da Ribeira, Trindade e, por fim, Campanhã. Mais de uma hora de viagem sob um sol abrasador. Mas ninguém acabou desidratado.

O candidato do Bloco de Esquerda enfrenta estas eleições em condições adversas. É um candidato substituto. A primeira escolha do partido foi João Semedo. O antigo coordenador do Bloco, que lutou recentemente contra um cancro na laringe e na faringe, teve de abandonar a corrida por motivos de saúde. João Teixeira Lopes hesitou em aceitar o convite para o substituir, mas acabou por aceder. É a terceira vez que se candidata à Câmara do Porto.

Os bloquistas viram os ventos mudarem drasticamente. Quando se perspetiva uma coligação entre Rui Moreira e Manuel Pizarro, o Bloco de Esquerda tinha tudo para capitalizar a ausência do PS e roubar votos à esquerda. Com a cisão entre os dois, João Teixeira vê, em teoria, as hipóteses de eleger um vereador bem mais reduzidas.

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Apesar das probabilidades jogarem contra o Bloco de Esquerda, há uma garantia que deixa: se for eleito, nunca se coligará com Rui Moreira, a quem não poupa duras críticas por estes quatro anos de mandato. E um casamento com Manuel Pizarro, aceitaria? “Manuel Pizarro não vai ter quaisquer hipóteses de ganhar estas eleições“.

Bairro do Aleixo: “Esta Câmara tem perseguido os toxicodependentes”

Com 47 anos, João Teixeira Lopes é professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e presidente da Associação Portuguesa de Sociologia e tem 23 livros publicados nas áreas da sociologia, cultura e educação. Uma vida dedicada a dar aulas e a estudar as dinâmicas sociais do Porto. E é precisamente por aí que começa a entrevista com o Observador.

É mais fácil ser professor ou estar na política?
Sinto-me relativamente bem nas duas esferas. Acho que é possível, aliás, circular entre elas, mantendo as devidas distâncias.

E os seus alunos compreendem bem?
Muito bem, não tenho qualquer problema em relação a isso. Às vezes até me pedem para ser mais participativo e contar mais da minha experiência política. Nesse aspeto, sou muito da velha guarda. Sou um positivista, não acredito na neutralidade, mas acho que é bom manter as devidas distâncias.

Acha que os seus alunos votam em si?
Ah, não, a maior parte não vota.

Mas porquê? É mau professor?
Embora exista, na juventude, em particular nas juventudes urbanas, uma adesão muito grande ao Bloco de Esquerda, sei que a maior parte não votará Bloco de Esquerda. Vota noutras formações políticas.

Já assumiu publicamente que hesitou antes de aceitar este convite. Porquê?
Sim, hesitei. Não tinha o plano, a intenção, a vontade sequer de ser candidato à Câmara do Porto. Aconteceu porque o João Semedo ficou doente. Mas depois de tomar essa decisão faço-o com total entusiasmo e dedicação.

Mas também foi pai recentemente. Isso pesou na sua decisão?
Pesou. Tenho uma miúda com 16 meses. E faço questão de estar muito presente e de participar naquilo que são as próprias tarefas domésticas. E não queria que a minha mulher ficasse nesta altura desprotegida. Foi preciso, antes de mais, pensar numa solução que não a deixasse desprotegida. Foi preciso ter algum apoio familiar e por isso a minha hesitação veio daí. Uma vez resolvida essa questão, estou aqui com todo o entusiasmo.

"Não tinha o plano, a intenção, a vontade sequer de ser candidato à Câmara do Porto. Aconteceu porque o João Semedo ficou doente. Mas depois de tomar essa decisão faço-o com total dedicação"

A conversa muda de tom quando entrámos no coração do Bairro do Aleixo. É impossível ignorar o cenário grotesco. Há gente a consumir droga a céu aberto, em plena luz do dia. Tudo parece em ruínas. Imundo, cinzento, abandonado. À medida que o carro do Observador cruza as ruas do bairro, todas as atenções se voltam para este corpo estranho num território perdido para a degradação humana e para o tráfico de estupefacientes.

O tema é caro a João Teixeira Lopes: afinal, tem sido um dos mais convictos defensores da criação de salas de consumo assistido na cidade do Porto e de melhores políticas de apoio e reabilitação de toxicodependentes. À medida que íamos cruzando as ruas do que resta do Bairro do Aleixo, o bloquista lembrava a imagem de Rui Rio a beber gin enquanto as torres do Aleixo implodiam, a falta de coragem de Manuel Pizarro para avançar com as salas de chuto e a política de Rui Moreira de “varrer os toxicodependentes da paisagem”.

