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epa10529298 The illuminated logos of the Swiss banks Credit Suisse and UBS are displayed on buildings in Zurich, Switzerland, 18 March 2023. Shares of Credit Suisse lost more than one-quarter of their value on 15 March, hitting a record low after its biggest shareholder, the Saudi National Bank, told outlets that it would not inject more money into the ailing Swiss bank.  EPA/MICHAEL BUHOLZER
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MICHAEL BUHOLZER/EPA

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Credit Suisse engolido pelo UBS. Acionistas não foram os que mais perderam. 6 questões sobre o fim do banco centenário

O Credit Suisse acabará absorvido pelo UBS que se torna um gigante cada vez mais sistémico. Na solução encontrada para o banco suíço os acionistas não são os que mais perdem.

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Três chaves unidas no logótipo do UBS pretendem simbolizar três atributos — confiança, segurança e discrição. É assim que se vê o UBS, a maior instituição financeira suíça, que entrou no fim de semana na salvação do rival Credit Suisse. Os reguladores helvéticos, segundo chegou a avançar a imprensa internacional, até admitiram uma nacionalização, mas no final a solução foi acordada a venda ao UBS, que recebe uma garantia pública para eventuais perdas que venha a incorrer com ativos do Credit Suisse, além de ficar com uma linha disponível de crédito de 100 mil milhões.

E assim nascerá um novo banco da associação das duas instituições que será um gigante no setor financeiro, com um risco sistémico ainda mais elevado.

O Credit Suisse assistiu na última semana a uma corrida aos depósitos que têm características especiais. É que o Credit Suisse é um dos bancos dos multimilionários. No final de 2022 tinha mais de 233 mil milhões de francos suíços (pouco menos que os 235 mil milhões se convertidos em euros, ao câmbio atual) depositados por parte dos seus clientes, o que já indicava uma erosão de 160 mil milhões de euros face a 2021. Foi mesmo a fechar 2022 que o grupo avançou com uma recapitalização através de um aumento de capital de 4 mil milhões de euros. Mas bastou um sopro na confiança do sistema bancário vindo do outro lado do Atlântico para os fantasmas em torno do banco suíço aparecerem. E agora sem retorno. O banco já não soprará as velas do 167.º aniversário.

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Credit Suisse viu-se envolvido em escândalos atrás de escândalos

AFP via Getty Images

O que aconteceu ao Credit Suisse?

Fundado em Zurique, na Suíça, em julho de 1856, empregava no final de 2022 mais de 50 mil trabalhadores e tinha um balanço de mais de 500 mil milhões de euros de ativos (quase duas vezes o PIB português). Nasceu às mãos de Alfred Escher, um empresário da ferrovia, que precisava de dinheiro para investir nos caminhos de ferro. E se havia dificuldade em financiamento na Suíça desses tempos, Escher optou por criar a sua própria instituição financeira.

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Ao longo dos anos foi adquirindo instituições financeiras, dos Estados Unidos à Suíça até ficar o segundo maior banco helvético. E foi com a sua força e poder que amealhou clientes e foi fazendo operações, muitas das quais mostraram-se ruinosas. Ao Credit Suisse estão ligados investimentos como o que fez na Greensill ou na Archegos. Em tudo o que perdeu dinheiro aparecia o Credit Suisse. Até em Portugal teve ligações ao Banco Espírito Santo.

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Imparidades atrás de imparidades. Escândalos atrás de escândalos. Foi o centro também do caso que ficou conhecido como Suisse Files, em que foram divulgados por um consórcio de jornalistas alegados envolvimentos do banco em operações de lavagem de dinheiro de políticos corruptos, ditadores, traficantes de droga. São muitos escândalos para conseguir sair deles sem dano.

