A avaliação é feita diariamente e muitos centros hospitalares preferem não dizer qual o limite de camas que têm para doentes Covid-19. Não porque seja um segredo de Estado, mas porque alguns dos maiores centros hospitalares do país têm capacidade para se adaptar às curvas da pandemia, abrindo e fechando enfermarias, consoante as necessidades. Na cidade de Lisboa, os hospitais já tiveram de dar resposta ao aumento de doentes, criando mais camas, enquanto no Oeste se admite seguir esse exemplo. Um dos aumentos aconteceu no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital Santa Maria e o Pulido Valente, que não põe de lado a hipótese de aumentar, de novo, os leitos em cuidados intensivos.
Esta quarta-feira, no dia em que a região de Lisboa e Vale do Tejo assistiu à confirmação de mais 1.336 casos positivos (2.362 no país), havia 49 doentes internados no Lisboa Norte. Destes, 35 estavam em enfermarias e 14 em cuidados intensivos.
Fonte oficial diz ao Observador que há duas semanas, em antecipação ao crescimento de contágios, foi aberta mais uma enfermaria, com 21 camas, e criaram-se mais 6 em cuidados intensivos. Frisando que a avaliação das necessidades de camas é constante, a mesma fonte afirma que em Santa Maria poderão, em breve, ser abertas mais 3 para doentes em estado muito grave.
Atualmente, a capacidade dos dois hospitais do Lisboa Norte para receber doentes Covid é de 42 em enfermaria e 16 em unidades de cuidados intensivos (UCI), realidade que pode mudar a qualquer momento. Santa Maria, lembra fonte hospitalar, chegou a ter 300 camas disponíveis em fevereiro, 70 para doentes críticos. Essa capacidade de tirar de um lado — das enfermarias não Covid — para outro é o que tem permitido fazer a melhor adaptação possível às ondas da pandemia. Durante o mês de junho, o centro hospitalar registou dois óbitos.
O perfil dos doentes que chegam ao Santa Maria e ao Pulido Valente também é diferente: são mais jovens do que quando as anteriores vagas da pandemia rebentaram. Se, antes, a maior parte dos doentes tinha acima dos 70 anos, agora a média de idades é de 56. Fonte oficial explica ainda que, neste momento, a média de internamentos é de 5 pessoas por dia, assistindo-se a um aumento da taxa de positividade dos diagnósticos. Se há três semanas, a taxa estava nos 3,6%, a semana passada a média já era de 6%. Agora, a taxa de positividade está nos 9%, ou seja, quase triplicou em 21 dias.
Também os casos que chegam à urgência Covid estão a subir, mesmo que nem todos fiquem internados: a média da última semana está nos 45 doentes, quando em maio era de 40 e em abril de 20 casos. Mesmo sendo doentes mais novos os que agora precisam de hospitalização — efeito da vacinação dos mais velhos — a proporção de doentes críticos mantém-se. Os números absolutos podem ser mais baixos, mas fonte oficial sublinha que a percentagem daqueles que precisam de cuidados intensivos é semelhante.
No outro lado da cidade, no Centro Hospital Lisboa Central — que integra o Hospital São José, Capuchos, Santa Marta, Dona Estefânia e Curry Cabral — estavam, esta quarta-feira, internados 73 doentes Covid-19. Em enfermaria estavam hospitalizados 57 doentes, com uma média de idades de 56 anos. Em cuidados intensivos eram 16 com a média de idades a rondar os 53 anos.
Embora sem precisar quantas, fonte oficial afirma que já foram abertas algumas camas extras, sendo essa decisão tomada consoante as necessidades de internamento, tal como aconteceu nos anteriores picos da pandemia e de acordo com o plano de contingência do centro hospitalar. Os doentes Covid, em fevereiro, chegaram a ocupar 340 camas nos hospitais do Lisboa Central.
No Centro Hospitalar Lisboa Ocidental — que inclui o Hospital de S. Francisco Xavier, o Egas Moniz e o Hospital Santa Cruz — havia 37 doentes internados, 28 em enfermaria (média de idades 51) e 9 em cuidados intensivos (59 anos). Ali, o número de camas já teve de subir de 24 para 32 e esses 8 leitos extra foram criados em enfermaria geral. Os dados são referentes a 29 de junho, terça-feira.
Tal como noutros centros, também aqui se observa o internamento de menor número de idosos face a momentos anteriores da pandemia, com doentes mais jovens, com nenhuma ou poucas comorbilidades, explica fonte oficial.
A resposta enviada ao Observador pelo Hospital Beatriz Ângelo (Loures) diz respeito aos números de 27 de junho: 22 doentes em enfermaria e 9 em cuidados intensivos, todos adultos, sem detalhe da média de idades.
Ainda na região de Lisboa, na unidade que serve Amadora e Sintra, o Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca tinha, na terça-feira, internados um total de 37 doentes, 30 em enfermaria e 7 em cuidados intensivos, com uma média de idades de 58 anos. No total, o hospital tem alocadas para doentes Covid 48 camas de enfermaria e 10 em UCI. Fonte hospitalar explica que há cerca de 10 dias foi feito um reforço de quatro lugares em cuidados intensivos, de forma preventiva, para poder lidar com eventual aumento da pressão.