Chegamos ao Bairro do Aleixo, um dos bairros mais problemáticos da cidade do Porto…
Como se pode constatar, é um bairro que neste momento é uma espécie de sala de consumo assistido a céu aberto. Neste espaço vazio existiam habitações. Como se recorda houve aquele tristíssimo espetáculo de termos Rui Rio, no rio Douro, num barco a beber um gin ou a beber um vinho do Porto, enquanto as torres implodiam. Rui Rio tinha essa ideia, se quiser, muito modernista, perigosamente modernista, muito totalitária de destruição e de construir a cidade nova à sua medida. Mas de uma maneira muito arbitrária: esse modelo de cidade, de cidadão e cidadania era ele que o definia. Implodiu estas torres, com a promessa de que os moradores seriam realojados próximos uns dos outros — e não foram. Foram realojados nas periferias da cidade e totalmente dispersos.

Havia, apesar de tudo, aqui no Aleixo, um sentido comunitário que se perdeu. Agora, há este problema gravíssimo de tráfico de droga. Com a hipocrisia reinante, e agora falo já da atual gestão camarária, que não foi capaz de avançar com uma sala de consumo assistido, temos esta situação altamente degradante, perigosa para a saúde pública, que que deveria ser rapidamente resolvida com uma sala de injeção assistida.

Há condições políticas e sociais para adotar uma solução dessa natureza?
Sem dúvida. Esta câmara recuou nas tímidas intenções que tinha manifestado. Tanto Moreira, como Pizarro, totalmente subjugado a Moreira, disseram que era preciso fazer um estudo. Quando está provado que as salas de injeção assistida são uma parte da solução e são necessárias para a redução de danos e para a redução de riscos. Estas salas de injeção são salas onde, para além das drogas serem administradas por técnicos de saúde, servem para passar algumas mensagens, servem também para retirar da lei cega do tráfico da droga estes indivíduos, que, como se viu aqui, estão completamente ao Deus-dará. A resposta não pode ser a repressão como esta câmara tem feito.

Tem acusado a atual gestão da Câmara de perseguição a toxicodependentes….
Tem acontecido. Eles misturam as campanhas de higiene pública e de sanidade com o varrer os toxicodependentes da paisagem.

São acusações graves…
Estão sustentadíssimas. Falámos, aliás, com várias das instituições que estão no terreno e essas instituições disseram-nos que isso tem acontecido várias vezes. Se há alguma queixa, se há exposição pública, esta câmara quer varrê-la da paisagem e das fachadas. Vai tudo obviamente para outros sítios. Vai tudo para os bastidores. Fá-lo até de uma forma bruta, utilizando a Polícia Municipal, muitas vezes em conluio com a PSP, destruindo os poucos haveres que eles têm, destruindo as poucas recordações que eles têm, fotografias, bilhetes de identidade, etc.

Acredita que há um verdadeiro problema de exclusão social na cidade do Porto?
Existe um problema gravíssimo. Rui Moreira e Manuel Pizarro centraram todas as suas atenções e investimentos no centro da cidade e esqueceram completamente o resto. Há uma cidade invisível onde a exclusão social é imensa.

"Esta Câmara quer varrer da paisagem e das fachadas. Vai tudo obviamente para outros sítios. Vai tudo para os bastidores. Fá-lo até de uma forma bruta, utilizando a Polícia Municipal, muitas vezes em conluio com a PSP"

Caso Selminho: “Isto não é uma campanha suja. É uma questão ética”

Nesta fase da entrevista, o carro do Observador descia a Rua do Aleixo em direção à Rua do Ouro, com vista privilegiada para o Rio Douro. À esquerda, a escarpa da Arrábida, onde se encontram os terrenos que estão na origem do diferendo entre a Câmara Municipal do Porto e a empresa Selminho, que pertence à família de Rui Moreira.

João Teixeira Lopes aproveita a deixa. Aliás, ainda que as perguntas estivessem já previstas no guião da entrevista, é o próprio candidato que se antecipa ao Observador e introduz o tema, apontado pela janela à medida que fala do caso que tem marcado esta pré-campanha eleitoral. Tem o discurso estudado e as palavras saem-lhe como lanças disparadas contra o adversário: para Teixeira Lopes, todo o processo constitui um caso claro de conflito de interesses, de ilegalidades administrativas e maus procedimentos éticos.

O caso Selminho revela a intolerância, a soberba e a vaidade de Rui Moreira, dispara o bloquista:

Naquelas escarpas por onde passámos, há um terreno que, segundo os pareceres da própria câmara, é propriedade autárquica e que segundo os pareceres dos técnicos não pode ser edificável. Não se pode construir. Dois fatores que são objetivos. Acontece que a Selminho adquiriu aqueles terrenos por um preço muito barato e tentou negociar com a Câmara. A câmara, já com Rui Moreira, passou uma procuração, participou numa audiência prévia e prometeu à Selminho uma indemnização ou então uma alteração ao Plano Diretor Municipal [PDM] para que pudesse construir.

Dito de outra maneira: um terreno que valia zero ou próximo de zero vale agora 10 a 12 milhões de euros. Isto não é eticamente aceitável. Sabendo-se que Rui Moreira é um homem de negócios, fez toda a sua vida como homem de negócios, aliás trata a câmara como se fosse um homem de negócios, é esse o seu perfil, não deveria nunca ter passado essa procuração.