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Os problemas do Credit Suisse não são novos, mas foram acelerados em 2021 em particular com o colapso da Archegos e da Greensill. A venda de ações continuou. O banco perdeu em negócio, em balanço e em capitalização bolsista. Neste momento está a valer em bolsa pouco mais de 3 mil milhões de francos suíços. No pico, em 2006, chegou a bater nos 80 mil milhões, para perder quase todo o valor nos anos que se seguiram até ser quase varrido da bolsa nestes últimos dias. Em contraponto, o UBS vale hoje em bolsa pouco mais de 53 mil milhões de francos suíços.

Houve contágio dos Estados Unidos ao Credit Suisse?

Ainda março não ia avançado e sinais de alarme surgiram nos Estados Unidos. Primeiro caiu o Silvergate Capital, mais exposto à indústria das criptomoedas, e sem que houvesse qualquer tipo de resgate. Horas depois veio o maior evento daquela que começou a desenhar-se como uma crise financeira 2.0. O banco das startups, o Silicon Valley Bank (SVB), viu acontecer uma corrida aos depósitos, iniciada por uma venda à pressa de títulos do Tesouro norte-americano e com perdas significativas. Já não era tão pequeno para passar indiferente aos reguladores que acudiram a todos os depositantes, mesmo os que tinham mais de 250 mil dólares aí retidos (o limite para o fundo de garantia ser acionado). Os reguladores norte-americanos optaram por cobrir todos os depósitos.

E garantiram o mesmo ao Signature Bank, o terceiro banco a cair em poucos dias. Os reguladores norte-americanos lançaram ainda uma linha de crédito à banca, para estancar a corrida aos depósitos. Mas o First Bank seria o próximo da lista a ter de ser socorrido, desta feita pelos outros bancos. Um conjunto de eventos que a Administração Biden foi garantindo que não iria ter dinheiro dos contribuintes. Os resgates iriam ser feitos à custa do setor financeiro e das taxas cobradas a estas instituições.

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Só que a desconfiança já se tinha instalado. A banca começou a perder em bolsa e daí até à crise de confiança no Credit Suisse foi um instante. Os problemas já vinham de trás. E a reestruturação lançada no quarto trimestre de 2022 não teve tempo de fazer o seu caminho. “Precisava de tempo para implementar o plano de reestruturação”, realçou ao Observador João Queiroz, responsável de negociação do banco Carregosa.

Sendo os depósitos um dos principais mecanismos de financiamento dos bancos — e no caso do Credit Suisse tinha clientes com dinheiro (a gestão de fortunas era das principais áreas de negócio) –, a retirada de capital do banco começou a drenar mais a instituição.

Que solução foi encontrada para o Credit Suisse?

Um fim de semana passou sem que o problema no Credit Suisse fosse ultrapassado, mesmo depois do Banco Nacional da Suíça ter disponibilizado uma linha de crédito de 50 mil milhões de francos suíços. Segundo a Reuters, essa liquidez deverá ter mesmo sido reclamada pelo Credit Suisse, mas não terá sido suficiente. No fim de semana chegou a admitir-se a nacionalização, mas a solução acabou por estar a alguns quarteirões de distância. O UBS chegou a acordo para adquirir o Credit Suisse por cerca de 3 mil milhões de francos suíços, uma ínfima parte do que o banco rival chegou a valer.

Os acionistas do Credit Suisse vão conseguir ficar com ações do banco que resultar da fusão, mas com perdas significativas. Até porque tinham sido chamados em dezembro a acorrer a um aumento de capital. E foi nesse momento também que conseguiu captar investidores novos, como o banco nacional da Arábia Saudita. Aliás foi esse outro dos sinais de desconfiança em relação ao Credit Suisse, quando o seu maior acionista mostrou indisponibilidade para acorrer a novas injeções de capital.

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Agora vai ver a sua posição diluída, ainda que os acionistas do Credit Suisse recebam, pelo acordo alcançado no fim de semana, uma ação do UBS por cada 22,48 ações do Credit Suisse que detêm. Ou seja, a negociação avalia cada ação em 0,76 francos suíços, os tais 3 mil milhões no total.

