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André Ventura vai ter nas mãos as decisões finais de candidatos, principalmente das grandes autarquias
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André Ventura vai ter nas mãos as decisões finais de candidatos, principalmente das grandes autarquias

LUSA

André Ventura vai ter nas mãos as decisões finais de candidatos, principalmente das grandes autarquias

LUSA

Chega volta a apostar em ex-PSD para autárquicas e Lisboa é motivo de preocupação

As últimas autárquicas são de boa memória para o Chega, ao contrário dos anos que se seguiram em que vários eleitos abandonaram os cargos. Agora, há a crença de que é possível "não cometer erros".

A pouco mais de um ano das eleições autárquicas, o Chega prepara-se para vários desafios — desde logo não cometer os erros de casting que fizeram o partido perder dezenas de autarcas e encarar estas eleições sem o peso do mau resultado das europeias — e está a apostar na tática dos últimos atos eleitorais: procurar descontentes no PSD e dar-lhes o selo do Chega.

A estratégia, segundo dirigentes e deputados do Chega ouvidos pelo Observador, faz ainda mais sentido nas eleições autárquicas, sendo que os sociais-democratas podem trazer uma experiência acrescida às listas, desde logo por já terem conhecimento da realidade da política local. São “pessoas enraizadas” nas suas localidades, “muitas com experiência local”, comenta um dirigente do Chega, frisando que “em 2021 ninguém queria trocar de camisa” e que no contexto atual é diferente. “Irá haver mais gente a chegar de outros partidos”, admite o mesmo dirigente ao Observador, frisando que nas autárquicas “faz mais sentido do que em qualquer outra situação” — e já depois de o Chega ter seguido a mesma estratégia em legislativas e europeias.

Há quatro anos havia “contenção” nas pessoas que se identificavam com o partido e não queriam dar a cara, recorda um deputado do partido, crente de que “não voltará a acontecer o mesmo” agora — até porque os exemplos de pessoas que deixaram outros partidos para se filiarem ou vestirem a camisola do Chega são cada vez mais. No partido acredita-se que se passou de uma fase em que “havia necessidade em arranjar candidatos” para uma fase em que é preciso haver “filtragem e rigor nas escolhas”. “Agora é mais fácil não cometer erros“, remata um dirigente do Chega.

Um ano e meio depois, Chega já perdeu três dezenas de autarcas e admite “erros de casting graves”

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Um ano e meio após as autárquicas de 2021, Bruno Nunes, na altura coordenador autárquico do Chega, reconheceu ao Observador que houve “erros de casting graves” nessas eleições, com a justificação de que era preciso “correr o risco” para que o Chega conseguisse ter presença em todos os boletins de voto do país. Considerava que nos meses e anos seguintes houve uma “seleção natural que não foi possível fazer no início” e que as saídas eram prova disso mesmo: tinham “objetivos pessoais” e quando puderam “aceitaram pelouros” nas câmaras. Na mesma altura, o agora ex-coordenador autárquico e presidente da Comissão de Poder Local e Coesão Territorial da Assembleia da República disse também que “as pessoas percebem que um partido que cresceu de forma rápida tenha tido erros de casting graves“.

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O que foi considerado aceitável, a nível interno, quando o partido tinha apenas dois anos, um deputado único na Assembleia da República e ambicionava dar o salto com aquilo a que André Ventura chamou “implantação” nacional, já não o será agora. É nisso que o Chega está a trabalhar: as distritais e concelhias já foram chamadas a apresentar sugestões para os nomes de candidatos. As comissões autárquicas distritais apresentam as sugestões à Comissão Autárquica Nacional e a direção tem a palavra final — com uma relevância acrescida nas grandes câmaras. O processo já começou, as listas locais devem ser apresentadas até outubro, avaliadas em novembro e em dezembro deverão estar fechados os nomes dos candidatos.

Candidato a Lisboa? "Se não conseguirmos ninguém de fora que justifique, tem de ser alguém de dentro com notoriedade."

Lisboa, uma preocupação e um receio de contaminação

Apesar de o Chega ter conseguido 19 vereadores por todo o país, em Lisboa, que virou à direita com a vitória da coligação encabeçada por Carlos Moedas, não conseguiu os mínimos olímpicos: a eleição de um vereador para a câmara. Na altura, Nuno Graciano, que morreu em dezembro de 2023, foi a grande aposta do partido para a maior autarquia do país e falhou redondamente o objetivo.

Um alto dirigente do Chega reconhece que a escolha de Nuno Graciano, conhecido nacionalmente pela carreira de apresentador de televisão, surgiu pela necessidade de “notoriedade” numa altura de afirmação do partido e quando poucos queriam dar a cara por uma candidatura em nome do Chega. O facto de Graciano, que estava afastado da vida pública, ter aceitado o desafio iria refletir-se, na visão do partido, em votos expressivos. Não aconteceu, nem sequer com uma figura mediática, e a ambição saiu furada.