"É gravíssimo o que aconteceu. E há uma vitimização por parte de Rui Moreira, porque diz que isto é uma campanha suja. Isto não é uma campanha suja. É uma questão ética"

Qual seria alternativa?
Alternativa seria seguir aquilo que está no PDM e seguir os pareceres dos técnicos da câmara. Este é um terreno da câmara, não há negociação possível. Ao admitir-se uma negociação está a dar-se à Selminho a possibilidade de criar uma expectativa e uma pressão sobre a autarquia para que lhe seja dada uma indemnização. Nunca Rui Moreira poderia ter dado qualquer tipo de expectativa porque isso implica uma alteração do PDM. E uma alteração do PDM tem de passar pelo executivo e pela Assembleia Municipal. E nada disso passou. Aliás, todo o processo foi muito pouco transparente.

Seja como for, esta questão vai ser à partida dirimida por uma comissão arbitral…
Exatamente, mas isso significa que já há da parte da Selminho a garantia de que ou se muda o PDM ou então tem uma indemnização. Sai sempre a ganhar. É um jogo em que só o município perde e só a Selminho ganha. Transformou-se num toque de mágica um terreno que valia zero, num terreno que vale para cima de 10 milhões. É gravíssimo o que aconteceu.
E há uma vitimização por parte de Rui Moreira, porque diz que isto é uma campanha suja. Isto não é uma campanha suja. É uma questão ética. E Rui Moreira, que tanto se gosta de colocar acima dos partidos, acima da baixa política, completamente insuspeito de maus procedimentos éticos, aqui, como noutras questões, teve maus procedimentos éticos.

Acredita que se trata de um caso de conflito de interesses?
Sem dúvida absolutamente nenhuma.

Rui Moreira vai ser penalizado pelos eleitores?
Acho que sim. Acho que os eleitores perceberam duas coisas em relação Rui Moreira: perceberam que houve faltas éticas graves e estão a descobrir aos poucos que Rui Moreira é uma pessoa com muita soberba, com muita vaidade, que gosta muito pouco do debate, que acha que já ganhou as eleições.

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Manuel Pizarro e as eleições: “Não tem qualquer hipótese”

A resposta de Teixeira Lopes leva a nova pergunta, desta vez longe dos limites do caso Selminho. Rui Moreira, garante o bloquista, acha que já venceu as eleições. A questão é precisamente essa: perante a distância que o separa dos restantes candidatos, Moreira não é o mais do que antecipado vencedor?

João Teixeira Lopes perde pouco tempo a ajeitar-se no banco. É de verbo rápido e assume o óbvio: “Rui Moreira é o grande favorito“. E o culpado tem um nome, atira o bloquista: Manuel Pizarro, que, depois dos últimos quatro anos, atirou os socialistas para fora do mapa eleitoral em nome de uma coligação “com a direita monárquica”.

O bloquista, de resto, não tem dúvidas: Moreira e Pizarro estão desejosos para reatar a relação que terminou em maio. Se Rui precisar de Manuel, os dois cairão nos braços um do outro. Já o cenário inverso — Manuel Pizarro vencer as eleições e coligar-se a Rui Moreira — não se deve colocar, preconiza João Teixeira Lopes. Por uma simples razão: “Manuel Pizarro não vai ter quaisquer hipóteses de ganhar estas eleições”.

Ainda assim, e desafiado quatro vezes a responder se estaria disposto a coligar-se com Manuel Pizarro, João Teixeira Lopes nunca deixou escapar um “não taxativo” — não vá o diabo tecê-las. E ainda deixou um recado ao PCP: estarão os comunistas dispostos a coligarem-se com Rui Moreira? O bloquista lembra que a CDU já esteve coligada com Rui Rio e a história vai-se repetindo.

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Diz que Rui Moreira acha que já venceu as eleições. E já ganhou?
É o grande favorito. Mas a culpa é, em grande medida, de Manuel Pizarro, que desistiu do Porto. Quando verificamos que o PS, durante estes quatro anos, desapareceu da paisagem e se entregou completamente à direita monárquica que Rui Moreira representa, percebemos bem que não é possível Manuel Pizarro ter uma vitória, nem proclamar qualquer tipo de alternativa. O próprio Manuel Pizarro diz isto, que acho que é muito elucidativo: “87% do meu programa e do programa do PS está a ser realizado por Rui Moreira”. Então pergunto: qual é o interesse de votar no PS? E que garantia têm os eleitores de que Manuel Pizarro não vai coligar-se a Rui Moreira, se ele não tiver maioria absoluta?

Acredita que é possível essa reedição?
Tenho a certeza que se Rui Moreira precisar de mandatos e de votos vai buscá-los a Manuel Pizarro e que Manuel Pizarro vai querer continuar na mesma coligação. Não tenho dúvidas nenhumas. Nos últimos quatro anos, eles foram um só. Agora há este slogan de “Fazer Pelos Dois”, muito pouco feliz de Manuel Pizarro, mas eles foram um só. E porque é que agora estão separados? É uma questão de lugares. Rui Moreira encheu-se de brios e quis ter em segundo lugar alguém, entre aspas, independente, e Pizarro queria ser o número dois, não queria ser o número três. Só estão zangados por causa disso. Caso contrário, estariam neste momento envolvidos com grande entusiasmo.