Mas continuam acionistas. E não perdem todo o capital investido. No entanto, há perdedores. Os reguladores helvéticos optaram por alterar a hierarquização das perdas, e colocaram na primeira linha os detentores de obrigações AT1 (additional tier 1), títulos de dívida com maior risco que, por causa disso, têm uma taxa de juro superior. São 16 mil milhões de francos suíços que são apagados do mapa. Os depósitos continuam garantidos, até porque a atividade do banco continua mas noutras mãos.

O que são as obrigações AT1? Que consequência tem esse apagão?

Os reguladores suíços mudaram as regras a pensar no Credit Suisse. Segundo realça Eric Dor, professor especializado em banca do instituto francês IESEG, o cancelamento das obrigações AT1 emitidas pelo Credit Suisse — “o que surpreendeu porque os acionistas conseguiram manter 3 mil milhões de francos suíços” — foi decidido com base na legislação que foi aprovada de forma urgente, em vez da aplicação dos prospetos divulgados aquando dessa emissão.

O que, acrescenta, “alguns peritos acreditam que vai levar a litigância, considerando poder ser uma não aplicação do contrato. Também poderá ser considerado uma infração aos tratados de investimentos bilaterais no que respeita à proteção dos investidores”.

Additional Tier 1 são obrigações que embora sejam dívida são instrumentos considerados para efeitos de rácio de capital, sendo os famosos CoCos (que foram emitidos em Portugal também) um desses instrumentos. São convertíveis em capital.

Aliás, foi a opção tomada pelo sistema regulatório suíço que levou a que os investidores penalizassem no início da sessão desta segunda-feira as ações ligadas à banca. O BCE e os reguladores da zona euro acabaram por fazer um comunicado, alertando para o facto de na zona euro esses investidores não serem os primeiros a perder num resgate bancário. O comunicado conjunto do BCE, da EBA (autoridade Bancária) e do mecanismo de único de resolução não deixa dúvidas:

O quadro legal em vigor para as resoluções na União Europeia recomendado pelo Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira e implementado depois da grande crise financeira estabeleceu a ordem de acordo com a qual acionistas e credores de bancos em dificuldade devem suportar as perdas. Em particular, os instrumentos comuns de capital são os primeiros a sofrer perdas, e só depois se irá ao Additional Tier 1. Esta abordagem tem sido consistentemente aplicada nos casos passados e continuará a ser o guia das ações do Mecanismo Único de Resolução e do BCE em intervenções de crise. O AT1 são e continuará a ser uma importante componente da estrutura de capitais dos bancos europeus.

Em Portugal há bancos que emitiram AT1, para reforçar os seus capitais próprios. A Caixa Geral de Depósitos também tinha instrumentos destes mas já os reembolsou, diminuindo os juros a pagar. Novo Banco e BCP são outras instituições que utilizam AT1 para garantir reforço de capital. Segundo dados do BCE, as instituições nacionais tinham no final do terceiro trimestre de 2022 um total de 15,84 mil milhões de euros em capital Tier 1 e 15,290 mil milhões de euros em CET1, o que significa que a diferença entre os dois valores é o total de AT1, ou seja 550 milhões de euros.

Mas o que o BCE e as autoridades da zona euro quiseram expressar, com o comunicado, foi a de que os credores não são os primeiros a ser chamados em caso de dificuldade, como aconteceu na Suíça. Continuam a ser primeiro os acionistas.

epa10526668 European Central Bank (ECB) President Christine Lagarde addresses a press conference following the meeting of the ECB Governing Council in Frankfurt am Main, Germany, 16 March 2023. European Central Bank raised key interest rates by 0.5 percent over fears of inflation amid turmoil in the banking sector after the American bank SVB (Silicon Valley Bank) collapsed and the difficulties of Credit Suisse bank.  EPA/FRIEDEMANN VOGEL