Quatro anos depois, é outro dos erros a corrigir e um dos que vai causar mais dores de cabeça a André Ventura. Nada está fora de questão: ser alguém de fora ou um elemento do partido. Mas, de acordo com um destacado dirigente do Chega, há uma premissa que deve ser tida em conta: “Se não conseguirmos ninguém de fora que justifique, tem de ser alguém de dentro com notoriedade.”

Nos corredores do Chega fala-se sobre as possíveis apostas de Ventura, sobre se quererá um surpreendente nome independente (ou que venha de outro partido) ou alguém conhecido no partido — permitindo que a pessoa fique exposta numas autárquicas podendo não ter experiência para enfrentar grandes nomes de outros partidos — e sobre as preocupações de uma autarquia tão importante como a de Lisboa. Um deputado do Chega alerta para o facto de uma “má candidatura a Lisboa poder influenciar não só todo o distrito como o país”, sendo que as autárquicas são muito focadas na maior autarquia e um “candidato que não seja especialista em temas locais” poderia ser “muito mau para o partido”.

Há ainda a incógnita sobre os nomes internos e o facto de algum deputado poder ser sugerido para o lugar. Atualmente, a direção do partido tem toda assento no Parlamento, à exceção de Tânger Corrêa, que conseguiu um lugar no Parlamento Europeu, portanto torna-se que difícil escolher um “nome de primeira ordem” do Chega que não esteja na bancada. E isso nem sequer parece ser um problema. Um dirigente do partido reconhece que faz sentido que Ventura aposte num deputado para Lisboa, mas também que “repita nomes de deputados a nível autárquico” — já que vários foram candidatos em 2021 e são vereadores.

Trazer nomes de fora pode ser um "assumir de que os que estão cá são maus", que quem está nas estruturas é "incompetente" e isso pode causar "mal-estar internamente", já que algumas destas pessoas estão "constantemente a trabalhar" para o partido e se nem nas autárquicas foram escolhidas é possível que terminem "frustradas", avisa um conselheiro nacional do Chega.

Os descontentes e o foco nas falhas do passado

De resto, o Chega sabe que terá de lidar com os descontentes que podem perder o lugar para quem vem de outros partidos. Aconteceu nas legislativas, aconteceu nas europeias, mas nas autárquicas poderá ter um impacto muito maior, já que os dirigentes locais e quem trabalha todos os dias na política de proximidade sabe que é nas autárquicas que pode conseguir uma oportunidade. E, desta forma, pode vê-la escapar por entre os dedos na reta final.

Em boa verdade, há no Chega quem desvalorize e esteja crente de que as opções de Ventura serão sempre bem recebidas e também quem não esteja tão confiante. Trazer nomes de fora pode ser um “assumir de que os que estão cá são maus”, que quem está nas estruturas é “incompetente” e isso pode causar “mal-estar internamente”, já que algumas destas pessoas estão “constantemente a trabalhar” para o partido e se nem nas autárquicas foram escolhidas é possível que terminem “frustradas“, avisa um conselheiro nacional do Chega. “Tem de haver equilíbrio“, alerta outro dirigente, justificando que faz sentido que haja nomes vindos de outros partidos, mas que essa seleção tem de ser feita com pinças para que o melindre de militantes e dirigentes locais seja o menor possível.

Uma coisa é certa, Ventura será novamente o homem da palavra final, com foco em dois tipos de locais: câmaras com mais de 100 mil habitantes e autarquias com um orçamento superior a 100 milhões de euros. E se é verdade que o Chega elegeu vários vereadores, deputados municipais e de freguesia a nível nacional, também é verdade que o partido falhou em grandes câmaras como Lisboa, Porto, Setúbal ou Braga, pelo que, agora como terceira força política e com 50 deputados na Assembleia da República, voltar a falhar em municípios tão importantes podia ser (mais) um resultado difícil de digerir depois das europeias — e uma difícil herança para umas futuras legislativas, sejam elas quando forem.

A somar a isso, a esquerda está na expectativa para perceber como o Chega vai gerir a candidatura a Lisboa por considerar que um nome forte poderá ser uma oportunidade de fragilizar a recandidatura de Carlos Moedas, que desde o início faz questão de não contar com o partido de Ventura para a coligação de direita. Mais a mais, nas autárquicas, por um voto se ganha e por um voto se perde, pelo que o PS pode mesmo vir a ser beneficiado com candidaturas fortes do Chega capazes de esvaziar ou simplesmente de dividir a direita, ao conquistar votos ao PSD.

Após umas europeias que funcionaram como um “abre-olhos” para o Chega, Ventura sabe que as autárquicas serão o momento certo para não defraudar expectativas internamente — com muitos interessados em lugares –, mas também para procurar uma implantação nacional mais forte num partido que até às europeias só colecionava subidas eleitorais.

 
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