E se Manuel Pizarro precisar do Bloco de Esquerda?
A questão tem de ser colocada a Manuel Pizarro, que até agora nunca foi capaz de dizer que não se coligaria com Rui Moreira. Mantém sobre isso um muito conveniente silêncio.

Mas a pergunta que faço é se o Bloco estaria disposto a coligar-se com Manuel Pizarro?
O Bloco de Esquerda quer tirar a maioria absoluta a Rui Moreira. E é o Bloco de Esquerda quem está em melhores condições para tirar a maioria absoluta. O Bloco de Esquerda é a única força política da cidade que diz que não se coligará com Rui Moreira. A questão tem de ser colocada a Manuel Pizarro, que até agora nunca disse que não se voltaria coligar com Rui Moreira. Coloca-se numa situação em que já está fora do jogo e em que se percebe claramente que Rui Moreira é o grande favorito e que o PS aí estará para servir mais uma vez de bengala. Manuel Pizarro nem sequer soube unir o próprio PS. Vários deputados do PS Porto telefonaram-me quando apresentei a minha candidatura para manifestarem simpatia.

Recebeu telefonemas de deputados do PS Porto?
Vários. Não vou dizer nomes, obviamente. Acho que se quisermos ter a certeza de que o voto à esquerda não vai parar novamente à bolsa de Rui Moreira, o voto no Bloco é a esse respeito muito mais esclarecedor.

Deixe-me insistir, e é a terceira vez que o faço, se Manuel Pizarro precisar do Bloco de Esquerda poderá contar com o Bloco?
Acho que é uma questão que não se vai colocar, com toda a franqueza. Manuel Pizarro não vai ter quaisquer hipóteses de ganhar estas eleições.

Uma geringonça à moda do Porto não se repetirá?
Deixe-me dizer-lhe de outra maneira: o Bloco de Esquerda no Porto é quem representa o espírito da “geringonça”. Eu represento o espírito da “geringonça” ao dizer que nunca me coligarei com a direita e ao dizer que não podemos desistir de ter um projeto próprio para a cidade que não seja o da direita monárquica e conservadora de Rui Moreira. Somos só nós. Todas as outras forças admitem coligar-se com Rui Moreira, se necessário.

À exceção da CDU, imagino…
A CDU já esteve coligada, infelizmente, com Rui Rio. A não ser que haja alguma novidade substancial, creio que a CDU admite coligar-se com Rui Moreira. O passado diz-nos que Rui Rio conquistou a sua maioria absoluta cavalgado na CDU.

"Qual é o interesse de votar no PS? E que garantia têm os eleitores de que Manuel Pizarro não vai coligar-se a Rui Moreira, se ele não tiver maioria absoluta?"

Moreira: “Gosta de malhar em Lisboa. Só revela fraquezas”

A temperatura aumenta no interior do carro do Observador. Passam poucos minutos das cinco da tarde, os termómetros na cidade do Porto batem nos 25º graus, as eleições de outubro inflamam o discurso de João Teixeira Lopes e estamos presos no trânsito do Cais da Ribeira há mais de 20 minutos, à mercê do efeito estufa que se abate sobre o Smart.

O candidato bloquista é rápido a apanhar a deixa: “O trânsito é um dos piores problemas da cidade“, afirma, antes de se lançar aos quatro anos de mandato de Rui Moreira. “Não houve a necessária aposta nos transportes públicos”, denuncia o bloquista.

Parques dissuasores à entrada da cidade? Nem único. Zero. Era uma das promessas de Rui Moreira. Soluções para o estacionamento em segunda fila? Rui Moreira, fértil na sua imaginação, disse que ia ter umas motas rápidas da Polícia Municipal para fiscalizar as segundas filas. Pergunte a qualquer portuense: nunca ninguém viu uma mota rápida. Eu nunca vi nenhuma”, garante.

Há mais: “Outro problema gravíssimo é a concessão do estacionamento a privados. Os preços dos parquímetros são absurdos e só metade dos residentes tem acesso a um lugar. Isto transformou-se tudo negócio. Tenho uma filha e, quando vou buscá-la à creche, se preciso de deixar o carro estacionado por cinco minutos, tenho logo um fiscal muito agressivo em cima de mim”.

Qual é a solução? Os parquímetros têm de ser geridos pela cidade e cada residente deve ter direito ao seu lugar. E é preciso uma política de tolerância de 15 minutos para as pessoas poderem estacionar o carro, fazer uma pequena compra, ir buscar a criança ao infantário”, sugere o bloquista.