Christine Lagarde assegurou na última quinta-feira que a banca da zona euro estava sólida e resiliente

FRIEDEMANN VOGEL/EPA

Foi esta hierarquização que mereceu a desconfiança dos investidores, admite João Queiroz, que admite também que esta situação vai originar litigância. Segundo a Bloomberg alguns dos investidores com AT1 são a Pacific Investment, a Ivesco e a BlueBlay, acrescentando a agência noticiosa que esta decisão helvética coloca sob pressão um mercado total (de AT1) de 275 mil milhões de dólares. Esta foi mesmo a maior perda nestes credores desde que o Banco Popular, em Espanha, passou para o Santander, por um euro. Os acionistas do Popular perderam tudo, mas os credores deste tipo de ativos viram eclipsar-se 1,35 mil milhões de euros.

Não se sabe se há instituições portuguesas com AT1 do Credit Suisse. O Banco de Portugal contactado pelo Observador não deu qualquer informação. Os bancos têm dito que a sua exposição ao Credit Suisse é pequena ou até negligente. Mas valores não são revelados.

O acordo tem mais implicações?

Além da compra pelo UBS com perda para os credores de AT1, o negócio pressupõe uma garantia de 9 mil milhões de francos suíços para o UBS suportar perdas que tenha de registar com os ativos do Credit Suisse. Para Eric Dor, “deverá ser suficiente tendo em conta a informação disponível. Mas é certo que existem ainda muitas litigâncias relacionadas com o Credit Suisse, mas já foram constituídas muitas provisões pelo que o máximo de perdas adicionais esperadas é de bem abaixo de 9 mil milhões”. João Queiroz, não conseguindo dizer se os 9 mil milhões são suficientes, recorda que o banco tem vindo desde o ano passado a isolar determinados ativos e a avançar com algumas reestruturações. “Algum trabalho tem vindo a fazer”, realça.

Só para termos uma comparação. Aquando da resolução do Novo Banco, foi criado um mecanismo de capital contingente suportado pelo Fundo de Resolução (com garantia pública) de 3,9 mil milhões de euros para perdas potenciais, valor que foi praticamente todo utilizado.

Mas estes 9 mil milhões só serão acionados numa segunda fase, já que as primeiras perdas detetadas serão suportadas pelo UBS num total de 5 mil milhões de francos. Só depois a garantia pública será acionada. A justificação para a existência desta almofada foi a de se ter de fazer o acordo sem que houvesse tempo para as auditorias necessárias.

Além dessa garantia, os reguladores suíços disponibilizaram uma linha de liquidez adicional de 100 mil milhões de francos suíços. Um valor elevado.

Um banco demasiado grande?

Com esta compra do Credit Suisse pelo UBS formar-se-á um banco gigante. Em comunicado, o UBS refere que a junção dos dois bancos coloca no mesmo saco ativos de clientes totais de 5 biliões de dólares. Claro que não ficará só pelo “too big”. Haverá dor, admite João Queiroz, que pensa nos trabalhadores e balcões redundantes, além de outros custos administrativos. O UBS estima que a combinação dos dois negócios deve gerar reduções de custos numa base anual de mais de 8 mil milhões em 2027. E já garantiu que a componente de banca de investimento é para ser reduzida. “Deixem-me ser claro. UBS planeia reduzir a unidade de banca de investimento do Credit Suisse e alinhá-la com a nossa cultura de risco conservadora”, esclareceu Colm Kelleher, presidente do UBS, citado pela Bloomberg.

Ainda que o destino seja de redução nas áreas do Credit Suisse, o banco UBS vai ficar maior. Eric Dor não tem dúvidas: “A consequência é a criação de um banco muito grande que será mais sistémico a nível global, aumentando as necessidades para o Estado caso tenha de o resgatar no futuro se tiver novos problemas, reforçando a concentração de risco. Isto se as lições da crise financeira tiverem sido esquecidas”.

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