Esta decisão, garante a mesma fonte, não coloca em causa a assistência e recuperação da atividade cirúrgica ao doente não Covid, já que os sete blocos operatórios se mantêm abertos. Apesar de não existir ainda essa necessidade, o Amadora Sintra está preparado para aumentar a capacidade da UCI Covid em mais 5 camas, para um total de 15.
Neste hospital, o pico assistencial ao doente Covid registou-se a 26 de Janeiro, com 385 doentes internados, 30 em cuidados intensivos. Já o pico de assistência ao doente crítico aconteceu entre 14 e 16 de fevereiro com 42 camas ocupadas nos cuidados intensivos, altura em que havia 212 Covid positivos em enfermaria. Ou seja, a situação atual está muito longe dos momentos de extrema pressão assistencial que se viveu nos três primeiros meses do ano.
No distrito de Setúbal, ainda Área Metropolitana de Lisboa, o Hospital Garcia de Orta registava a 29 de junho um total de 30 doentes internados, 22 em enfermaria e 8 em UCI. Fonte hospitalar garantiu que a enfermaria dedicada a doentes Covid não tinha a sua capacidade esgotada, nem se previa a necessidade de transferir doentes para outras unidades hospitalares.
Quanto às idades, na enfermaria, 12 doentes têm entre 20 e os 59 anos e os demais 18 estão entre os 60 e 80 anos ou mais. Nos cuidados intensivos do Garcia de Orta havia 2 doentes internados com idades entre os 20 e os 59 anos e os restantes na faixa etária entre os 60 e 80 anos ou mais.
Se crescimento se mantiver, Oeste vai precisar de mais camas
A necessidade ainda não se sentiu no Oeste, mas não deverá demorar muito, já que esta quarta-feira o boletim diário da Direção Geral de Saúde dava conta de mais 224 contágios na região, mantendo-se a tendência crescente. No Centro Hospitalar do Oeste, fonte oficial afirma que ainda não foi preciso aumentar o números de camas para doentes Covid, mas assume que em breve isso deverá acontecer. Ali, a 29 de junho, havia 10 doentes em enfermaria, com uma média de 59 anos de idade. Esta unidade não tem cuidados intensivos.
No Centro Hospitalar de Leiria, no mesmo dia, havia cinco doentes internados em enfermaria, com uma média de idades de 72,6 anos (42, 70, 77, 84 e 90 anos). Destes, dois ainda não foram vacinados contra a Covid-19 e dois já receberam a primeira dose da vacina. Até ao momento, a unidade não sentiu necessidade de aumentar o número de camas ou de abrir novas enfermarias, garantiu fonte oficial.
Esta quarta-feira, 30 de junho, havia 6 doentes internados em cuidados intensivos no Centro Hospitalar do Médio Tejo, com uma média de idades de 43 anos, e 4 em enfermaria (48 anos). Até ao momento, afirma fonte do hospital, não houve necessidade de expansão da capacidade instalada que é de 10 doentes em UCI e de outros 10 em enfermaria, podendo expandir-se até às 26 camas em caso de necessidade. Aqui, a proporção de doentes internados em UCI face aos internamentos em enfermaria mostra um aumento para cerca de 15% quando, em janeiro, a percentagem andava entre os 5% e os 10%.
Portugal perdeu o rasto à variante Delta na última quinzena de maio
Segundo Nuno Catorze, diretor do Serviço de Medicina Intensiva do centro hospitalar, “a explicação para esta tendência terá sobretudo a ver com a variante em causa, assim como com a diminuição dos cuidados de proteção individual e de grupo”.
Em Coimbra, no Centro Hospitalar e Universitário, estavam internados 12 doentes Covid em enfermaria e 3 em UCI, na terça-feira. Até à data não houve necessidade de mexer no número de camas.
Mais a norte, também nenhum dos três centros hospitalares contactados pelo Observador precisou, para já, de aumentar o número de lugares destinados a tratar doentes Covid. No Centro Hospitalar Universitário do Porto, a 29 de junho, todos os 10 doentes internados tinham mais de 40 anos e menos de 80, e distribuíam-se de forma igual por enfermarias e cuidados intensivos.
No Centro Hospitalar Universitário de São João, a 30 de junho, havia 22 doentes internados, com uma média de idades de 54,3 anos, 14 dos quais em cuidados intensivos, mantendo-se a procura de internamentos estável. Ali, o limite de camas para doentes Covid e não Covid é dinâmico, sendo feitas as alterações necessárias para responder a cada fase da pandemia. Fonte hospitalar garante que o São João está pronto para aumentar a resposta, se assim for necessário.
Onde também não foi preciso aumentar camas foi no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e no Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga. No primeiro, a 29 de junho, estavam 7 doentes internados em enfermarias e 1 em UCI. No segundo, havia 6 camas ocupadas por doentes Covid em enfermaria geral.