"Rui Moreira, que tem sempre aquele garbo de bater no peito e de malhar em Lisboa, não conseguiu que a linha de Campo Alegre fosse colocada em execução"

Mas a principal solução para o problema do trânsito da cidade do Porto é aquela que Rui Moreira foi incapaz de fazer cumprir, critica João Teixeira Lopes. Fala da concretização da linha de metro de Campo Alegre, que ligaria a cidade à zona ocidental do Porto e a Matosinhos. A Metro do Porto, que conta com a participação da Câmara Municipal do Porto, acabou por decidir avançar com a ligação entre Casa da Música e São Bento, admitindo, tal como Rui Moreira, que o apoio financeiro disponível não permitia ir mais longe e que era a solução possível. Para o bloquista, no entanto, esta é a mais uma prova que desmonta o “mito de competência” do atual presidente da Câmara do Porto.

“Rui Moreira, que tem sempre aquele garbo de bater no peito e de malhar em Lisboa, não conseguiu que a linha de Campo Alegre fosse colocada em execução. Geralmente, esse tipo de discurso revela fraquezas internas e é despudoradamente populista”. Mais um soco retórico dirigido contra Rui Moreira.

Turismo. “Não podemos deixar que o Porto se transforme num safari permanente”

À medida que deixamos o Cais da Ribeira e nos preparamos para cruzar o centro histórico do Porto, João Teixeira Lopes fala das suas propostas para reduzir o peso da pegada turística na cidade do Porto. É de tal forma assertivo que, por três vezes, obriga-se a dizer: “Não tenho nada contra o turismo“.

É contra a especulação imobiliária que se bate, com a convicção de que não se trata uma luta contra um moinho de vento. “As pessoas já perceberam, acima de tudo, que não conseguem viver no Porto. O turismo e a especulação não podem ser deixados à solta”, sustenta.

Para impedir que o Porto seja engolido e se torne num permanente parque temático pensado e criado para turista ver, João Teixeira Lopes propõe uma solução à Barcelona: “Durante um ano, não haverá mais hotéis no centro histórico da cidade do Porto“.

Uma das suas propostas nesta matéria é a limitação de construção de empreendimentos turísticos na zona histórica da cidade…
Temos duas grandes propostas. Uma é uma moratória. Não haverá, durante um ano, para estudo, mais hotéis aqui no centro histórico. É uma questão de sanidade social. A pressão é muito grande e estes hotéis podem ir para outras partes da cidade que também merecem usufruir da presença dos turistas. Atenção, não tenho nada contra o turismo. O turismo traz emprego, o turismo traz diversidade, o turismo permite dar uma feição mais cosmopolita a esta cidade.

Chegou a usar a expressão “safari de turistas”
Sim, nós temos autênticos safaris de turistas. O pior é que isto se pode transformar num safari permanente. Num grande parque temático. Não queremos isso. O futuro pode ser construído de outra forma e de uma forma em que os que cá vivem podem continuar a viver e que não sejam meros figurantes.

E depois há questão do alojamento local. O alojamento local é uma espécie de cavalo de Tróia dos grandes interesses imobiliários, que compram vários prédios, dizendo que é alojamento local, quando na verdade é puro negócio hoteleiro. O alojamento local é importante, é uma boa fonte de complemento salarial, mas é fundamental que não se confunda o alojamento local com o negócio hoteleiro. Se é um hotel disfarçado e tem de pagar impostos como um hotel e tem de contribuir para mitigar a pegada turística que deixa.

Acredita que os habitantes do Porto podem imitar algum tipo de protestos que se têm feito sentir em Barcelona?
Ainda não. Se falar com as pessoas vai notar que há alguma animosidade perante o stress que tudo isto causa, mas ainda não há qualquer tipo de movimento organizado contra os turistas. Há alguns coletivos no Porto que têm desenvolvido intervenções artísticas — e Ru Moreira tem-se irritado muito com eles — mas da parte das pessoas ainda não existe essa agressividade. Temos evidentemente evitar que isso aconteça.

"Temos autênticos safaris de turistas. O pior é que isto se pode transformar num safari permanente. Num grande parque temático"

Segundo dados do Banco de Portugal, os turistas deixam 33 milhões de euros por dia em Portugal. Fazer uma campanha assente nessas bases é eficaz?
Acho que as pessoas percebem, acima de tudo, que não conseguem viver no Porto. Percebem o que é uma renda média de 600 euros. Percebem o que é a agressividade das agências imobiliárias e dos advogados dos proprietários que todos os dias tentam que as pessoas saiam das suas casas com uma indemnização ridícula. Esta pressão para que as pessoas deixam de cá viver é tremenda. Isto vive da especulação. O turismo e a especulação não podem ser deixados à solta.
E o que é que diz Rui Moreira? Algo que não consigo compreender. Diz que “esta fase foi para que a procura fosse estimulada, agora é que vamos regular”. E por isso é que não impôs a taxa turística que já deveria ter imposto. Nem Manuel Pizarro teve força para a impor.

É a favor da taxa turística?
Sou claramente a favor da taxa turística. Perdemos o equivalente a 10 milhões de euros por ano nestes quatro anos. A taxa turística é uma forma de mitigar a pegada turística e conseguir alguma capacidade de investimento para a câmara.

Mas não funcionará como a fator dissuasor?
Não funciona. Em Lisboa não funcionou. Essa taxa turística tem de existir. E tem de existir nos tais falsos alojamento locais. Estes alojamentos locais que na verdade são negócios hoteleiros têm de pagar também a taxa turística.

Essa medida, por si só, resolverá o problema?
Não chega. É fundamental uma intervenção da câmara de reabilitação urbana. Rui Moreira, por cinco ou seis vezes, anunciou a recuperação de 17 edifícios aqui no centro histórico. Uma migalha de uma migalha. Mas nem esses 17 conseguiu reabilitar. Rui Moreira é muito espetáculo, muito selfie, muito selfie-made man, também…

Também? Está a lembrar-se de mais alguém?
Estou-me a lembrar do nosso Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, evidentemente, por quem eu tenho alguma simpatia, apesar de grandes divergências ideológicas.

Mas falava há instantes do programa de reabilitação urbana…
A Câmara do Porto não só não reabilitou, como deixou de exercer em muitos casos o direito de preferência. No fundo, foi como se a Câmara dissesse: “Isto é um jogo da oferta e da procura, isto é completamente à mercê da especulação imobiliária, nós não exercemos aqui qualquer tipo de regulação. Isto é um sinal claro que se dá ao mercado.

E que propostas tem o Bloco nessa matéria?
Defendemos uma bolsa municipal de habitação que seria alimentada por três grandes fontes: edifícios camarários reabilitados; alguma construção de habitação social — o Porto é o município com maior peso relativo de habitação social, mas é preciso construir muito mais; e uma outra parte seria incentivar uma quota na nova construção que fosse para preços controlados. Não o que Manuel Pizarro defende. Manuel Pizarro defende uma espécie de PPP para a nova construção, em que os privados ficam com o quinhão mais apetecível. Existem já hoje na legislação e no próprio PDM majorações fiscais que podem ser exercidas se a nova construção se comprometer a colocar no mercado a custos controlados determinada percentagem de habitação. Esta bolsa teria estas três fontes.

Quanto é que isto custaria?
Se fosse só alimentada pela taxa turística, custaria 40 milhões no próximo mandato. Mas isto pode-se acrescer também aquilo que seria a receita fiscal sobre o alojamento local — não lhe posso dizer qual, porque a lei ainda não foi aplicada. Mais: sabe quanto é que o Porto tem e não gasta?

66 milhões, segundo as contas do Bloco.
Exatamente, está muito bem informado.

Chegou, inclusive, a classificar Rui Moreira de “Tio Patinhas”. Mantém essa observação?
Mantenho, completamente. Isto vem, aliás, de Rui Rio. Esta ideia de ter os cofres cheios quando a cidade precisa e de que maneira de investimento. Não faz sentido nenhum. O dinheiro no banco não rende. Tem juros negativos.

"Rui Moreira é muito espetáculo, muito selfie, muito selfie-made man"

Partido. “A primeira escolha do Bloco era o João Semedo. Não era eu”

Tempo para a paragem técnica combinada com o Observador. É altura de verificar câmaras e microfones e garantir que tudo estava a funcionar corretamente. O local combinado acabou por ser o gigantesco parque de estacionamento da Trindade.

— Estou a falar pelos cotovelos, não estou?
— Não, ora essa.
— O Rui Moreira vai vos dar a entrevista?
— Sim…
— Estou pasmado, pasmado. Pasmado, mesmo. Ele anda a fugir dos debates…

João Teixeira Lopes ainda tem tempo de tomar um café e de beber água até retomar a viagem. O próximo destino é a freguesia de Campanhã, mas o percurso é longo o suficiente para falarmos de política. É um cartaz do Bloco de Esquerda, em que a figura do candidato bloquista viu a sua fotografia reforçada com um majestoso bigode pintado a marcador que dá o mote à conversa.

Fizeram uma maldade ao seu cartaz…
Fizeram.

Mas acha que foi por motivações políticas?
Não, absolutamente. Eles estão à feição de quem passa e por conseguinte é um pequeno ato de vandalismo muito habitual. Não tem qualquer conotação política.

Neste início de pré-campanha eleitoral tem sido bem recebido nas ruas?
Há um capital de simpatia em relação ao Bloco de Esquerda muito grande. E noto essa diferença porque já fiz campanhas anteriormente e é inegável que somos agora muito melhor recebidos. Mesmo em zonas onde praticamente não fazíamos campanha porque não havia uma boa receção — ou sequer receção –, agora isso faz-se com grande à-vontade. Noto que o Bloco é hoje mais popular.

Acredita que o facto de o Bloco pertencer à atual solução política pode trazer benefícios nas autárquicas? No Porto, mais precisamente.
Acho que sim. Além do mais, as pessoas olham para o Bloco como um partido que, mantendo intacta a sua capacidade de crítica e a sua capacidade de fiscalização de poderes, é também capaz de fazer compromissos.

Há quem discorde dessa ideia…
Sem dúvida.

Há quem diga que o Bloco de alguma forma se domesticou. Concorda com essa ideia?
Não, não concordo nada. Acho que o Bloco manteve intacta a sua identidade. Todavia, fez compromissos e os compromissos mostram que fomos capazes de dar um contributo para colocar travão a quatro anos desmesurado ataque social. E as pessoas reconhecem isso. Mas também acho que se o Bloco não mantivesse intacta a sua capacidade crítica, que mantém, as pessoas notariam isso e isso virar-se-ia contra nós. Este equilíbrio é muito interessante. É novo, está a ser experimentado, é algo que todos os dias se constrói. Mas tem resultado bem.

Já disse em várias entrevistas que o objetivo é eleger pelo menos um vereador, coisa que o Bloco nunca conseguiu…
Nunca conseguimos eleger um vereador. Estou absolutamente convencido que o vamos conseguir. Se o Bloco tiver mais 1%, elege um vereador e tirará a maioria absoluta a Rui Moreira.

Este divórcio entre Manuel Pizarro e Rui Moreira poderá permitir ao Bloco capitalizar votos à esquerda?
Estou convencido que sim.

A perspetiva que existia antes desta cisão, quando Manuel Pizarro e Rui Moreira estavam juntos na corrida, era que o Bloco, aí sim, poderia crescer. Com esta divisão de votos, o Bloco não sairá prejudicado?
Acho que não é prejudicado. A forma como eles se desentenderam foi tão grosseira, ao mesmo tempo evidenciando, aos olhos de todos, que aquilo que se tratava de uma questão de politiquices, de negociata de lugares, esquecendo os projetos e as diferenças, que as pessoas do ponto de vista do voto.

O facto de ter substituído João Semedo, uma figura com uma enorme projeção nacional, tem um peso político…
Sem dúvida. O João Semedo foi coordenador do Bloco de Esquerda, deputado respeitadíssimo, muito combativo, muito forte nos argumentos e que inspira confiança pela sua experiência. De qualquer forma, também tenho dado provas, quer como deputado, eleito e reeleito, quer como candidato, por três vezes, à Câmara do Porto. Mas é difícil substituir João Semedo, claro que sim.

Não tem receio que o facto de não ter sido a primeira escolha, porque não foi, é inegável, possa jogar contra si? Que os eleitores do Porto possam olhar para si como a alternativa que foi possível encontrar naquelas circunstâncias difíceis?
É claro que isso é verdade. Ninguém vai negar isso. A primeira escolha do Bloco era o João Semedo. Não era eu. Não tinha qualquer intenção de ser candidato. Mas fizemo-lo com muita transparência: o João Semedo está doente, os tratamentos que faz não lhe permitem ser candidato e participar numa campanha, eu, como militante do Bloco com algum destaque, estou a substituí-lo. Com competência que consigo mobilizar e com o entusiasmo que tenho. Fomos muito transparentes. Desde o primeiro momento que disse que era muito doloroso substituir João Semedo nestas circunstâncias. Não escondemos nada.

"Ninguém vai negar isso. A primeira escolha do Bloco era o João Semedo. Não era eu. Não tinha qualquer intenção de ser candidato"

Crime: “Não é com medidas securitárias que se resolvem os problemas”

A viagem de João Teixeira Lopes com o Observador aproxima-se do fim, para uma última paragem em Campanhã. À medida que contornamos à Via de Cintura Interna (VCI), o Estádio do Dragão, quartel-general do FC Porto, projeta-se do nosso lado direito. Pergunta obrigatória para qualquer candidato à Câmara do Porto: qual é o número do cartão de sócio?

Não vamos tão longe e perguntámos apenas pelo clube do coração. João Teixeira Lopes encaixa bem a provocação. “Sou do Porto, mas, como não sou hipócrita, devo dizer que não sou apaixonado por futebol. Não vou mentir agora por estar em campanha eleitoral. Não venho aqui todas as semanas, nem estou sempre atento àquilo que se passa no mundo do futebol. Mas sim, se tivesse de lhe dizer uma preferência, dir-lhe-ia FC Porto”.

Não vou fazer a maldade de pedir que me diga o onze do FC Porto no último jogo…
Não sei, não sei mesmo. Não posso fingir aquilo que não sou. Isso era uma violência terrível sobre mim mesmo.

Ainda assim, uma questão sensível — pelo menos, que tem acompanhado a discussão política dos últimos anos no Porto: receberia ou não o FC Porto na Câmara, se o FC Porto fosse campeão?
Claro que sim. É óbvio e da mais elementar justiça. Lá está, isso é um exemplo da feição muito autoritária de Rui Rio. Aliás, só mesmo uma tão má liderança como a de Passos Coelho permite que Rui Rio seja discutido como hipótese alternativa à sua liderança. Quem conhece Rui Rio sabe que ele governa por irritação, teimosia e embirração. Ele embirrou com o FC Porto, embirrou com Pinto da Costa e fez duma questão pessoal, uma questão política. Isso é a pior maneira de governar uma cidade. Agora, compadrios políticos e demasiada proximidade entre futebol e política é de evitar.

Isso já existiu na cidade do Porto?
Já. Já existiu.

E ainda existe?
Não, isso já não existe. Também não vou fazer uma crítica desajustada a Rui Moreira. É um portista apaixonadíssimo — aliás ele diz que tem o sonho de ser presidente do FC Porto. Mas não o vejo a confundir as duas esferas.

"Só mesmo uma tão má liderança como a de Passos Coelho permite que Rui Rio seja discutido como hipótese alternativa à sua liderança"

Vamos à boleia da bola até Campanhã, “uma zona que tem sido sempre esquecida nas mais diferentes governações”, lamenta João Teixeira Lopes. Esta, como outras zonas da cidade, são o retrato das promessas falhadas de Rui Moreira defende o bloquista. “Há muita obra prometida que espera pela sua concretização. Se perguntar a qualquer portuense ‘então qual é a obra de Rui Moreira’ não vai encontrar grande coisa, não vai mesmo”, defende o bloquista.

A parte mais oriental da cidade foi deixada ao abandono, queixa-se o candidato, enquanto vai traçando o retrato de Campanhã. “É uma das zonas onde os indicadores de desemprego são maiores, é uma das zonas onde se concentram mais beneficiários do Rendimento Social de Inserção e onde se concentra uma boa parte da habitação social da cidade por ser uma zona periférica. A lógica dos poderes sempre foi ir retirando aos poucos do centro da cidade e das zonas mais apetecíveis as classes mais populares e colocá-las nas periferias”, argumenta.

“Mas há outros problemas nesta zona”, continua João Teixeira Lopes. “Muitos dos seus bairros de habitação social são dos mais esquecidos. O Bairro do Cerco é o maior bairro da cidade, 2.500 pessoas e não tem obras há cerca de 15 anos. O Bairro do Falcão a mesma coisa. Sendo que no Bairro do Falcão há um problema adicional: a Câmara do Porto tem revelado uma incompetência brutal na execução dos apoios comunitários do Portugal 2020″, dispara o bloquista.

“Isto permite desmontar o mito da competência de Rui Moreira: dos 13 projetos que a Câmara tem apoiados com fundos comunitários só cinco é que estão a ser executados. E o Bairro do Falcão, que tem o apoio comunitário de cerca de 60%, está a marcar passo. Por incompetência técnica e pela política ‘Tio Patinhas’ de Rui Moreira, que não avança com a contrapartida municipal que os fundos exigem. É absolutamente deplorável“, questiona.

Estes bairros estão infelizmente associados à criminalidade. Álvaro Almeida tem trazido esse tema da criminalidade para a pré-campanha. Acredita que há, de facto, um aumento da insegurança na cidade do Porto?
Não. Não há. Os dados dizem que não há aumento da criminalidade.

Álvaro Almeida fala no aumento de crime contra o património…
Não é verdade. Em geral, se olharmos para os dados globais, pode haver um aumento nesse tipo de criminalidade, mas não é muito significativo. No geral, a criminalidade tem descido. E acho que não é boa política, com toda a franqueza, exacerbar uma questão que não é sentida globalmente como um problema grave. Mas onde é que a insegurança é maior? É nos territórios mais pobres. Porque o Estado não se faz sentir aí.
Se formos hoje aos bairros do Porto, verificamos claramente que a Câmara e que o Estado desinvestiram na proximidade. E isso cria um sentimento fortíssimo de insegurança. É como se não houvesse âncoras. A questão da insegurança é também uma questão de falta de serviços públicos de proximidade.

Insegurança no Porto? "Acho que é um tiro no pé do candidato do PSD, que, diga-se de passagem, tem-se especializado nesses tiros no pé"

Mas isso resolve-se como? Concorda, por exemplo, com a ideia de reforçar o contingente da Polícia Municipal?
Acho que era mais importante haver polícia de proximidade. E retirar polícia de trabalho burocrático. É importante apostar naquela polícia que conhece as pessoas, que conhece os territórios, que sabe o nome dos líderes locais, que respeita as várias especificidades. Essa polícia é precisa e pode haver mais. Agora, não é com medidas securitárias ou repressivas que se resolve um problema que é essencialmente um problema social.

Não há o risco de essa deriva securitária de que fala ser aceite pelas pessoas em nome de maior segurança?
No Porto, francamente não noto nada disso.

Um candidato que apostasse nesse discurso ganharia?
Não. Acho que é um tiro no pé do candidato do PSD, que, diga-se de passagem, tem-se especializado nesses tiros no pé. É uma não-questão no Porto e tocar essa tecla é um mau serviço que se presta ao debate público. É tentar ir buscar os medos, é tentar ir buscar alguns sentimentos que nem sequer são partilhados.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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